Prólogo

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     Gen sempre notava como Senku tinha uma certa peculiaridade ao comer lamem.

     Havia algo de nostalgia em seus olhos, algo até solene ao levar a comida à boca. Mesmo quando tinha pressa no ato, o "algo" dava o ar das graças.

     Achava isso intrigante e bonito.

— A sua ideia de fazer lamem foi muito boa, Senku-chan~! — cantarolou, mexendo o conteúdo da própria tijela com os hashis.

— Ku-ku-ku — desdenhou — Precisávamos de algo que sustentasse e fosse viável. Só fui pelo que era mais lógico.

— Então você costumar comer lamem com o seu pai no mundo moderno não tem nada a ver, Senku? — Taiju intrometeu-se na conversa, sorridente.

     O albino quase guspiu a comida pela surpresa. Fuzilou ao melhor amigo com o olhar.

     O bicolor ficava cada vez mais curioso e intrigado quanto ao rumo daquela conversa.

— Claro que não, seu idiota! Isso não seria nem um milímetro lógico!

— E precisa ter lógica em tudo?

— Taiju-chan, por mais que eu concorde que não consigamos aplicar lógica em tudo e o coração manda às vezes ... — começou, e o cientista revirou os olhos com isso — neste caso, era o melhor a se fazer: pensar na praticidade, e não na preferência pessoal.

— Dez bilhões de pontos p'ra você, Mentalista. — concedeu, tornando a comer.

— De qualquer forma, eu queria ter memórias assim com meus pais. — remexeu o conteúdo de sua tijela, sem no entanto ter um pingo de melancolia ou tristeza no gesto — Eles morreram quando eu era pequeno, sabe?

Ah ... sinto muito, Taiju-chan.

— Tudo bem. O pouco que me lembro deles é gostoso de lembrar! Então ... acho que não é assim tão ruim.

— Fora que o meu velho praticamente te adotou. — torceu o nariz em desgosto — Nhe. Nunca mais tive um só dia de paz desde então.

     A dupla continuou discutindo por longos minutos sobre acontecimentos passados de suas vidas, trocando comentários incisivos de vez em quando, mas o bicolor não mais prestava total atenção no diálogo.

     "O pouco que eu lembro deles é gostoso de lembrar!"

     Sorriu amargo, O Vazio já tão familiar engolindo seu peito.

     Até certo ponto, o mesmo aplicava-se a si.

     Mas Gen preferia nunca lembrar de nada relacionado aos seus pais – sua mãe, melhor dizendo – se isso significasse que seus demônios também sumissem.

Boa pessoa [Gen Asagiri]Onde histórias criam vida. Descubra agora