Twilight - Camren

03. FENÔMENO

Quando abri os olhos de manhã, havia algo diferente.

Era a luz. Ainda era a luz verde-acinzentada de um dia nublado na floresta, mas de certa forma estava mais clara. Percebi que não havia um véu de neblina na minha janela.

Pulei da cama para olhar para fora e gemi de pavor.

Uma fina camada de neve cobria o jardim, acumulava-se no alto de minha picape e deixava a rua branca. Mas essa não era a pior parte. Toda a chuva da véspera havia se solidificado. Para mim, já era difícil não cair quando o chão estava seco; agora devia ser mais seguro voltar para a cama.

Alejandro saíra para o trabalho antes que eu descesse ao primeiro andar. De muitas maneiras, morar com ele era como ter minha própria casa, e eu percebi que me divertia com a solidão, em vez de me sentir solitária.

Engoli rápido uma tigela de cereais e um pouco de suco de laranja. Sentia-me empolgada para ir para a escola e isso me assustava. Eu sabia que minha expectativa não vinha do ambiente de aprendizado, nem de ver meu novo grupo de amigos. Para ser sincera comigo mesma, eu sabia que estava ansiosa para ir para a escola porque veria Lauren Jauregui. E isso era uma grande estupidez.

Eu devia evitá-la inteiramente depois do meu tagarelar desmiolado e constrangedor de ontem. E eu estava desconfiada; por que ela mentiria sobre os olhos? Eu ainda tinha medo da hostilidade que às vezes sentia emanar dela, e ainda ficava sem fala sempre que imaginava seu rosto perfeito. Estava bastante consciente de que a minha praia e a praia de Lauren eram universos que não se tocavam. Então eu não devia estar com essa ansiedade toda para vê-la hoje.

E... Talvez, ela fosse hétero.

Sim, talvez eu também seja mas... Foi ontem, antes de dormir e depois de muita reflexão e tapas mentais que decidi parar de tentar me definir (visto aos recentes pensamentos confusos que tenho tido direcionados a uma outra menina). Veja, eu nunca namorei, nunca me atraí de verdade por alguém... Não quero alimentar paranoias e amarras. Logo, "continue a nadar", a Dory nunca esteve tão certa!

Embora, não sei o que eu espero com isso. Em todos os cenários, não seria recíproco de qualquer maneira... Ela é linda! E novamente, nossos mundos não são os mesmos.

Precisei de toda a minha concentração para descer viva até a entrada de carros de tijolos congelados. Quase perdi o equilíbrio quando finalmente cheguei à picape, mas consegui segurar no retrovisor e me salvar. Estava claro que o dia de hoje seria um pesadelo.

Minha picape não parecia ter problemas com o gelo escuro que cobria as ruas. Mas dirigi bem devagar, sem querer traçar uma rota de destruição pela rua principal.

Na escola, quando saí do carro, vi por que tive tão poucos problemas. Havia correntes finas em torno dos pneus. Alejandro se levantara cedo para colocar correntes de neve na minha picape. Minha garganta de repente se apertou. Eu não estava acostumada com alguém cuidando de mim e a preocupação muda de Alejandro me pegou de surpresa.

Estava parada junto ao canto traseiro da picape, lutando para reprimir a onda de emoção que as correntes de neve me provocaram, quando ouvi um som estranho.

Foi um guincho agudo e estava se tornando rápida e dolorosamente alto. Olhei para cima sobressaltada.

Vi várias coisas ao mesmo tempo. Nada estava se movendo em câmera lenta, como acontece nos filmes. Em vez disso, o jato de adrenalina parecia fazer com que meu cérebro trabalhasse muito mais rápido, e eu pude absorver simultaneamente várias coisas em detalhes nítidos.

Lauren Jauregui estava parada a quatro carros de mim, olhando-me apavorada. Sua face se destacava do mar dr rostos, todos paralisados na mesma máscara de choque. Mas de importância mais imediata foi a van azul-escura que tinha derrapado, travado os pneus e guinchado com os freios, rodando como louca pelo gelo do estacionamento. Ia bater na traseira da minha picape e eu estava parada entre os dois carros. Não tinha tempo nem de fechar os olhos.