12 - Conflito, fogo e calor

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Um amontoado denso de carvalhos ancestrais formava a Floresta Flamejante. Era impossível enxergar qualquer coisa lá dentro, mesmo tendo uma visão aérea. Em poucos minutos o navio alcançou a floresta, e os três se debruçaram sobre a amurada para tentar ver melhor.

Repentinamente, foi como se as portas do inferno tivessem sido abertas. As milhares de folhas que formavam a copa das árvores entraram em combustão, todas ao mesmo tempo.

Irene, já tendo visto aquilo anteriormente, não se surpreendeu, continuando apenas a observar. Não era o caso dos irmãos. Ficaram boquiabertos. Ren se movimentava de um lado para o outro, tentando ver melhor, Puppet zumbindo em seu ombro como uma barata tonta. Talvez, se tivesse se lembrado de questionar a boneca, esta soubesse do que se tratava aquele fenômeno.

A floresta queimava em labaredas ascendentes. Parecia querer alcançar o navio. O barulho que fazia era grandioso, os envolvia por todos os lados. Toni, de olhos esbugalhados, quis correr para o leme e desviar o navio, mas a patrona de Rio Contrário o segurou pelo braço, mal contendo o riso.

— Acalme-se, Perna de Magia. Eles já sabem que estamos aqui, só estão nos cumprimentando.

Engolindo em seco, Toni conteve sua excitação, enquanto encarava Irene. Soltou o braço da mão da mulher e tornou a olhar pela amurada. O navio agora sobrevoava o alto das árvores, e o fogo lambia a madeira, sem queimá-la. Detendo-se mais atentamente ao observar as árvores, Toni notou que estas também não eram consumidas pelas chamas. Tampouco sentia-se cheiro de queimado.

O fogo apenas estava ali, visível, mas acompanhava o movimento das folhas numa perfeita sincronia. Pensando claramente, Irene havia dito que os elementais eram seres que viviam em harmonia com a natureza. Por que eles haveriam de incinerar o lar onde habitavam?

De qualquer forma, era uma visão impressionante, que mexia com algum ponto primordial dentro de Toni. Pelo rosto de Ren, podia notar que a irmã sentia o mesmo.

Sem mais delongas, o garoto da perna de magia manobrou Newcomen para o pouso. O navio foi perdendo altitude, até pender a um metro do chão, antes das primeiras árvores flamejantes se levantarem.

Os três saltaram quase ao mesmo tempo, e quando seus pés tocaram o chão, o calor os atingiu, mas não era agressivo. Era mais como se os convidasse a entrar, aconchegante. Impossível sentir-se ameaçado por algo assim.

Na borda da floresta, alguns animais pastavam despreocupados. Os irmãos voltaram a ficar atônitos ante à visão. Pareciam cavalos, imponentes. Mas eram mais do que isso.

Com pelagens de cores variadas, ao todo somavam sete.Toni suspendeu a respiração quando ergueram a cabeça em sincronia e encararam seus visitantes.

Todos possuíam crinas, cauda e patas formadas de puro fogo. O mais próximo, um garanhão negro, pateou o chão e relinchou alto, como se passando uma mensagem aos demais. Seu casco soltou faíscas ao acertar o solo. Foram então retirando-se para as profundezas da floresta, desaparecendo em seguida entre os grossos galhos.

— Pela cara de vocês, acho que não conhecem os cafires. — Irene quebrou o silêncio reverencial.

— Cafires? Mas o que diabos é isso?

— São cavalos-de-fogo, Ren! Em nossa terra, é assim que os chamamos, Irene. São cavalos associados a flamines, certo?

Irene olhou para Toni com uma cara engraçada.

— É isso mesmo, mas... Como vocês os chamam? Cavalos-de-fogo? Que nome bobo. — E gargalhou.

— Qual o problema em exercer a arte da obviedade?

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