Capítulo 6

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O trabalho tem um ritmo frenético. Apenas sigo ordens de outros vermelhos. Sou auxiliar de cozinha, então minhas responsabilidades são limpar, ajudar os cozinheiros e, no momento, preparar a arena para o evento. Para quê a nobreza precisa de arena, não sei bem. No vilarejo ela apenas é usada para as Efemérides, para assistir às lutas de prateado contra prateado. O que acontece aqui? Isto é um palácio. Este chão nunca será manchado de sangue. Ainda assim, a pseudoarena me enche de maus presságios. Volto a sentir meu corpo pinicar, e a sensação se propaga como ondas sob minha pele. Quando eu terminar e voltar para a entrada de serviço, a Prova Real já estará prestes a começar.

Os criados saem cada vez mais da região dos assentos e passam para uma plataforma alta rodeada de cortinas. Sigo seus passos meio desajeitada e chego à fila tropeçando quando outra porta se abre, separando o camarote real e a entrada de serviço.

Começou.

Minha mente volta para o passado, para o Grande Jardim, para aquelas belas e cruéis criaturas que se dizem humanas. Todas vaidosas e vazias, com olhar duro e caráter ainda pior. Estes prateados — das Grandes Casas, segundo Yaomomo — não serão diferentes. Podem até ser piores.

Eles adentram em blocos, uma multidão de cores que se espalha pelo Jardim Espiral com fria elegância. É fácil notar as famílias — ou Casas — diferentes: todos usam a mesma cor. Lilás, verde, preto, amarelo, um arco-íris de tons rumo ao camarote de cada família. Logo perco a conta. Quantas Casas existem afinal? Mais e mais deles juntam-se à multidão. Uns param para conversar, outros trocam abraços sem vida. Percebo que para eles é só uma festa. A maioria provavelmente tem pouca esperança de emplacar uma rainha, de modo que isso é apenas uma diversão.

Mas alguns não parecem estar aqui para celebrar. Uma família de cabelo prateado, vestida com seda preta, senta-se em silêncio à direita do camarote do rei. O patriarca da Casa tem barba pontuda e olhos pretos. Um pouco mais adiante, membros de uma Casa cujas cores são azul-marinho e branco conversam. Para minha surpresa, reconheço um deles. Shindo Merandus, o murmurador que vi na arena há poucos dias. Diferente dos outros, ele tem os olhos fixos no chão, sua atenção está em outro lugar. Faço uma anotação mental de não cruzar com ele e seus poderes mortais.

É estranho, porém, que não haja nenhuma garota com idade para casar com o príncipe. Talvez estejam

todas se preparando em algum outro lugar, ansiosas, à espera da oportunidade de ganhar uma coroa.

De vez em quando alguém pressiona um botão quadrado de metal na mesa que acende uma luz, solicitando um criado. Quem estiver mais perto da porta atende, enquanto os demais dão um passo à frente e esperam sua vez de servir. E, claro, assim que chego perto da porta o patriarca de olhos pretos aperta o botão

Agradeço aos céus por meus pés não falharem. Passo praticamente aos pulos por toda a multidão, dançando entre corpos em movimento com o coração disparado. Em vez de roubar dessa gente, tenho que servi-la. Não sei se a Izumi Midoriya da semana passada riria ou choraria de sua nova tarefa. Mas ela foi burra, e agora eu pago por isso.

— Senhor? — digo, olhando para o patriarca. Me xingo mentalmente. "Não diga nada" é a primeira regra e eu já a quebrei.

Mas ele não parece perceber. Simplesmente ergue o copo vazio de água com um ar de tédio no rosto.

— Estão brincando conosco, Eilijo — resmunga para o jovem musculoso ao seu lado. Suponho que seja ele o infeliz que se chama Ptolemus.

— É uma demonstração de poder, pai — responde o jovem, esvaziando o próprio copo. Ele o estende para mim, e o pego sem hesitar. — Fazem-nos esperar porque podem.

A Rainha  vermelha - versão bnhaOnde histórias criam vida. Descubra agora