XV

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Acordei com os raios de sol que escapavam pelas frinchas da persiana baterem-me na cara. O tempo melhorou bastante, contudo não deixava de estar frio, pois as árvores balançavam as poucas folhas na sua copa ao ritmo do vento.

Entrei na casa-de-banho e despi o meu pijama adentrando de seguida o poliban. Os jatos de água quente nas minhas costas faziam-me sentir relaxada, ensaboei o meu cabelo e o meu corpo com calma e passei a água pelos mesmos para remover toda a espuma.

Saí do poliban e vesti as minhas roupas íntimas, uns jeans justos e uma blusa preta de malha, e por fim calcei os meus ténis. Soltei os meus cabelos molhados e deixei-os secar naturalmente.

Desci as escadas e fui para a cozinha preparar o meu pequeno-almoço, visto que ainda cedo resolvi fazer algo bem mais reforçado, ovos mexidos e bacon. Comi e voltei a subir para lavar os dentes e pegar na casaca e na mochila. Deixei um bilhete no balcão a avisar a minha mãe que já tinha saído para ir para a escola e saí.

Embora eu tivesse a plena noção de que para além de estar frio, a minha casa não era propriamente perto da escola, mesmo assim não voltei atrás. Tirei do bolso da casaca os meu fones e deixei que as músicas da minha playlist tocassem. O meu caminho foi feito calmamente, eu precisava disso. Precisava de calma, precisava de apanhar ar puro.

Observava tudo muito detalhadamente, a maneira de como as casas estavam alinhadas, a maneira de como as pessoas saíam agasalhadas mesmo que o frio não fosse assim tanto, pelo menos para mim que estou habituada a temperaturas negativas. A maneira diferente que levam a vida, a maneira diferente de como fazem as coisas. Tudo tem um gosto diferente...

A minha vida mudou, em menos de um mês eu podia ter a certeza do meu futuro, podia ter a certeza do que queria, podia ter certeza do que sentia. Mas agora? Agora tudo é incerto. Não culpo somente a minha mãe por esta mudança radical, culpo principalmente o trabalho a que ela se dedica de corpo e alma e por vezes faz com que se esqueça que há coisas mais importantes na vida. Ela nem sempre foi uma mãe presente, nem sempre acompanhou os passos mais importantes, nem sempre esteve lá quando mais precisei, mas eu sei que ela me ama do jeito que uma mãe deve amar um filho.

A maior parte das vezes saltava da minha casa para a casa dos meus avós justamente por causa das suas reuniões de trabalho, as horas extraordinárias que ela trabalhava... Lembro-me especialmente de um espetáculo de ginástica, ao que ela como a muitos outros não compareceu, foi dedicado às mães, lembro-me de a procurar em todas as filas de cadeiras com um olhar entusiasmado, entusiasmo esse que rapidamente desapareceu quando dei conta que mais uma vez ela tinha quebrado mais uma das suas promessas. Ela sempre me prometia que para o próximo viria... Mas esse próximo nunca chegou, tal como ela nunca chegou a aparecer numa das filas de cadeiras. Ficava triste, magoada, mas nunca o quis demonstrar, pois eu queria apenas mostrar-lhe que compreendia.

Mesmo com todos os defeitos possíveis eu continuo a amá-la, porque ela é minha mãe. E fora isso, devo também lembrar-me a mim mesma de que ela é uma guerreira por ter sido mãe ainda jovem e por ter cuidado de um bebé que lhe fora rejeitado pelo próprio companheiro. Talvez eu consiga perceber o porquê de ela se dedicar tanto à porra do trabalho. Ela nunca quis que nada me faltasse, sempre quis dar-me uma vida estável, sem ter de andar a contar os tostões, e isso só por si já faz dela uma mulher maravilhosa e capaz, que nunca desiste das maiores adversidades da vida.

Bem lá no fundo eu culpo-me por nunca lhe ter dado o apoio que provavelmente ela precisava, mas eu não sei o que é isso, eu nunca soube o que era apoio. Sempre me virei na vida sozinha, sem ajuda de um pai que nunca tive e de uma mãe que não demonstra o que sente, assim como eu não expresso os meus sentimentos. E por isso eu ser tão fria com ela, contudo, tento ao máximo ser simpática para evitar discussões. Foram falta de palavras, falta de conforto, falta de um "orgulho-me da filha que és", falta de um "amo-te". Falta de carinho e demonstração de amor.

Afundada nestes pensamentos cheguei à escola e uma vez que faltavam meros minutos para tocar a campainha fui para a sala.

Felizmente o dia passou com uma rapidez incalculável e agradeci a Deus por não me ter cruzado com o rapaz moreno que faz o meu coração bater a mil. No entanto, teria ginástica da parte de tarde, logo teria de me cruzar com ele de uma maneira ou de outra.

* *

Fiz o meu caminho até ao pavilhão desportivo sem a companhia de Amber, o que me preocupa bastante é a sua ausência, desde ontem que não a vejo. Algo de errado se passa e eu quero saber o que é.

Assim que chego ao pavilhão, deparo-me com quem menos queria.

- Então a novata não traz o osso atrás? - Courtney pergunta ironicamente referindo-se a Amber.

- E tu? Não trazes o cérebro? - cuspo as palavras na sua cara e passo reto sem ao menos lhe dar a oportunidade de me responder.

Substituí a minha roupa casual pela roupa desportiva, arrumei as coisas no cacifo do balneário e saí sem fechar o mesmo.

❃ Courtney ❃

Fiquei estática no lugar ao ouvir as palavras daquela criatura, como é que ela se atreve... Se ela pensa que ganhou, engana-se.

Entrei no balneário para trocar de roupa, e reparei que o cacifo de Charlotte não estava fechado, não pensei duas vezes e abri o mesmo, tirei as suas roupas, deixando apenas a toalha. Deitei as roupas da criatura no caixote do lixo e saí, satisfeita com a vingança, porém não completamente satisfeita.

Charlotte encontrava-se já na devida divisão onde se realizaria a aula, estava a sorrir que nem uma idiota enquanto falava com a professora, mas mal podia esperar para que essa alegria acabasse.

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Aqui está mais um capítulo, espero que tenham gostado. Os próximos capítulos vou tentar postar com mais rapidez, no entanto não prometo nada, pois a escola está a começar e não vai facilitar o meu tempo para a escrita, mas sempre que puder vou escrevendo e atualizando.

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Obrigado pelos 3,4K lidos!

Beijo, Rita

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⏰ Última atualização: Dec 27, 2015 ⏰

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