Boa pessoa [Gen Asagiri]

"Não cite Fullmetal Alchemist tão levianamente, Yuzuriha-chan"

Semanas passaram como instantes e, logo, todos começavam a resgatar suas roupas mais grossas para suportar a temperatura que caía aos poucos.

Os preparativos para o inverno estavam quase no fim – e, desta vez, comida não parecia um grande problema para o Vilarejo Ishigami –, o que disponibilizava mais mão-de-obra para a construção do navio.

E havia aqueles que arquitetavam todo um plano meticulosamente calculado para surpreender pessoas queridas no dia 25 de dezembro mesmo que estivessem no início de novembro.

Gen incluía-se em "aqueles".

— Sabe, eu não imaginava que você soubesse bordar. — confidenciou Yuzuriha, tecendo tecido atrás de tecido para novas roupas de inverno para todos da vila.

— Hehe ... — coçou a nuca, vestindo uma faceta tímida e um sorriso doce — Minha mãe que me ensinou.

"Ela bordava de tudo para conseguir um dinheiro extra antes de me largar com o traste do meu pai."

— A minha também, mas foi só o básico. — seu olhar tornou-se meio sombrio — Sabe. O suficiente p'ra que eu fosse uma boa esposa algum dia.

     Engoliu saliva, temeroso quanto ao rumo da conversa.

— Seus pais ... eram bem tradicionais, né?

— Pode se dizer que sim. — deu de ombros, terminando o acabamento de mais um rolo de tecido — Não é como se eu não quisesse me casar algum dia, mas ... machuca.

     Fitou a bagunça de pontos que fazia, O Vazio tremendo com a intensidade da dor e compaixão que queriam verter. Nada, porém, saiu dele.

— Parece que mais da metade do Reino tem questões delicadas com os pais, Yuzuriha-chan. Bora fazer terapia em grupo? — brincou, ganhando risadas doces da mencionada.

— Não é uma má ideia ... — olhou ao redor para certificar-se de que estavam sozinhos, logo acrescentando — O Taiju traria o Senku nem que fosse acorrentado.

— O Senku-chan tem questões com o Byakuya?

— Não, não. Com o pai biológico dele.

— Ah. — sua cabeça ligou aos pontos — Oh. Isso dói.

— Então você entraria na terapia em grupo p'ra pessoas com questões com os pais? — questionou, curiosa, ao iniciar a tecelagem de mais um rolo de tecido.

— Pode se dizer que sim. — repetiu a fala dela, fazendo-a rir novamente e assumindo uma faceta borocoxô — Mas ninguém ia me ver da mesma maneira, então não.

— Da mesma forma que não te veríamos da mesma maneira, você não veria mais ninguém como antes. É uma troca equivalente.

— Não cite Fullmetal Alchemist tão levianamente, Yuzuriha-chan.

— Não foi uma citação leviana! — inflou suas bochechas, levemente irritada — Tem gente aqui querendo te ajudar, ué!

"Mas se realmente for demais, você não consegue sozinho. Daí ... a gente fica na merda juntos. E isso é mais leve que 'ta na merda sozinho."

O Vazio tremeu desde sua base, mas permaneceu firme e forte.

— Nem todos podem ser salvos. — simplesmente disse, voltando a trabalhar em seu bordado, dando a conversa por encerrada.