Glossário

5 0 0
                                    

Glossário
antiplástico: elementos minerais ou vegetais misturados na argila da cerâmica para
diminuir as sucessivas dilatações e retrações que provocam a quebra dos potes durante a
queima. O antiplástico mais comum é provavelmente a areia silicosa. No entanto, os
sambaquianos do Nordeste utilizavam concha queimada. Na Amazônia, certas populações
empregavam cinzas das cascas de certas árvores (cariapé) ou espículas silicosas que compõem
o esqueleto de esponjas ɻuviais (cauixi). Vários grupos Tupiguarani utilizavam cacos moídos
ou grãos de hematite misturados com areia.
arte rupestre: graɹsmos pintados ou gravados em paredes rochosas, em blocos tombados ou
matacões A maioria dessas manifestações não pretendia ser obra de arte, mas transmitir
informações, tais como hoje fazem os sinais de trânsito, as bandeiras e as letras organizadas
numa mensagem.
camada arqueológica: estrato ɹno de sedimento no qual se encontram vestígios da
presença humana, contemporâneos entre si, ou abandonados durante um curto período de
tempo.
carbono-14: ver datação e radiocarbono
chopper: instrumento robusto de pedra lascada; geralmente um seixo (ver seixo) do qual
uma beirada foi lascada para produzir um gume cortante.
coivara, agricultura de: agricultura praticada em pequenas clareiras abertas na mata; a
madeira cortada e seca é queimada no ɹnal da estação seca, e as cinzas servem de adubo
para os solos tropicais geralmente pobres; as maiores árvores são preservadas, proporcionando
sombra às plantas jovens e diminuindo o impacto das chuvas, para evitar a erosão; planta-se
grande variedade de cultígenos em associação, aproveitando- se suas características e
limitando o desenvolvimento das pragas; depois de três ou quatro anos, a terra se esgota, e a
roça é abandonada por outra, aberta a certa distância; a mata se recupera aos poucos nas
antigas roças, que servem ainda alguns anos como local de colheita e de caça (pois as plantas
abandonadas ainda se reproduzem e atraem os animais); a agricultura de coivara permite
regenerar a mata dentro de 30 anos, mas exige que apenas cerca de 10% das terras
agriculturáveis de mata sejam explorados no território num mesmo momento, limitando
assim a densidade de habitantes que o território pode sustentar.
datação: estimativa da idade dos objetos ou das camadas arqueológicas onde estes estão
preservados. A datação é absoluta quando se sabe a idade real, por meio de uma análise
físico-química; por exemplo, a camada 7 do abrigo nº 6 de CercaGrande é datada em 9.700anos; indica-se geralmente a margem de erro prevista, sendo que o número de anos pode ser
antes de Cristo (a.C.) ou antes do presente (AP); escreve-se, por exemplo, 6.700 anos, ± 75
anos AP.
A datação é relativa quando se sabe apenas a ordem de sucessão. Por exemplo, os “homens
de Lagoa Santa” são anteriores às populações Sapucaí, que, por sua vez, aparecem antes das
populações Tupiguarani; ou, a fácies rupestre Ballet é posterior à Tradição rupestre Planalto.
Os métodos de datação absoluta mais utilizados pelos arqueólogos são os do radiocarbono
(para matérias orgânicas) e de termoluminescência (para minerais queimados). Existem vários
fatores de erro (contaminações, problemas no momento da coleta, seleção de amostras
inadequadas, erros estatísticos etc.) fazendo com que as datações absolutas isoladas
precisem ser conɹrmadas por outros métodos. O principal método de datação relativa é a
análise estratigráfica das camadas arqueológicas.
DNA: material genético contido nos cromossomos; em casos excepcionais, o DNA
mitocondrial (mtDNA, transmitido exclusivamente por linhagem feminina, ou seja, de mãe
para ɹlhos) preserva-se no colágeno dos ossos durante milhares de anos; quando isso ocorre,
pode-se tentar a análise genética das populações pré-históricas; trata-se de uma técnica
ainda experimental em arqueologia.
estratigrafia: sequência das camadas geológicas e/ou arqueológicas; numa estratigraɹa
normal, as camadas mais recentes estão por cima das mais antigas, do mesmo modo que,
num empilhamento de pratos, os que estão por cima foram colocados por último; a
estratigraɹa permite saber a cronologia relativa de deposição dos vestígios arqueológicos.
