Perna de Magia

23 - Medindo forças

Um fulminante soco envolto em magia e chamas impactou-se contra o esterno de Elias. Imediatamente foi lançado a alguns metros de distância, as roupas e pele chamuscadas. Curiosamente todas as suas forças se esvaíram, como se a fonte tivesse sido cortada de alguma forma. Nunca sentira uma sensação como aquela antes, e foi deveras absurdo. Por instantes, foi incapaz de concentrar energia e contra-atacar. Permitiu-se temer pela primeira vez, mas soterrou o sentimento sem demora.

O calor aumentou em ondas, cada vez mais acentuado. Torrava a grama e a terra ao seu redor, fazendo com que emitissem um chiado baixo. Mais e mais vapor se desprendia do corpo esguio, que brilhava com um vermelho ainda mais intenso. O ar quente oscilava desenfreadamente, dando a impressão de que a paisagem estremecia e se revolvia, como uma miragem. A intensidade da perna mágica aumentava. Os cabelos ondulavam selvagens, sem se chamuscarem. Com as sobrancelhas unidas e olhos fixados profundamente no adversário, Toni se erguia totalmente recuperado. Fora mais rápido do que da última vez. O coração inerte e inutilizado pela descarga elétrica voltou a bombear o sangue com vontade renovada, assim que restaurado pela magia. Esta se moldava à sua vontade muito mais velozmente agora.

Assim que toda a sua raiva concentrada atingiu o homem, Toni notou o brilho dentro do peito dele oscilar, se apagando. O oponente ficou sem ação, e não apenas devido à dor que obviamente sentia. Mas porque o combustível que lhe permitia agir fora interrompido, inibindo qualquer reação baseada em magia. No entanto, o momento passou, o Coração de Magia voltando a cintilar como antes. Foi quando Toni percebeu um ponto fraco. Já fizera isso com outro Omag. Gerson, o antigo assistente pessoal de Irene. Sim, sabia o que fazer. Concentraria suas forças nisso.

De repente, sentiu um grotesco repuxão na parte de baixo do bíceps, no mesmo braço que acertara Elias. Ficou claro que, mesmo a magia extra retirada do ambiente não seria o suficiente para curar a sua doença. Possivelmente, àquela altura, fosse tarde demais para tratar uma enfermidade tão antiga. Apertou a parte dolorida com força, como se aquilo pudesse afastar a deteriorização dos músculos. Não permitiu que qualquer vestígio de dor tocasse seu semblante.

Deixando o braço de lado e sem abrir espaço para que o Omag se recuperasse totalmente, Toni se adiantou, como um relâmpago. Acertou-lhe um, dois, dez socos flamejantes no rosto, a pele do homem ficando escarlate. Envolveu-o com um chicote de fogo, lançando seu corpo no ar e fazendo com que voasse para longe.

Apesar das sérias queimaduras em alguns pontos, aquilo não foi o suficiente para parar Elias. Ainda no ar devido ao último golpe, girou o corpo para alinhar o centro de gravidade, enquanto abria um sorriso satisfeito. Mal tocando o chão, disparou ao encontro do jovem adversário. A eletricidade vibrou uma vez mais na palma de sua mão.

Toni conseguiu desviar vários ataques, com ajuda do fogo. Porém, muitos o acertaram e também lhe queimaram a pele.

O embate passou então a assumir proporções absurdas. Cada choque de poderes fazia um som retumbante, e a terra tremia. Chamas pairavam sobre Newcomen, enquanto coruscavam sem controle. Pedaços de madeira, acumulados do lado de fora da casa da família Maro e usados para lareira, incendiaram-se, ameaçando a integridade da residência. Algumas faíscas voaram até a borda a Floresta Regular, inflamando as árvores mais próximas. Pequenos animais e pássaros fugiram em pânico para as profundezas da mata. O ar ao redor fervia, tornando dolorosa a sua inalação.

Toni poderia fazer com que as labaredas se extinguissem, mas estava tão absorto que sequer notava o que acontecia além de seu raio de ação. O Antigo era forte, mas não estava com seus plenos poderes. Aquilo fez o rapaz imaginar o quão terrível ele seria em sua total capacidade. Era um homem excêntrico. O que o levara a abrir mão de sua invencibilidade, afinal?