❆Capítulo um: Perdido.

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      Não consigo respirar, meus pulmões estão congelando junto com meu coração. Não sinto meus braços, muito menos minhas pernas. É como se milhares de fragmentos cortassem meu corpo a cada segundo que se passa. Não consigo fechar os olhos, as pálpebras estão petrificadas assim como minha boca. Não sei como vim parar aqui ou ao menos meu nome, não me lembro de absolutamente nada, mas de qualquer forma, não é como se essas informações fossem me ajudar agora.

      Acordei há algumas horas atrás, no meio dessa tempestade de neve. Uma película que me envolvia simplesmente começou a desaparecer, me deixando completamente exposto ao frio mortal desta montanha. Eu provavelmente irei morrer e não demorará muito, meus sentidos mal estão funcionando e eu não possuo nenhuma esperança de sobreviver a esta situação.

      Eu tenho muitas perguntas em minha mente, perguntas que não serão respondidas. Talvez seja melhor assim, não me lembrar de nada, ao menos morro sem arrependimentos ou angústias.

      Mais alguns minutos se passam, é como se minha alma estivesse sendo congelada junto com minha consciência, e eu estava quase, quase adormecendo para sempre, mas o rumo dos planos foi completamente para fora da curva.

      Repentinamente, uma forte luz se aproximava em meio a toda tempestade, ela refletia no chão em um alcance suficiente para que eu a enxergasse. Com a pouca audição que me restava ouvia passos profundos afundarem na neve. Não conseguia olhar para cima ou para os lados, mas sentia a fonte de calor que emanava da luz lutar contra o frio em meu corpo, contudo, foi em vão, minha visão ficara completamente escura e minha consciência vazia.

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      O frio havia cessado. Não sentia mais o cheiro eminente da morte. Meu corpo recobrava seus sentidos aos poucos. Minhas pálpebras se abriam lentamente, eu estava envolto em uma espécie de manto grosso e peludo, parecia ser de algum animal. Deitado em uma espécie de cama improvisada, eu observava o ambiente ao redor. Cuidadosamente, eu tentava me sentar, mas ainda sentia algumas dores nas pernas. Era tudo relativamente pequeno, uma lareira ao meio daquela espécie de cabana aquecia todo o local com suas fortes chamas.

      Minha primeira reação foi uma dolorosa tosse que arranhara toda minha garganta, logo depois uma sequência de espirros. Eu esfregava meu nariz e olhos com as duas mãos. Em uma tentativa de me aproximar da lareira, tentei levantar-me, péssima ideia, não tinha força alguma para andar. Caí no chão e com os braços e pernas fracas tentei levantar. Nesse exato momento, ouvi a pequena porta de madeira se abrir, o frio quase entrava com a corrente que invadia o local.

      - Oh, você acordou! - Uma voz doce e aguda preencheu a sala. Com as poucas forças que tinha, olhei em sua direção. Ali, havia uma garota pequena, usava óculos e possuía cabelos verdes, ela vinha para perto de mim parecendo preocupada. - Por favor, não se esforce, você passou por um forte trauma corporal, não pode ficar mais exausto do que já está ou poderá morrer! - Ela colocou meus braços ao redor de seus ombros e me colocou novamente na cama. - Sei que deve estar sentindo frio, tentarei trazer um aquecedor portátil, ele poderá ficar mais próximo de você. - A garota deixou alguns papéis em cima de uma cômoda e saiu da cabana.

      Não fazia ideia do que estava acontecendo, mas aparentemente tinham me salvo da dolorosa morte que teria se ficasse um pouco mais lá. Por baixo do manto, me encolhi e abracei minhas pernas em uma tentativa de me aquecer, sem perceber, voltei a dormir.

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      Mais uma vez, havia acordado, mas desta vez, os raios solares invadiam o ambiente através das janelas da sala. Eu me sentia relativamente melhor, conseguia me sentar com mais facilidade e meu corpo já não doía tanto quanto antes. Ao observar o lado de fora, a nevasca parecia ter passado. Eu ouvia diferentes vozes conversarem no ambiente externo. Estava morrendo de fome, poderia comer qualquer coisa que visse em minha frente.

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