Distúrbios podem provocar erros de interpretação, se não forem reconhecidos durante a
escavação.
fauna pleistocênica extinta: a palavra fauna designa o conjunto dos animais que vivem ou
viveram numa determinada região durante um período determinado; houve vários tipos de
associações faunísticas ao longo dos tempos geológicos, sendo a fauna atual característica do
período holocênico (os últimos 10.000 anos); antes disso, durante o período chamado
Pleistoceno (entre 2.000.000 e 10.000 anos atrás), havia na América do Sul muitos
animais que não existem mais, entre eles, preguiças gigantes, tatus enormes, pequenos ursos
e cavalos diferentes dos atuais; nota-se que nunca houve mamutes no Brasil, pois o clima
não era bastante frio para esses animais; em compensação, havia mastodontes, animais
bastante parecidos com os elefantes atuais; a fauna pleistocênica extinta é, portanto, o
conjunto dos animais que povoou o Brasil naquele período, mas não existem mais; de fato,
todos esses animais não desapareceram exatamente ao mesmo tempo; algumas das espécies
se extinguiram há mais de 15.000 anos, enquanto outras podem ter sobrevivido algum
tempo durante o início do Holoceno; outros animais que já ocupavam o Brasil há mais de
10.000 anos, sobrevivem até hoje, como veados, antas, onças e muitos animais menores;
nem todos os que viveram nos tempos pleistocênicos, portanto, tornaram-se extintos.
fóssil: esta palavra tem vários sentidos; significa:
a) extinto – um cavalo fóssil, por exemplo, é um cavalo de uma espécie que não existe mais;
todas as espécies de mamutes ou de preguiças gigantes são hoje fósseis;
b) ossos (ou outra parte corporal) mineralizado: um osso depositado em lugar favorável perde
sua parte orgânica (o colágeno), mas esta pode ser substituída por matérias minerais; o osso
torna-se então, como pedra, indestrutível; esse fenômeno de fossilização (por mineralização)
é frequente nas grutas, em regiões calcárias, onde a água impregna os ossos, trazendo
carbonatos dissolvidos; caso a água evapore, o carbonato precipita e se ɹxa nas porosidades
do osso;
c) diz-se também dos objetos recobertos por uma camada de sedimento e, portanto, ɹxados
no local onde foram abandonados, que se tornaram fósseis.
fuso, peso ou rodela de: instrumento destinado a torcer ɹbras para preparar linhas de
algodão ou lã; é formado por uma vareta à qual se imprime um movimento giratório,
continuado por um volante discoidal ou bicônico (dito rodela ou peso do fuso).
Holoceno: período geológico atual, iniciado cerca de 10.000 anos atrás; os climas atuais
instalam-se, assim como as faunas modernas; sucede ao Pleistoceno.
“homem de Lagoa Santa”: designa uma população biológica que pertence à nossa espécie
(Homo sapiens) e viveu na América do Sul entre 12.000 e 8.000 anos atrás; apresentava
características físicas bem diferentes das dos índios modernos, os quais são mais parecidos
com os povos orientais.
Homo sapiens: Homo é o nome do gênero; sapiens, o nome da espécie; a espécie humana
Homo sapiens é hoje a única que existe na Terra; anteriormente, houve outras, como os
Homo neanderthalensis (os neandertalenses) e os Homo erectus; dentro da espécie Homo
sapiens, existem populações biologicamente diferenciadas; o Homo sapiens, provavelmente de
origem africana, apareceu cerca de 100.000 anos atrás.
lascamento: processo de trabalho da pedra aplicado a rochas duras, porém frágeis (como o
sílex e o quartzo), que, quando recebem um choque, comportam-se como o vidro. O
lascamento controlado permite obter rapidamente, e com pouco custo, gumes muito
cortantes, tanto na lasca destacada do bloco de matéria-prima quanto na borda deste. As
facas de pedra, por exemplo, são obtidas por lascamento.
picoteamento: técnica de trabalho da pedra que permite, com alto investimento de tempo
e esforço, obter formas côncavas (recipientes) que o lascamento não consegue produzir; criasuperfícies rugosas, porém mais regulares que o lascamento e próprias a facilitar a retenção
de uma pedra num cabo; utilizado também na elaboração de gravuras rupestres, criando
efeitos de cor e textura.
Pleistoceno: período geológico entre 2.000.000 e 10.000 anos atrás; foi marcado por
grandes mudanças climáticas no mundo todo; nas latitudes altas, ocorreram os fenômenos
conhecidos como glaciações; nas regiões quentes, as oscilações afetaram sobretudo a
pluviosidade; no ɹnal do Pleistoceno, por exemplo, o clima de Minas Gerais era muito mais
seco que o atual, enquanto o do Piauí era bem mais úmido; as temperaturas eram também
mais baixas, mas não a ponto de haver geadas em MinasGerais, a não ser, talvez, nos pontos
mais altos das serras do Mar e do Espinhaço; grandes animais pastavam então nas imensas
extensões de cerrado e de pastos (ver fauna pleistocênica extinta).
polimento: técnica de trabalho da pedra, por abrasão; a peça é esfregada sobre um bloco de
arenito (rocha formada por grãos de areia compactada, parecida com uma lixa), de granito
ou de gnaisse, até adquirir a forma desejada; a superfície resultante brilha, porque reɻete a
luz; trata-se de uma técnica simples, porém demorada e cansativa; é particularmente
adequada para obter gumes biconvexos resistentes – como os das lâminas de machado – ou
superfícies bonitas para adornos.
ponta de projétil: extremidade de uma lança ou ɻecha, destinada a perfurar o alvo; pode
ser de pedra, osso ou madeira; as pontas de pedra são feitas a partir de uma lasca, retocada a
seguir por percussão e pressão; possuem em geral um pedúnculo para o encabamento; o
dardo agarra no corpo em razão das aletas laterais, que facilitam a perda de sangue e ɹxam
o dardo ao corpo da presa.
radiocarbono: primeiro método de datação absoluta, desenvolvido em 1949; avalia a
radioatividade residual dos corpos mortos; com efeito, os seres vivos (vegetais e animais)
ɹxam partículas de carbono, algumas das quais (sempre na mesma proporção) vêm do
espaço cósmico e são radioativas (isótopo 14, ou seja “carbono-14”); quando ocorre a morte,
não há mais renovação do carbono; o carbono radioativo (de massa atômica 14), instável,
transforma-se então progressivamente em carbono 12 (isótopo estável); quanto menos
carbono-14 sobra, maior será o tempo decorrido desde a morte; o método não permite datar
com segurança além de 40.000 anos, quando a quantidade de carbono-14 torna-se
pequena demais para ser medida e a margem de erro aumenta muito.
retoque: quando uma lasca retirada do núcleo não apresenta as características desejadas
(forma geral, espessura, forma do gume, ângulo do gume), ela pode ser trabalhada por
pequenos golpes (retoque por percussão) ou por pressão; dessa forma são fabricados artefatos
“típicos”, como raspadores (com gume frontal não cortante), raspadeiras (facas de gume
reforçado por retoque), lesmas (instrumentos alongados e espessos cuja morfologia lembra o
animal que lhe deu o nome), furadores (com bico perfurante); são feitos trabalhando-se
apenas uma das faces das lascas-suportes (trata-se então de retoque unifacial); as pontas deprojétil são geralmente trabalhadas em ambas as faces para diminuir sua espessura e melhor
regularizar sua forma (retoque bifacial).
rupestre: ver arte rupestre.
sedimento: material mineral ɹno (argilas, siltes, areias) ou grosseiro (cascalho, blocos)
trazido das partes altas da paisagem pelas águas ou pelo vento, caído dos paredões e
ɹnalmente depositado sobre uma superfície natural plana ou com pouco declive; as
distinções de cor, textura e composição entre sucessivas deposições criam camadas, níveis
ou lentes, cujo estudo é a base da análise estratigráfica.
seixo: bloco de pedra destacado do seu lugar de origem (chamado aɻoramento) e rolado
pelas águas dos rios ou as ondas do mar; as quinas desaparecem aos poucos, a for ma torna-
se ovoide, e uma superfície de alteração (córtex) de cor e textura diferentes da parte
interna desenvolve-se, como a casca de uma batata; os seixos, facilmente encontrados,
foram muitas vezes coletados para serem utilizados como matérias-primas na fabricação de
instrumentos de pedra; ainda hoje, seixos são utilizados como elementos decorativos em
muitas fontes de supermercado, ou no “pé- de-moleque” que calça as ruas das cidades
históricas.
tembetá: adorno exclusivamente masculino, inserido no lábio inferior por um orifício
praticado no momento da cerimonia de iniciação dos jovens; pode ser pedra, osso, madeira,
resina ou pena; no tembetá em forma de disco (botoque) usado por vários grupos indígenas do
Brasil central está a origem do nome “botocudo” dado a estes índios pelos portugueses.
termoluminescência: método de datação absoluta, utilizável para objetos de pedra ou de
barro queimados (cerâmica); elétrons livres “viajam” na matéria e acabam sendo
aprisionados em “armadilhas” formadas por falhas na estrutura atômica; quando há
fornecimento de energia (calor forte, por exemplo), os elétrons aprisionados são expulsos da
armadilha e retomam sua corrida errante, caindo de novo nas armadilhas, num ritmo
constante – especíɹco de cada material, mas que pode ser calculado; quanto menor a
quantidade de elétrons livres, mais antiga será a última data de aquecimento.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Mar 02, 2022 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

A Pré-história do BrasilOnde histórias criam vida. Descubra agora