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CAPÍTULO 3,
Ruivinha

SAIO DO BANHEIRO que tem no quarto em que eu acordei, que eu suponho ser do Fezco, é bagunçado demais e cheguei até ver algumas armas no caminho. Ontem tive uma ótima noite, fazia muito tempo que não ria tanto assim. Pego uma camiseta dentro do armário e troco a minha, saio do quarto em silêncio e caminho até a sala encontrando Ashtray no sofá assistindo, com uma coberta e um travesseiro dobrados no canto.

Estava no quarto dele? Puta merda. Tinha armas, drogas, facas... Talvez a coisa mais normal que eu tenha visto ali foi resto de pizza. Ele está concentrado no filme de porcos que passa na televisão comendo cereal, ele é realmente muito lindo, algo que eu não tinha reparado desde então.

— Bom dia, Ashtray — me sento aí lado dele olhando para a tv, ele apenas me olha e acena com a cabeça. — Desculpa o incomodo... — digo envergonhada. — Não precisava dormir aqui. Foi mal.

— Não esquenta — diz ainda concentrado na televisão, decido fazer o mesmo.

— Obrigada — digo baixo. — Porra, o que está acontecendo com esses porcos?

Ele ri.

— É um bom filme.

— Eu vi só 5 minutos e quase vomitei de tão ruim — digo rindo.

— Tá blefando.

— Tirando esse péssimo, qual é seu filme preferido?

— O poderoso chefão, sem dúvidas — sinto sinto olhar sobre mim, então olho pra ele.

— Como não imaginei? — sorrio. — É claro que ia ser, aposto que o segundo é algum tipo Truque de Mestre.

— Fala serio! É um ótimo filme — ele se defende e eu rio mais. — Tá se achando engraçadinha, não é? Pois então me fale o seu.

— Fácil, O Silêncio dos Inocentes, A Chave Mestra, Família do Bagulho... — enquanto falo vou listando com os dedos para me lembrar. — Ah, e um fofo, 10 coisas que eu odeio em você, assisto toda hora.

— Eu nunca ouvi falar dessas merdas — olho pra ele ofendida. — Não deve ser tão bom.

— Tá me zoando? Você não poderia estar mais errado.

Ele se levanta rindo.

— Eu aposto que não são legais — ele coloca a tigela na pia e vem até mim.

— Então eu te desafio a assistir todos comigo — olho pra ele e mordo os lábios provocativa.

— Eu tenho mais o que fazer.

— Vai, eu aposto que você irá amar — ele se joga no sofá e eu chego mais perto dele. — Principalmente Os Pássaros, esse é bom!

— Alá, outro — ele revira os olhos e eu toco em seu braço pidona.

— Pare de ser um arrogante — uso a palavra que ele mencionou no ano novo e ele olha pra mim. — Vamos, Ashtray.

Ele não responde, apenas olha para minha mão em seu ombro nu, pois usa regata. Assim que percebo a barbaridade que cometi, retiro minha mão imediatamente do lugar.

— Porra Ashtray, desculpa...

— Está bem, vamos ver os filmes — ele sorri de leve, quase invisível. Mas eu vi, seu pelo sorriso, sorrio também.

— Está perfeito, que dia está bom para você?

— Aparece aqui depois de amanhã a tarde, vamos demorar provavelmente, ocupará a tarde e um pouco da noite — ele se levanta.

— Ótimo. Não irá se arrepender.

— Isso eu duvido. Ae, eu vou tomar um banho e fazer umas entregas, se quiser pode ficar aí — ele diz indo pro corredor.

— Ashtray, espere — eu me levanto do sofá e vejo o moreno se virar pra mim. — Cadê o Fez? Eu acho melhor eu ir, queria me despedir dele.

— Ele saiu cedo.

— Ah, okay. Vou deixar um bilhete — ele ri e sai andando. — Até mais, Ashtray.

— Até ruivinha — sorrio com isso, normalmente as pessoas me chamam assim, mas vindo da boca dele me causou arrepios. Agradeço por ele já ter virado, pois minhas bochechas queimam de vergonha. O vejo entrar no quarto, vou até a cozinha deles, é pequena, parecida com a minha. Pego uma caneta e um bloquinho de papel, agradeço a Fez por ter me deixado ficar e coloco na porta da geladeira. Pego meu skate e vou até minha casa, não e muito longe, 10 minutos no máximo de skate.

— Eai Frank — digo entrando em casa, ele está no sofá sentado com uma maconha entre seus dedos.

— Oi filhota, passou a noite aonde?

— Na casa de um amigo — me sento na poltrona que tem, meio cansada.

— Usou camisinha? — faço careta.

— Por Deus, Frank, eu tenho 15 anos!

— Isso não te impede de fazer esse tipo de coisa — ele ri, fumando. — Então por que está usando a camiseta dele?

Olho pra mim, vendo a camiseta do Iron Maiden. Droga, esqueci minhas coisas .

— Não enche, eu não faço esse tipo de coisa, não sou como você e Amy — reviro os olhos.

— Eu e sua mãe sabíamos nos divertir, apenas.

— E olha no que deu — rio.

— Você é muito arrogante, já te falaram isso, Rory?

— Todo dia, querido e amado pai — sorrio debochada pra ele. — De qualquer forma, ele é realmente só um amigo.

— Você namorava em Boston?

— Sim, tive um namorado.

— Legal, saiba que aqui os rapazes não são tão bons quanto lá — sorrio fraco. — Quer dizer, eu me importo com você, apenas peço que tome um pouco de cuidado.

— Eu me lembrarei disso, obrigada — olho pra ele. — E o que você faz?

— Trabalho em uma marcenaria. O dinheiro é uma merda, mas pelo menos mantém a casa. Não querendo ser luxuoso, mas sua mãe vai pagar o dobro da pensão pra você não sair daqui.

Rio de sua sinceridade. Como se eu quisesse voltar a morar com aquele assediador de merda.

Sorte a nossa então — ele ri. — Daqui uns meses podemos até ameaçar ela falando que eu vou voltar.

— Igualzinha a seu pai — ele ri mais, acho que a primeira vez que temos uma conversa.

Sorrio pra ele, é bom isso. Realmente bom.

— Azar meu, então — digo abrindo uma lata de cerveja que estava na mesa de centro.

— No café da manhã e já está bebendo? Como seu pai! Um brinde a isso — ele estende a garrafa dele e eu reviro os olhos.

Meu medo é ser como meu pai, se isso acontecer, eu juro que me mato.

Levanto minha garrafa encostando na dele. Ficamos em silêncio, e então, eu sei o que ele quer perguntar, sei exatamente o que se passa em sua mente nesse exato momento.

Phillip.

Ele quer perguntar sobre Phillip, mas não tem coragem, eu quero falar sobre Phillip, mas também não tenho coragem.

— Eu vou para meu quarto — digo me levantando. Me tranco no mesmo e sinto algumas lágrimas rolarem.

Me sento no chão do canto do meu quarto e me permito chorar, sempre quando lembro dele isso acontece. Nunca vai parar, a dor nunca vai embora. É algo que eu carrego para sempre, como uma maldição. E eu sinceramente não ligo. Eu não ligo de passar dos dias chorando por Lip, me cortando por ele, morrendo por ele... Alguém quem te lembrar dele.

Pelo menos uma pessoa nesse planeta, tinha que se lembrar de quão incrível foi Phillip Miller foi quanto estava vivo. Então, eu lembrarei dele.

all for us, 𝗮𝘀𝗵𝘁𝗿𝗮𝘆Onde histórias criam vida. Descubra agora