01. À PRIMEIRA VISTA

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Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim,

disse Deus: Não comereis dele,

Nem nele tocareis

Para que não morrais.

(Gênesis, 3:3)

Nunca pensei muito em como morreria - embora nos últimos meses tivesse motivos suficientes para isso - mas, mesmo que tivesse pensado, não teria imaginado que seria assim.

Olhei fixamente, sem respirar, através do grande salão, dentro dos olhos escuros de minha caçadora, e ela retribuiu satisfeita o meu olhar.

Sem dúvida era uma boa forma de morrer, no lugar de outra pessoa, de alguém que eu amava. Nobre, até. Isso devia contar para alguma coisa.

Eu sabia que, se nunca tivesse ido a Forks, agora não estaria diante da morte. Mas, embora estivesse apavorada, não conseguia me arrepender da decisão. Quando a vida lhe oferece um sonho muito além de todas as suas expectativas, é irracional se lamentar quando isso chega ao fim.

A caçadora sorriu de um jeito simpático enquanto avançava para me matar.

***

Na península Olympic, do noroeste do estado de Washington, há uma cidadezinha chamada Forks, quase constantemente debaixo de uma cobertura de nuvens. Chove mais nessa cidade insignificante do que em qualquer outro lugar dos Estados Unidos.

Foi desse lugar e de suas sombras melancólicas e onipresentes que minha mãe fugiu comigo quando eu tinha apenas alguns meses de idade. Nessa cidade eu fui obrigada a passar um mês a cada verão até ter 14 anos. Foi então que finalmente bati o pé. Nos últimos três verões, meu pai, Alejandro, passou passou duas semanas de férias comigo na Califórnia.

Era em Forks que agora eu me exilava - uma atitude que assumi com muito pavor. Eu detestava Forks.

Eu adorava Phoenix. Adorava o sol e o calor intenso. Adorava a cidade vigorosa e esparramada.

- Mila - disse minha mãe, pela centésima vez, antes de eu entrar no avião -, você não precisa fazer isso.

Minha mãe era parecida comigo. Senti um espasmo de pânico ao fitar seus olhos arregalados e infantis. Como eu podia deixar que minha mãe amorosa, instável e descuidada se virasse sozinha? É claro que agora ela tinha o Janssen, então suas contas seriam pagas e teria alguém para protege-la...

- Eu quero ir - menti. Sempre menti mal, mas ultimamente ando contando essa mentira com tanta frequência que agora parecia quase convincente.

- Diga a Alejandro que mandei lembranças.

- Vou dizer.

- Verei você em breve - insistiu ela. - Pode vir para casa quando quiser... Eu volto assim que precisar de mim.

Mas eu podia ver, nos olhos dela, o sacrifício por trás da promessa.

- Não se preocupe comigo - insisti - Vai ser ótimo. Eu te amo, mãe.

Ela me abraçou com força por um minuto e depois entrei no avião, e ela se foi.

Seriam ao todo 5 horas de voo para Portland e mais uma hora de carro até que finalmente estivesse em Forks. Voar não me incomodava; a hora no carro com Alejandro, porém, era meio preocupante.

Alejandro foi realmente gentil com tudo aquilo. Parecia realmente satisfeito que eu, pela primeira vez, fosse morar com ele por um período mais longo. Já me matriculara na escola e ia me ajudar a comprar um carro.

Twilight - CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora