Eu Peguei

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Eu estou infectado. E você sabe com o que eu estou infectado. Você viu no noticiário, a Organização Mundial de Saúde chamou de pandemia outro dia. Eu nunca pensei que isso iria me infectar, mas me infectou. Agora eu não sei o que fazer.

Ao contrário de algumas pessoas da minha idade, eu não tenho um bom salário. Não posso faltar ao trabalho. Eu recebi um aviso do meu patrão, se aparecesse com outro atestado médico, desde que torci o tornozelo em janeiro. Você sabe, pra ter certeza de que não estou me aproveitando da paranóia pra não trabalhar.

O problema é que não posso pagar as contas. Depender de hospitais públicos? O caos da saúde já se instaurou. Eu sei que preciso me colocar em quarentena, mas não tenho como fazer isso. Não posso pagar o aluguel, se eu não sair e fazer dinheiro. Você sabe o que eu preciso fazer. Mas não tenho certeza se tenho estômago pra fazê-lo.

Eu verifiquei o relógio e tomei uma dose de paracetamol. 45 minutos até meu turno começar. Preciso me mexer. Colocando uma máscara, quebrei a quarentena.

Enquanto eu andava de ônibus, a doença saía de minha boca como uma espessa névoa verde. Meus gases nocivos carregavam pequenos germes maliciosos. Uma criança olhou pra mim. Predadores microscópicos atravessaram sua pele, entrando em seus olhos e boca. Logo ela também vazaria verde. Eu a imaginei doente e morrendo. Imaginei todas as pessoas que seus vapores infernais infectariam. Ela sorriu pra mim. Sorria um pouco, enquanto você pode, sorria, antes que a praga comece.

Ao descer do ônibus, assisti a mil suicídios sutis. Um homem em um banco lambeu o ketchup na mão e começou a vazar verde. Um menino bebeu de um bebedouro público e começou a vazar verde. Uma mulher, já vazando, beijou o marido, regurgitando o verde em sua boca.

Eu tossi. Os que estavam perto recuaram. Se eles apenas vissem o que eu podia ver, eles iriam cair em lágrimas.

Quando eu apareci no trabalho, o gerente gritou comigo, e disse pra eu tirar a minha máscara. Ele me disse que estou assustando os clientes, enquanto cuspia insultos como um lança-chamas tóxico. Eu protestei, mas ele insistiu, vai ficar tudo bem. Eu lavei as minhas mãos, sujando-as novamente no segundo em que elas tocaram a minha respiração.

No momento em que me aprontei, a praga encheu o prédio como uma caixa quente contaminada. Eu pensei em sair, eu pensei em fugir, mas eu não o fiz. Invés disso, sorri e cumprimentei a minha próxima vítima. “Bem-vindo ao Burger King - cof cof. Posso anotar o seu pedido?”

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