Toni deu um passo à frente para poder observar Adri mais de perto. A maioria dos traços de seu rosto estava perdido - ou apenas escondido por trás da luminosidade que emanava de todo o seu corpo. Era impossível saber com certeza. A única coisa que era reconhecível eram os olhos. O olho antes vazado, estava totalmente restaurado, e agora suas íris douradas chispavam em uma frieza, concentração e agudez perfurantes.
O rapaz da perna mágica segurou a respiração inconscientemente quando sua face foi capturada pela atenção dela. Lembrou-se de Irene e Henrique atrás dele, e apenas isso fez com que não hesitasse. Pensou no acordo feito com Irene. Depois que solicitasse o seu desejo, ambos voltariam a Rio Contrário em Newcomen, levando o corpo de Elias, para que Irene pudesse dar-lhe um enterro digno. Como ele nunca expressara alguma preocupação ou desejo específico de ter o seu descanso final em algum lugar especial, a Dragoa achou que ele não se importaria em permanecer ao seu lado na morte. Desta forma, criou para ele um esquife de gelo, muito semelhante ao de Ren, e fez uma última despedida, beijando a superfície gelada, na altura dos lábios que jaziam profundamente congelados.
Agora o trio de sobreviventes encarava Adri, o recém-criado gênio. Toni recordou-se da mãe. Havia procurado dentro da casa deles, mas ela não estava em lugar nenhum. Henrique garantira que só encontraram uma pessoa na residência, não havendo sinal de uma mulher mais velha. Onde estaria ela afinal, que sumira e deixara Adri sozinha? A incerteza o deixava aflito, temendo pela segurança da mãe. Seus pensamentos foram silenciados quando ouviu-se a voz retumbante do flagae, falando como se o som viesse de todos os lugares ao mesmo tempo.
- É desnecessário preocupar-se, Antonio. Amanda está longe, resolvendo assuntos próprios. Vamos, apresse-se e faça logo o pedido. Você é realmente aquele que realizará o que deseja, afinal.
- Adri... irmã... Que negócio é esse de "Antonio"? Me chame de Toni, como sempre!
- Não sou mais o indivíduo chamado "Adriana". Não sou irmã de ninguém. Sou apenas um acumulado de energia, que deve ser utilizado para um propósito ou minha existência não terá sentido. Já esperei o suficiente. Vamos.
Toni virou o pescoço para encarar seus companheiros, em busca de conselho. Irene meneou a cabeça e Henrique deu de ombros.
- Você pode pedir qualquer coisa, Perna de Magia. Peça que ela volte a ser o que era antes - A mulher sentenciou.
- Mas e Ren?
- Peça que ela volte ao que era antes também!
A voz ressonante trovejou novamente.
- Isso seriam dois pedidos. Sinto muito, apenas um.
- E se em vez disso, eu pedir para que tudo volte a ser como antes?
- E fazer com que Elias volte? Não sei se é uma boa ideia.
Toni olhou para Henrique.
- Alguma sugestão?
- Bom, ela já sabe exatamente o que você vai pedir... Só não me deixa ver.
Tanto Toni como Irene olharam para ele de olhos arregalados.
- Você consegue ler a mente dela?! - perguntaram quase em uníssono.
- Só entrever. Não é nada muito claro, e ela já me expulsou faz tempo.
O rapaz da perna mágica soltou um bufo. Não sabia o que fazer, qual decisão tomar. Não poderia sequer cogitar em escolher entre as duas irmãs. Mas também tinha a questão de sua saúde. Ele sabia o quanto seus membros estavam se deteriorando agora, em um ritmo cada vez mais acelerado.
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Perna de Magia
FantasyToni Maro é um jovem com uma doença incurável, problema que lhe ocasionou a perda de uma das pernas. Com o uso da magia, uma antiga arte esquecida no mundo de Novea, ele é capaz de recriar uma perna de pura energia. Mas a doença continua avançando...