Diário de uma Gorda

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Querido diário... É assim que a gente começa essas coisas, certo? Eu nunca tive um diário antes, e nem quero, mas o hospital disse que eu tenho que fazer isso como parte do meu "plano de tratamento". Haha, engraçado. Tá, deixa em voltar um pouco. Eu sempre tive um excesso de peso desde que eu era uma criança. Fui de uma escola cristã rigorosa e felizmente, por causa disso, nunca fui intimidada por causa do meu tamanho, mas eu sempre percebia que as outras crianças ficavam me encarando. Viram quando eu cresci. Eu simplesmente parecia expandir em todas as direções, exceto a única maneira que eu queria. Então eu não sou só gorda, mas também muito baixinha. Você deve imaginar que isso não fez muito bem pra minha autoestima. Por causa do meu tamanho, eu sempre odiei a aula de educação física na escola. Em primeira lugar, tirar roupa na frente de todas aquelas garotas lindas e magras, que sempre ficam me olhando. Meu Deus, dá vergonha até de escrever. Eu podia sentir meu corpo inteiro ficar vermelho enquanto eu tinha todos os olhos em mim. E depois, tinha os exercícios. Eu tinha dores terríveis no meu peito e não conseguia correr mais de uma centena de metros. Nem tentaria jogos de equipe, ninguém me escolheria de qualquer forma.

Eu tentei dietas, todas as dietas que você pode imaginar. Dieta da lua, sopa de repolho, dia do ovo... Pode falar qualquer uma, eu já tentei. Mas elas nunca funcionam e eu sempre acabo ficando maior. As coisas ficaram realmente ruins há dois anos. Eu tenho dores realmente horríveis no peito e tive que ser levada correndo para o hospital. Os médicos disseram que o meu peso estavam em um nível perigoso e que meu coração estava sofrendo com isso. Eu tinha que mudar meus caminhos. Meus pais me imploraram pra mudar. Compraram todos os alimentos certos e até me assistiam enquanto comia. Mas eu mudei? Não. Ainda sou a mesma baleia gorda que sempre fui. Eu cresci.

Eu sei o que você estar pensando. Por que? Por que fazer isso comigo mesma? Por que fazer não só a mim mesma, mas também os meus pais passarem por isso? Bem, diário, eu vou te contar, é porque eu tenho zero autocontrole, ponto final. Porra, eu me odeio. Eu posso sentir minhas dobras de gordura. Eu odeio fazer compras de roupas, nada me serve. Às vezes, me sento na cama e choro, com o controle mínimo que eu tenho sobre a minha vida.

30/01/2018
Desculpa, diário, eu esqueci de colocar a data na última vez, mas foi a cerca de 3 semanas. Voltei de novo ao hospital com dores no peito. Os médicos me advertiram. Ouvi psicólogos sobre meu problema de peso. Além disso, nada muito pra relatar, continuo gorda e provavelmente sempre vou ser. Eu vou escrever alguma coisa aqui quando perder alguns quilos, talvez demore um pouco.





Olá, você, seja lá quem for que estiver lendo isso. Eu sou o pai da Ella, a menina que escreveu esse diário. A minha família está devastada e atravessa um momento muito difícil, desde que minha filha faleceu na semana passada. Ela sofria com anorexia nervosa por muitos anos, e no final seu coração não aguentou mais e desistiu. É claro agora, lendo seu diário, que eu não sabia que ela tinha até ter a oportunidade de olhar em seu quarto, que ela sofria com dismorfia corporal severa, acreditando que ela estava com excesso de peso. Ela pesava exatos 27 quilos quando morreu. Foi uma decisão difícil de tomar, mas eu decidi publicar esse diário para deixar como um aviso aos outros que estão sofrendo com essa doença ou conhece alguém que esteja. Às vezes, as coisas acontecem bem perto de você, e você simplesmente não consegue enxergar.

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