"Coisa de gente esforçada, não é?"

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     O Vazio é um idiota.

     Ele ia e voltava, como se tivesse mais alguém para atazanar. Ia embora apenas para desesperar-me, logo chegando sem mais nem menos como um taco de beisebol na cabeça.

Isso não me ajudava muito a lidar com tudo aquilo que vertia em meu interior, todas aquelas emoções que eu sabia quais eram quando outros sentiam-nas, mas que já faziam tantos anos com O Vazio amortecendo-as que nem lembro mais o que significam quando em meu interior.

     "Para a minha sorte", Razão voltou.

     Ela é a voz que sussurra verdades dolorosas em meus ouvidos a todo momento, apenas para que eu não esqueça de como sou um ser desprezível.

Ah, e tinha o Senku.

Ele não foi dormir naquela noite.

Nem na seguinte.

Muito menos naquelas que se seguiram.

Mesmo que uma voz em minha cabeça dizia que ele ficaria doente, não movi um músculo para convence-lo a cuidar-se melhor.

Afinal, eu não era um cientista importante que trabalhou e ralou duro noite e dia em suas pesquisas como ele. Do que eu sabia sobre isso? Ou sobre esforço?

...

— Gen-sensei, aconteceu alguma coisa com você e o Senku?

— Nada demais, Suika-chan! — vesti meu sorriso doce, e foi a dor de ser empalado pela Kohaku que tomou conta de meus sentidos — Ele só é ocupado!

— Ele ficou estranho esses dias. — Kinrou pontuou, concentrado em seu exercício de caligrafia — Fica o dobro do tempo no laboratório, se é que isso é possível.

— Coisa de gente esforçada, não é? — dei de ombros, coçando o nariz pela milésima vez em cinco minutos.

"Você não entenderia, Gen" completou Razão.

— A Suika espera que ele fique com a gente no Natal ...

— Nem me fala, cara! — Chrome tinha os olhos brilhando de empolgação — Com tudo o que o Ryusui falou sobre o Natal, vai ser mucho loco esse ano!

— Mal posso esperar p'ra ver o que François vai fazer de gostoso ... — a pequena quase babava de expectativa.

     A espada imaginária de Kohaku girou dolorosamente em meu peito. Funguei, fingindo observar os movimentos de Kinrou e Chrome com o pincel de Kanji.

     Nenhum presente que eu fizesse a eles chegaria aos pés do que eles mereciam.

     O arder de olhos continuou presente por toda aquela tarde de estudos, mas nenhuma lágrima irrompeu. Espirrei cerca de dez vezes e tossi duas naquele prazo.

     Faltava cerca de um mês para o Natal.

Boa pessoa [Gen Asagiri]Onde histórias criam vida. Descubra agora