Assim que Henrique abriu os olhos, com uma expressão quase transtornada, Toni e Irene também o fizeram, ao mesmo tempo. O rapaz Lenmenthe respirou profundamente, como se estivesse se acalmando após um exercício extenuante. O casal de amigos apenas permaneceu imóvel, o olhar vidrado vagando na distância, como que em espera. O vento suave fazia cabelos e roupas tremularem, e, por vários minutos, esse foi o único movimento produzido por todos. O sol forte incomodava Henrique, mas ele finalmente se recuperou, endireitando o corpo e estralando as costas no processo. Quando olhou à frente, Elias estava exatamente no mesmo lugar, observando-o, próximo ao flagae.
— E então? — perguntou, num tom ameno.
— Tudo certo. Estão em suspenso. Como você havia ordenado que não os ferisse...
— Sim, chega de mortes, não é mesmo? Eu queria causar a menor quantidade de dano quanto possível. Mas as coisas nunca saem 100% como planejadas. Fico feliz que tenha voltado.
Elias deu as costas para Henrique e se aproximou da antiga Adri, agora um flagae. Observou-a atentamente por vários minutos, como se esperando que ela tivesse algo a dizer. Ela apenas lhe devolveu um olhar astuto, de quem muito sabia, mas não falaria.
O cenário não estava como o esperado. O que mais o Omag teria de fazer? Tinha medo de perguntar isso ao gênio. Talvez apenas a resposta àquela pergunta fosse considerada como pedido atendido, e ela desapareceria para todo o sempre. Surpreendeu-se ao ouvir a voz do Lenmenthe, que o tirou de suas divagações.
— Não fez o pedido?
— Não.
Houve uma pequena pausa.
— Elias... depois de tudo isso, não vai me dizer o que planeja? Você está exatamente onde queria estar, com o flagae e nada para impedi-lo...
O homem de cabelos grisalhos soltou uma risada rouca, a ironia impregnando o som. Desviou os olhos de Henrique e os dirigiu novamente à Adri. Por fim encarou o horizonte, como se estivesse incerto do que fazer.
— Eu não estou exatamente onde quero, Henrique. As coisas estão ligeiramente deslocadas. O cenário é quase esse, mas não está completo.
— Mas cenário para quê? Você sempre fala isso, mas é incompreensível toda a vez. Por que é tão importante que tudo siga passos programados?
— Porque não quero correr o risco de que ninguém mude o meu destino. Sinto que se tudo não acontecer exatamente como no meu sonho, a coisa não vai funcionar. É por isso que eu esperava mais de Perna de Magia. Francamente, não imaginava que fosse ser capturado tão fácil assim. — Elias suspirou, quase cansado.
A fúria subitamente assaltou Henrique. Era impressionante a capacidade que o Omag tinha de falar tudo e nada ao mesmo tempo, explicando coisas parcialmente e gerando mais dúvidas do que respostas. Teve vontade de causar um choque mental na cabeça dele, arrancando tudo o que precisava saber, mas não podia fazer aquilo. Respirou fundo novamente, tentando não transparecer a impaciência.
— Elias, se me permite, posso perguntar que destino é esse? E como as coisas aconteciam no seu sonho?
— Aconteciam de forma magnífica, e muito vívida. Mas muitos detalhes estão fora do lugar, e eu não sei o que fazer. — Elias parecia de fato muito confuso. Mirava o chão, sem observar nada em particular, como se puxando pela memória. Hesitava tanto que o Lenmenthe não achou que fosse fingimento.
— Como não sabe o que fazer? O gênio está bem na sua frente.
— Não... não está certo. O cenário é esse, mas as coisas aconteciam de forma diferente...
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Perna de Magia
FantasyToni Maro é um jovem com uma doença incurável, problema que lhe ocasionou a perda de uma das pernas. Com o uso da magia, uma antiga arte esquecida no mundo de Novea, ele é capaz de recriar uma perna de pura energia. Mas a doença continua avançando...