09. TEORIA

90 11 4
                                    

POSSO FAZER SÓ MAIS UMA PERGUNTA? — Pedi enquanto Laur acelerava rápido demais. Não parecia estar prestando atenção na estrada.

Ela suspirou.

— Uma — concordou. Seus lábios se apertaram em uma linha cautelosa.

— Bom... Você disse que sabia que eu não tinha entrado na livraria e que fui para o sul. Estou aqui me perguntando como sabia disso.

Ela desviou os olhos, refletindo.

— Pensei que tínhamos deixado as evasivas para trás — murmurei.

Ela quase sorriu.

— Tudo bem, então. Eu segui o seu cheiro. — Ela olhou a estrada, dando-me tempo para recompor minha expressão.

Não conseguia pensar em uma resposta aceitável a isso, mas arquivei a questão cuidadosamente para análise posterior. Tentei me concentrar novamente. Não estava pronta para deixar que ela encerrasse o assunto, agora que ela finalmente explicava as coisas.

— E você não respondeu a uma de minhas perguntas... — protelei.

Ela olhou para mim com desaprovação.

— Qual delas?

— Como é que isso funciona... O negócio de ler a mente? Pode ler a mente de qualquer um, em qualquer lugar? Como você faz isso? Toda a sua família pode...? — Eu me senti boba, fingindo querer esclarecimentos.

— É mais de uma — assinalou ela.

Eu simplesmente cruzei os dedos e olhei para ela, esperando.

— Não, só eu. E não posso ouvir todo mundo, em qualquer lugar. Tenho que estar bem perto. Quanto mais conhecida for a... “voz” da pessoa, maior a distância em que posso ouvi-la. Mas ainda assim, só a poucos quilômetros. — Ela parou pensativamente. — É meio como estar em uma sala enorme cheia de gente, todos falando ao mesmo tempo. É como um zumbido... Uma buzina de vozes ao fundo. Até que me concentro em uma só voz, e depois o que ela está pensando fica claro.

Ela continuou:

— Na maior parte do tempo, fico fora de sintonia... Isso pode me distrair muito. E depois, assim é mais fácil parecer normal — ela franziu a testa quando disse a palavra —, quando não estou respondendo por acidente aos pensamentos de alguém, em vez de às palavras.

— Por que acha que não pode me ouvir? — perguntei, curiosa.

Ela olhou para mim, os olhos enigmáticos.

— Não sei — murmurou. — A única suposição que eu tenho é que talvez sua mente não funcione da mesma maneira que a mente dos outros. Como se seus pensamentos estivessem na frequência AM e eu só pegasse FM. — Ela deu um sorriso duro para mim, divertindo-se de repente.

— Minha mente não funciona bem? Eu sou alguma aberração? — As palavras me incomodavam mais do que deviam, provavelmente porque a especulação dela acertara na mosca. Eu sempre suspeitei disso e me constrangia ver tudo confirmado.

— Ouço vozes em minha mente e está preocupada que você seja a aberração — ela riu. — Não se preocupe, é só uma teoria... — Sua face se enrijeceu. — O que nos leva de volta a você.

Suspirei. Como começar?

— Já não deixamos as evasivas para trás agora? — ela me lembrou delicadamente.

Desviei os olhos de seu rosto pela primeira vez, tentando encontrar as palavras. Foi por acaso que vi o velocímetro.

— Mas que droga! — gritei. — Reduza!

Twilight - CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora