XI

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- Pronto, não insisto, vou simplesmente fingir que acredito - encolheu os ombros - Como é que correu a festa?

- Correu bem...

- Bem...? - questionou arqueando a sobrancelha.

- Sim, bem...

- Só bem portanto... Divertiste-te?

- Sim diverti.

Ao fim de todo o questionário voltei para o meu quarto, só queria tomar um banho, e talvez esquecer tudo. Subi as escadas e dirigi-me ao meu quarto fechando a porta do mesmo. Entrei na casa-de-banho e despi o meu vestido e a minha roupa interior. Entrei no polivan e liguei o chuveiro, deixei que a água corresse pelo meu corpo pouco me importando a sua temperatura. Após bons minutos debaixo de água ensaboei o meu cabelo e o meu corpo, passei água e retirei todo o shampô e gel de banho. Saí enrolando-me na toalha. Sequei o meu corpo e vesti uma roupa interior lavada. Saí da casa-de-banho e dirigi-me ao quarto. Não pretendia sair de casa portanto vesti o meu pijama.

Saí da casa-de-banho e fui até ao meu cantinho predileto da casa. Aquela pequena casinha na árvore a qual eu tinha acesso através da varanda do meu quarto. Atravessei a extensa ponte feita com tacos de madeira desde a varanda à tal casinha e assim que adentrei a mesma, fechei-me no meu próprio mundo. Aqui ninguém me julgaria, ninguém me magoaria, ninguém me ignoraria, porque eu mesma ignorava tudo o que se passava à minha volta.

Puxei uma manta velha e pu-la no chão, deitei-me de barriga para o ar e fiquei a fitar o teto uns bons minutos. O meu olhar era confuso, os meus pensamentos eram confusos, estava tudo uma confusão na minha cabeça. A noite passada baralhou tudo, deixou peças por completar, palavras por dizer, não sei o que sinto, nem o que quero. Queria poder abrir os olhos e este pesadelo no qual estou a viver desaparecesse. Eu não quero estar aqui, eu quero voltar para casa. Não é justo ter de estar aqui sem vontade própria. A minha casa é em Nordby, é lá que tenho a minha vida, foi lá que vivi toda a minha vida, é lá que tenho as melhores memórias.

Liguei o MP4 e pus os fones, coordenei a playlist e deixei que a música tomasse conta de mim e me embalasse. Acabei por adormecer ao som das melodias que mais gostava de ouvir.

Acordei com o soprar do vento, estremeci com o som violento o que me parecia ser o início de uma tempestade. Levantei-me de imediato e pude observar o céu cinzento, o vento soprava violentamente e a começavam a cair as primeiras gotas. Do nada o vento se tornou imparável e parecia querer destruir tudo, soprava como se estivesse revoltado. A chuva caía com mais intensidade e onde caía deixava tudo encharcado. Pensei em como sair dali, estava complemente cercada pela tempestade. Os tacos de madeira talvez não fossem resistentes o suficiente para aguentarem comigo, com o vento e com a chuva, estes já eram velhos e encontravam-se gastos. A minha única esperança era que a tempestade acalmasse e me deixasse abandonar o local onde me encontrava sem qualquer tipo de problemas.

Ao fim de algum tempo vi que nada melhorou e ganhei coragem para sair. Mentalizei-me de que não poderia correr, consequentemente ia ficar encharcada. Percorri a longa extensão de ponte com a cabeça baixa porque o meu psicológico achava que me molharia menos, ideia completamente absurda. Atravessei a ponte até à varanda do meu quarto e como era de esperar estava completamente ensopada.

O melhor remédio era tomar um banho quente. Dirigi-me à casa-de-banho e despi as minhas roupas molhadas e pousei-as no cesto da roupa suja. Entrei no polivan e a água quente entrou em contanto com o meu corpo frio o que fez com que de imediato a minha pele se arrepiasse. Ensaboei o cabelo e o meu corpo e retirei toda a espuma com a água que do chuveiro caía. Saí do polivan e enrolei-me na toalha. Fui para o quarto e peguei num pijama lavado.

- Charlotte? - ouvi a minha mãe chamar do rés-de-chão.

Apressei-me a seguir a sua voz e esta encontrava-se na cozinha.

- O jantar já está pronto - disse pousando um tacho que continha bacalhau à brás, uma das comidas prediletas da minha mãe.

Sentei-me na mesa e servi-me. No fim de jantar ajudei a minha mãe a arrumar a loiça e a lavá-la.

- Acho que já está tudo - disse olhando em volta certificando-me de que estava tudo arrumado.

- Sendo assim é melhor ires descansar - disse-me dando um beijo no rosto.

- Até amanhã mãe - disse dando-lhe um beijo no rosto.

Fui para o meu quarto e deitei-me acabando por adormecer pouco tempo depois.

☀️☀️☀️☀️☀️☀️☀️☀️☀️☀️☀️☀️

Acordei com o barulho violento de uma manhã fria e chuvosa. Olhei pela janela e podia perceber que a tempestade da tarde anterior tivera acalmado minimamente mas não deixara de estar mau tempo. Vesti uma coisa mais quente que o habitual. Optei por uns jeans com uns rasgões nos joelhos, uma camisola preta, uma casaca e por fim calcei uns botins pretos.

Desci o lance de escadas até à cozinha onde a minha mãe não estava como de costume. Estranhei e ao aperceber-me de que ainda era muito cedo deduzi que estivesse no escritório em redor das suas papeladas. Preferi deixá-la sossegada e fui tomar o pequeno-almoço.

Passado algum tempo saímos de casa e a paragem que se seguia seria o infernal secundário. A minha mãe parou o carro em frente à secundária e saí do carro. A chuva começara agora a cair com mais intensidade, o que me fez correr até à porta de entrada.

Assim que entrei na escola avistei Kathrine e Amber ao fundo do corredor. Apressei-me a ir ter com elas para lhes contar o que aconteceu no regresso a casa depois da festa, mas o infeliz e irritante toque da campainha tocou antes que podesse abrir a boca.
Segui para a primeira aula na companhia de ambas.

A aula parecia estar a demorar uma eternidade, os ponteiros pareciam estar no mesmo sítio e tudo parecia estar a escurecer.

- Charlotte? - ouvi o meu nome ser pronunciado vezes sem conta.

- Hãh? O quê o quê? - disse levantando sobressaltadamente a cabeça que tinha pousado em cima dos livros, ao que parecia acabada de acordar.

- Adormeceste na aula de matemática Charlotte - Kathrine disse com uma expressão bastante preocupada.

- Será que a noite passada foi tão boa como a noite de sexta-feira!?... - questionou Amber com uma expressão perversa no rosto.

- Não sejas parva - tentei parecer séria ao responder à questão de Amber, o que foi em vão, ambas soltamos gargalhadas.

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Aqui está o novo capítulo, espero que gostem, peço desculpa pela demora mas não é fácil conciliar época de testes. A boa notícia é que sempre que tiver um tempinho livre irei escrever para que a publicação não seja tão demorada. Muito obrigado a todos os leitores, deixem os vossos comentários. Obrigado, beijinho.

Soul in DarknessOnde histórias criam vida. Descubra agora