"(...) ele está nessa situação por pura, simples e genuína vontade"

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— Isso 'tá começando a ficar ridículo, Gen.

     Suspirou pesarosamente, irritado. Espirrou.

— Eu não sou a babá do Senku, Ukyo-chan.

— Nunca disse que você era. — seu olhar era afiado ao dizer, sério — Mas, até onde me consta, vocês são amigos.

— Você já deve saber exatamente o que nós somos e como ele está nessa situação por pura, simples e genuína vontade. E, mais do que isso, deve ter escutado o que aconteceu quando tentei ajudar ele.

     Pigarreou para afastar a coceira da garganta enquanto tentava aliviar o peso de Yuzuriha ao tecer tecidos para cobertores, casacos ou para as velas do navio que construíam. Saionji, apesar de fazer a mesma tarefa, observava Asagiri atentamente.

     Por fim, também suspirou. Sem desviar os olhos do próprio tear, confessou:

— É, eu ouvi a discussão de vocês naquela noite.

     O bicolor riu amargamente.

Patético, não é?

— Não foi aí que eu quis chegar.

— Não tem aonde mais chegar, Ukyo-chan.

— Claro que tem. Tem onde o Senku falou merda porque o sono 'tava consumindo todo aquele QI assustadoramente alto e o pouco de inteligência emocional que ele tem.

— Com sono ou não, querendo dizer aquilo ou não, não importa. — coçou o nariz gelado — Eu sou patético de qualquer forma.

— Quer parar com essa história de ser patético!? — ralhou, seu olhar-corta-almas cravado em Gen — Você sabe que o que o Senku disse não é verdade!

     Silêncio agonizante pairou sobre ambos, como quando se arranha uma lousa de giz com as unhas e para de repente.

     Os olhos de Gen arderam, mas ele não desgrudou-os do tear. Fungou pela bilionésima vez.

— Gen, me responde: você sabe que não é verdade, não é?

     Não teve coragem de responder. Muito menos com Razão fazendo a festa em sua cabeça e O Vazio bloqueando seus sentidos e garganta.

     Foi constrangimento que irrompeu em seu interior quando o albino forçou sua cabeça a virar para si.

     Patético. Patético. Patético.

— Gen, você não acreditou naquilo, acreditou? — o olhar verde do amigo rasgava sua alma ao meio.

     Água irrompeu do Vazio, e Razão repetia como era patético patético patético e fraco e estúpido e fraco e emotivo e fraco-

— O Senku aguenta as noites mal dormidas. — falou, a voz trêmula e quebrada pelo choro — Ele aguenta o trabalho pesado, e todas as longas horas sem descanso. Eu ... e-eu não ...

     Ukyo quis bater em Gen.

     E em Senku.

     Repetidas vezes.

     De preferência, com alguma coisa pesada, e de forma que ambos apagassem e só acordassem depois de descansarem bem.

     (In)felizmente, não o fez: abraçou ao bicolor, da mesma forma de quando ele confessou o quão machucado e quebrado estava.

     Porque bater nele não o convenceria de que era uma pessoa forte, uma das mais fortes que já conhecera.

Boa pessoa [Gen Asagiri]Onde histórias criam vida. Descubra agora