I 1.2 Mentiras

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Foi a contragosto que Serena seguiu Bryanna para o quarto de Hannah, onde Gaetana e Leila já estavam desde o início da manhã. Já tinha problemas demais na sua própria conta, mas, como amiga, ao menos aquele suporte poderia oferecer. Na saleta adjacente ao quarto que, um dia, abrigara a brinquedoteca do kaal Niall, aquela conversa parecia estranhamente apropriada. Serena acariciou um cavalo de Aamadu empoeirado na estante praticamente vazia.

Tentou evitar uma careta quando Bryanna começou a falar bem rápido, revelando seus infortúnios em uma enxurrada de informações que pareciam dispostas a afogar Gaetana e exauri-la antes mesmo que reagisse, mas o plano da amiga falhou.

- Grávida?! – berrou Gaetana, seus olhos verdes mirando a jovem ruiva à sua frente, incrédulos. Ela olhou de Bryanna para Serena, com um semblante acusador.

Serena se sentou no tapete estrelado, exausta, deixando que Bryanna se explicasse. Queria, ao menos uma vez, ser responsabilizada pelos próprios erros. Por que não poderia ela ser a grávida inconsequente? Por que não poderia ser ela levando uma bronca como uma criança boba por ter engravidado de Damien?

Mal consigo levá-lo para a minha cama, pensou, irritada.

- Eu sei, mestra, fui uma tola... – começou Bryanna, com lágrimas nos olhos. – Mas algo de bom saiu disso. Eu fui capaz de curar Damien. Apenas por causa disso.

- O que está dizendo, Bia? – perguntou Leila, levantando-se da poltrona onde antes estava recostada, com uma expressão chocada.

- Leila, quando Bryanna foi abençoada com uma criança, seu poder se intensificou. Se antes ela não seria capaz de curar Damien, agora ela o fez e, com o bebê crescendo em seu ventre, seu poder é ainda maior – explicou Serena, assumindo um tom prático.

- Você viu isso, Serena? – perguntou Gaetana.

- Vi – admitiu. – Eu vi, mas não foi por isso que eu não interferi, Gaetana. Amo Damien. Não posso negar isso, mas não consigo ver tudo que está em seu futuro. Apenas deixei que Bryanna fizesse suas próprias escolhas.

Gaetana a mirava com olhos duros e decididos, então perguntou: - E quanto ao pai?

- Ele não sabe – suspirou Bia.

- É esse o seu desejo? – questionou a mestra.

- Eu não sei – sussurrou Bryanna, confusa. – Às vezes, penso que sim... Que ele é imaturo e irresponsável... Mas como vou esconder uma criança? Ele tem o direito de saber... Mas, por outro lado, temo que Rariff vá ficar furioso a ponto de matá-lo.

- Rariff? – questionou Leila, confusa.

- Sim – suspirou Serena. – O pai do bebê é Liam Roparzh, um dos melhores amigos de Noa Rariff... E, quando percebeu o interesse de Liam em Bryanna, Rariff mandou que se afastasse. Ordenou. E Liam, bem... O contrariou. E o kaal ainda não sabe até que ponto Liam traiu sua ordem... E detesta ser contrariado.

Gaetana caminhou pelo quarto, os cabelos castanhos esvoaçando enquanto ela balançava a cabeça de um lado para o outro. A decepção era evidente nas suas feições e Serena percebeu que Bryanna tremia ao seu lado. Levantando-se, pousou uma mão sobre o seu ombro, na tentativa de confortá-la. Quando Gaetana, finalmente, resolveu falar, suas bochechas estavam vermelhas.

- Bryanna, precisa contar isso para Raoul. Já deveria ter contado antes. Estou surpresa que ninguém desconfiou. Francamente! Grávida! Eu não a alertei justamente contra esse jovem? Pelos deuses, a sua fama o precede!

- Se acalme, meu amor. Bryanna já sabe que errou – interveio Leila, apaziguadora. – Bem que eu me surpreendi com suas habilidades, Bia... Não conseguiu curar Damien dessa vez, mas foi por pouco... É uma pena que tenha precisado do sangue de Amadum. Sinto muito, Serena.

O Portal III | Livro 3 - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora