01 - Encontros e esperança

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Era uma bela manhã. O sol se erguia lentamente no céu, brilhante, cálido. Trazia o conforto e a promessa de um dia inspirador. A temperatura agradável, num dia onde se pode apenas usar roupas leves e sentir a brisa bater no rosto.

O navio singrava pelos céus sob aquela luminosidade, a excelente madeira absorvendo um pouco do calor, que parecia lhe dar vida, quase como se estivesse respirando. Era mágica, aquela madeira.

A moça de olhos claros apenas observava a paisagem lá embaixo. As montanhas verdejantes passavam lenta e suavemente, enquanto o vento agitava seus cabelos negros como carvão. Ouvia-se somente o som da caldeira funcionando e do vapor sendo lançado na atmosfera para colocar a nau em movimento. Ela fechou os olhos para melhor aproveitar o momento tão relaxante. Eram raras as ocasiões em que podia apenas ficar meditando, devido principalmente à sua personalidade agitada.

O oscilar da embarcação criava um ambiente sereno, fazendo com que a jovem quase adormecesse em pé, com a mão sobre o leme, em paz. Foi quando o estrondo da porta da cabine se abrindo e batendo com violência na parede oposta fez seu coração falhar uma batida.

Um vigoroso rapaz saiu de lá de dentro, enchendo os pulmões de ar e andando rapidamente até a garota de olhos claros. As madeixas dele eram do mesmo tom negro da companheira, embora com um corte bem rente à cabeça, e um minúsculo topete próximo à testa. Usava roupas de viagem. Um sobretudo branco coberto de botões envolvia uma blusa de zíper e calças leves. Deixou que a luz do sol lhe inundasse o rosto, aproveitando o calor. Os olhos castanhos, muito claros, cintilavam de animação. Chacoalhou as pontas dos dedos e com eles esfregou as pálpebras, como se acabasse de despertar. Com efeito, soltou um audível bocejo. Caminhou até a diminuta proa e, chegando à amurada, colocou sua perna esquerda sobre ela, que ficou imediatamente iluminada por um brilho azul fosco. Na verdade, esta descrição é inapropriada, pois ele não possuía a perna esquerda. Esta fora seccionada na altura da coxa. Em seu lugar havia um espectro luminoso que tomava a forma do membro ausente, com consistência suficiente para sustentar o peso de seu corpo. Era, de fato, uma perna feita de magia.

Toni se sentia ótimo naquela manhã, e sua perna mágica reagia de acordo, brilhando intensamente.

— Você parece bem hoje, Toni.

— E estou mesmo, Ren. Dormi que foi uma beleza.

— É por isso que dizem que a noite é feita pra dormir.

— Ah, qualé, Ren! Sabe que nós temos que encontrá-la...

— Não sabemos nem se ela existe... — desabafou Ren, desviando o rosto de seu irmão de sangue, encarando o horizonte.

Toni retirou o espectro da amurada, percorreu a distância que o separava da irmã e a segurou pelos ombros, fazendo com que ela olhasse para ele.

— Renata, acredite, ela existe.

— Hum, você só me chama de Renata quando a coisa é séria. Ok, Antonio, vamos continuar seguindo em frente.

— Aff!! Toni, por favor.

— Ren, por favor — arremedou a jovem de olhos claros. Eles já estavam naquela busca havia algum tempo. Desde que seu irmão enfiara na cabeça que a Tecedeira existia.

O conto da Tecedeira era um dos mais antigos na terra de Novea. Datava da Era dos Magos, o que significava que possuía ao menos dois mil anos. Não passava de uma história da carochinha, narrada para que as crianças dormissem ou se assustassem. Desde que o mundo era mundo, a lenda existia. Tratava-se de uma das guardiãs daquela terra. Dizia-se que vivia isolada numa montanha alta qualquer, era dona de um péssimo humor e que sua principal atividade era tecer a vida. Tanto coisas boas, como ruins. Gostava de realizar seus afazeres em paz, e se por algum motivo fosse perturbada por algo ou alguém, geralmente o infeliz tinha o seu fio de vida cortado. Contava-se também que, às vezes, quando ficava realmente muito aborrecida, ela arrebentava a linha e a emendava de novo. Ninguém sabia se o resultado final disso seria um morto-vivo, um vampiro ou um zumbi. Histórias desses três seres também não faltavam em Novea.

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