I 1.4 Espiral de Alim

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- Bem, Meu Raj... Já ouviu falar em uma Espiral de Alim? – perguntou Serena, desenhando um redemoinho confuso em um papel à sua frente.

Ela encarou os olhos atentos de Noa, tentando se esquecer dos outros homens no escritório. Estavam nos aposentos pessoais de Rariff. Serena nunca tinha estado ali, mas conhecia cada detalhe do escritório e do quarto. Tinha visto, mais de uma vez, através dos pulsos de Hannah como era o ambiente aconchegante em que Noa vivia. Ela conhecia a sensação dos lençóis sedosos na ponta dos dedos e sabia como os raios de Amandeep iluminavam o chão através das cortinas, a qualquer hora do dia. Ao entrar ali pela primeira vez, era impossível afastar a sensação de reconhecimento e até de invasão, sabendo que testemunhara muito mais do que Rariff imaginava. Porém, logo, Noa entenderia que, por mais que tentasse, não conseguiria manter muitos segredos dela.

Na mesa do escritório, Serena estava de frente para Noa, com Damien ao seu lado. Ao lado do Kaal, com os cabelos perfeitamente penteados e a barba recém-feita, estava Joshua Blake.

Serena sabia o quanto Blake era amigo de Rariff e, agora que a guerra se aproximava, Noa dividia todas as informações com ele. E Rariff estava determinado a fazê-la explicar tudo o que sabia, o que implicava que ela, Serena, abriria para Blake todo o seu jogo, mostraria todas as suas cartas, deixaria tudo exposto...

Desenhou uma moldura no papel, em volta do redemoinho, lembrando-se das suas primeiras lições de ghaya.

- Não... Nunca ouvi falar em Espiral de Alim – confessou Noa, apoiando um cotovelo na mesa.

- O destino de Hannah caiu em uma espiral. Vou explicar o que é para o senhor... Há três tipos de previsões do futuro... Há aquelas que nasceram com o nosso mundo, que são a moldura que define nossas vidas, desenhadas por Alim para os filhos de Laranjeira desde os primórdios. Essas são as profecias. Antigas, sagradas, soberanas.

- A profecia do Portal – apontou Noa.

- Sim, a profecia do Portal. O último Maël vai abrir o Portal que dá acesso à cidade dos deuses. Mas essas profecias são conhecidas e passadas de geração em geração há tantos anos... Seus detalhes se perderam. Não há uma versão oficial. Não sabemos muita coisa... Podemos escolher uma versão, aquela que acreditamos ser a mais fiel... Na Ilha, escolhemos a versão dos Maël. Quando apenas um Maël restar, não haverá a quem clamar. Por sua família, ele o fará, e o Portal se abrirá. É importante saber qual versão da profecia você está seguindo... Como eu disse, há muitas versões. Mas escolhemos essa, porque é a mais abrangente.

- Quais as outras? – perguntou Joshua.

- Há dezenas. Mas algumas das versões falam em "proteção". Algumas falam em "morte". Algumas falam em "escolhido" – Serena levantou os olhos rapidamente para Noa, mas logo voltou sua atenção para o papel. – Esta versão fala apenas em "por sua família".

- Como Hannah tem sangue de Amadum, então a família teria que ser um descendente? Um filho? – questionou Noa.

- Não... É como Yezekael já explicou... Os aymanistas aceitam o seu par na sua família completamente. Não há distinção entre os seus parentes de sangue e aquele com quem um aymanista decide viver. Portanto, aquele que é o escolhido de Hannah faz parte de sua família. Pode ser por ele que ela abriria o Portal.

- Mas por quê? Os Maël são o motivo pelo qual o Portal foi fechado. Os deuses queriam proteger seus filhos favoritos de Babakur – contestou Joshua.

- Sim... Não sabemos o motivo da abertura... Nem como poderia ser feito. Os Maël jamais abriram o Portal, eles apenas o guardavam...

- Serena... Por que diz que não pode ser um descendente? Acredita nesses rumores sobre Elia Maël? – perguntou Noa.

O Portal III | Livro 3 - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora