Incoerências

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Eu não conseguia entender. Como ele podia ter feito aquilo comigo? Não depois daquele dia na represa. Se ele tivesse feito isso antes ou sem ter dado aquele sinal de que nutria algo por mim eu entenderia, não me sentiria da forma como estava me sentindo. Eu realmente me sentia traído. Com milhões de perguntas que giravam em minha mente. Mas algo em mim gritava que era mentira. Era como se uma voz ecoasse em minha mente pedindo para reviver aquele momento e me atentar mais para os detalhes. Entretanto eu estava demasiadamente machucado por dentro. Não ia me machucar mais ainda.

Fora que eu não compreendia o fato de me sentir traído. Eu não tinha nada com ele, mas era como se eu já tivesse. E aquilo doía muito. O pior de tudo era o recado que ele mandara pela mesma pessoa que ele beijara. Dissera que precisava conversar urgentemente comigo. Que precisava me mostrar algo. Mas quanto mais eu pensava nisso, mais as coisas ficavam estranhas. Menos a história parecia fazer sentido, mas eu vira. Eu vira ele de olhos fechados sorvendo aquele beijo, até o corpo estava praticamente entregue a ele.

Meu cérebro deu um estalido. Aquela cena estava estranha. Olhos fechados, corpo mole, suor excessivo. Como eu fui idiota. Ele não estava entregue ao beijo, ele estava totalmente vulnerável. Ele estava desmaiado. E aquele desgraçado estava aproveitando a oportunidade. Mikail havia me contado que Alexander era a fim dele, mas que não queria nada além da amizade e que o respeitava como ser humano, mas que nunca haveria nada com ele. Que ele gostava era de outra pessoa, mas que sabia que nunca seria correspondido. Cheguei a acreditar que fosse Lucinda, a melhor amiga dele. Ele sempre andava com ela e vivia no abraço com ela, só que ela tinha namorado. Como eu fui idiota esse tempo todo. Era mais do que claro que ele falava de mim. Comecei a lembrar naqueles poucos segundos a forma como ele agia comigo. Ficava meio encabulado, mas vivia dizendo que adorava minha companhia. Que eu não era como os outros. Lembrei a forma como ele ficava totalmente concentrado quando eu estava atuando, olhando com olhos carregados de expectativa e curiosidade. Era como se eu fosse a peça completa, como se eu fosse aqueles atores extraordinários que encatavam a muitos. Ele cuidava de mim e vivia preocupado em saber se eu tomava meus remédios. E brigava comigo quando eu dizia ter esquecido. Todo aquele carinho, afeto e preocupação e eu insensivelmente não me deixara perceber. Não conscientemente, mas o meu coração não perdera um único detalhe.

Não tinha muito tempo para devaneio, precisava achar Mikail o mais rápido que eu pudesse. Corri para o jardim, mas não havia mais ninguém por lá. Corri para a enfermaria.

Olhos que SentemOnde histórias criam vida. Descubra agora