O Mundo de Dentro

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Assim que entrei, um frio gigantesco fez meu corpo tremer. Uma angústia sem precedentes tomou conta. Aqui e ali eu via vultos negros passeando. A cada segundo se tornavam mais distintos. Tomando a forma de fantasmas negros encapuzados, alguns corcundas, outros já com as características humanas totalmente comprometidas. Elas chiavam, ganiam, gritavam. A cena era aterradora. Controlei a vontade de sair correndo de lá. Estava ali por Mikail. Ele lutaria por mim, independente de quão absurda pudesse ser a situação. Ao pensar em Mikail os fantasmas pareceram ficar irritados. Olharam para mim como se eu fosse um intruso, mas não se atreveram a se aproximar. Apenas me olhavam. Continuei a andar até o sofá de Mikail, mas quanto mais eu me aproximava, mais parecia que ele ficava distante. Um certo desespero começou a me dominar. E se eu não conseguisse salvá-lo? E se eu não conseguisse ser forte o suficiente? Eu era forte? Minha pernas começaram a pesar. Quando olhei para baixo percebi que o assoalho já não era mais algo firme, mas sim úmido e afundava sob o peso de meus pés. Tudo a minha volta parecia se transformar. Não estava mais em uma sala. O ambiente era outro, mais pesado denso. A toda parte mais e mais fantasmas apareciam. Ao longe vi uma ávore gigantesca e lá uma fraca luz brilhava. Eu não conseguia ver direito, pois haviam dois homens gigantescos com cajados que emanavam uma luz arroxeada. Traziam no rosto um sorriso malicioso e me encaravam como se preparados para um desafio. Tentei andar novamente, mas meus pés não se moviam. Olhei-os e vi duas correntes gigantescas a fixarem-nos ao chão. Eu estava impotente. Eu queria e precisava salvar Mikail, mas me sentia fraco sem forças. Aquilo me amedrontava. E se eu realmente não tivesse essa capacidade? E se eu não conseguisse ser forte o suficiente? O que seria de Mikail? O que seria de mim?
Tudo aquilo começou a girar em minha mente. Comecei a perceber os fantasmas que antes se mantinham distantes a se aproximarem pouco a pouco de mim. Seus sorrisos ácidos pareciam mais vivos e sedentos. Me vi encurralado. Em minha mente um longa metragem de minha vida se desenrolava. Minhas quedas, meus sofrimentos, minhas dores, minhas angústias. Tive vontade de gritar de chorar, mas a minha garganta parecia estar selada em um silêncio perpétuo.

Olhos que SentemOnde histórias criam vida. Descubra agora