- Eu sabia! Eu SABIA que não devíamos confiar em você! Faz alguma coisa, o meu irmão já tá azul!
- Droga, droga, eu NÃO SEI o que fazer!
Newcomen, o navio de Toni, atravessara a passagem entre as dimensões a toda a velocidade, e assim continuava pelo céu, sem um condutor e sem rumo. As pessoas a bordo estavam desesperadas demais para se preocupar com a direção que a embarcação tomava. O início de noite parecia predizer o destino de Perna de Magia com seu céu agourento totalmente negro, sem lua ou estrelas. Ren gritava a plenos pulmões com Irene, que, angustiada, estava ajoelhada ao lado de Toni, tentando alguns feitiços, porém sem sucesso. Os olhos dele começavam a desfocar, e o corpo padecia de dor, mas escutava as duas perfeitamente. Caso não estivessem tão nervosas, as mulheres notariam que ele sufocava como um peixe fora da água.
- Não adianta, não adianta! Não dá pra desfazer o feitiço daquela velha bruxa dos infernos se eu não souber as posições de mão corretas!
Quando Irene acabara de terminar a frase, Toni a agarrou firmemente pelo ombro e sacudiu um pouco, fazendo com que prestasse total atenção nele. Fez então dois símbolos com a mão esquerda. Ela piscou, como se não entendesse. O rapaz repetiu os dois movimentos, com mais urgência. Em um movimento, os dedos afastados, como se estivesse segurando um copo, mas com a mão na vertical. Em outro, os dedos unidos numa ação parecida com pegar água de um riacho, com a mão em concha. Os olhos de Irene se arregalaram quando tomou consciência.
- Certo, Perna de Magia, e quais eram as outras posições de mão? As que ela fez atrás das costas?
Praticamente gritou na cara dele, a saliva voando. Ele a encarou com puro desespero no olhar. Não sabia.
- Irene, os outros dois movimentos eram assim!
Ren se ajoelhou do outro lado do irmão, de frente para a mulher de cabelos castanhos. Também com a mão esquerda, demonstrou o primeiro movimento: Um golpe seco no ar, como se cortasse algo, com os dedos indicador e médios juntos, porém separados do anelar e mindinho, formando uma espécie de V. O segundo, a mão se fechando, num golpe para baixo.
Num átimo, Irene concentrou todo o seu poder e refez os símbolos a ela mostrados. Findos os movimentos, espalmou ambas as mãos no peito de Toni. Uma luz se desprendeu dos dedos, penetrando o corpo combalido. Quase que instantaneamente, o jovem conseguiu preencher os pulmões com o tão necessário ar, fazendo um chiado enorme. Ren sorriu como uma criança, com lágrimas de alívio escorrendo pelo rosto. Quase o abraçou por impulso, mas ele precisava de espaço para respirar. Irene se jogou de bruços ao lado de Toni, com a cabeça virada para ele, aliviada como nunca se sentiu na vida. Ninguém notou que a perna mágica continuava sumida.
Alguns minutos se passaram em total silêncio, a respiração descompassada do trio se acalmando. A escuridão da noite os envolvia, apenas uma luz fraca vinda do interior da cabine da nau os iluminava. O sentimento de alívio envolvia os três, unindo-os numa comunhão estranha.
Quando a situação se tornou esquisita demais, Toni tentou se levantar. A irmã ajudou, amparando-o com um braço nas costas. Ele se sentou e observou a mulher que acabara de salvá-lo, a qual também se erguera e ajeitara-se com as pernas cruzadas.
- Pode me explicar O QUE FOI AQUILO?
- Longa história, Perna de Magia. Tão longa que dá preguiça.
- Você quase me matou, Irene!
- Er... Tecnicamente, foi você quem pulou na minha frente, lembra? Muito obrigada, aliás. Mas não entendo. Por que fez aquilo?
- Porque é um idiota, inconsequente! Eu também quero saber que porra foi aquela, Antonio!
- Você só me chama de Antonio quando fica brava comigo. Me desculpa, Ren, eu sei que deixei você preocupada... Eu não pensei em nada na hora, só agi.
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Perna de Magia
FantasyToni Maro é um jovem com uma doença incurável, problema que lhe ocasionou a perda de uma das pernas. Com o uso da magia, uma antiga arte esquecida no mundo de Novea, ele é capaz de recriar uma perna de pura energia. Mas a doença continua avançando...