04 · destroços de um quase lar

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#SininhoDeOuro

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Sabe o que é difícil de verdade? Crescer.

Quando éramos crianças, Jimin e eu tínhamos uma relação diferente da atual e eu não sei se posso dizer que isso é bom.

Tínhamos um lugarzinho só nosso, um esconderijo secreto para onde costumávamos correr sempre que as coisas ficavam difíceis, e foi nesse lugarzinho que assisti ele desmoronar várias vezes. As paredes de madeira fina e a porta estreita eram as únicas testemunhas do que acontecia ali dentro, mas isso também acabou o abandonando.

Naquela noite, após comermos do pequeno bolo de aniversário que sua mãe havia feito, corremos o mais rápido possível até a pequena casinha de madeira no fim da rua. Pobre de mim correr com o bucho cheio de doce enquanto ele caçoava de mim.

Foi uma das poucas vezes que o vi feliz de verdade; Tinha um sorriso de orelha a orelha enquanto o vento soprava o cabelo clarinho e os olhos se fechavam ao rir.

Não se parece nada com quem tenho em meus braços agora.

"Vem, Teco! Quero te mostrar uma coisa!" Estava tão animado enquanto me puxava para dentro da casinha que quase me fazia esquecer do nervosismo que revirava meu estômago.

Eu tinha onze anos e me sentia inquieto perto do meu melhor amigo, que acabava de completar doze. Alguns anos depois eu consegui entender a ansiedade cruel que me dava uma agonia na espinha sempre que ele sorria: estava apaixonado.

"Fecha os olhos!" Sua voz dizia animada e eu, claro, obedecia. Sentia algo gelado deslizar por minha mão até meu pulso e então ele me deu a ordem para olhar. Jimin fez eu me sentir a pessoa mais especial do mundo no dia do próprio aniversário: "Eu juntei dinheiro e comprei pra gente. Você gostou?"

Encaro a pulseira velha em meu pulso e me lembro da promessa que fizemos naquela casinha: Jamais se perder de vista. Desde então, Jimin tem sido o único que realmente me chama atenção, o único em quem tenho meus olhos.

O som baixinho de sua respiração contra meu peito dá ritmo aos meus dedos indo e vindo pelo centro de suas costas. Ele ainda dorme como antigamente: a perna entrelaçada na minha e o braço envolto em meu peito como se me quisesse perto — eu também o quero muito, mas tudo parece diferente agora.

Saio da cama sem fazer barulho e caminho até o jardim do fundo. Deve passar um pouco das duas da manhã, mas apesar de estar cansado, não sinto sono. Sentar na madeira do banco do jardim e encarar o céu limpinho, tão diferente do centro de Seul, onde moro, é como respirar ar puro após muito tempo.

É, eu sei, você está esperando eu deixar algo mirabolante escapar pois sou o alívio cômico da vida do Jimin, não é? Não vai acontecer. Não enquanto me sentir dessa forma.

Se posso abrir meu coração, me incomoda algumas coisas nessa pequena redoma de vidro que Jimin e Jungkook criaram para eles, como a incerteza que um deles continua cultivando.

Eu sei, eles se dão bem quando não estão se matando, mas tenho um pé atrás com os comportamentos do novo vizinho do meu amigo.

Digo, ele é engraçado e parece mesmo se preocupar com meu pequeno broto, mas me incomoda muito a forma como ele está incerto sobre qualquer decisão que possa precisar tomar. Sei que não conheço nada sobre ele, além dos sessenta e oito elogios diários que escuto Jimin fazer, mas estar biruta com isso é um direito meu, pois me preocupo com Jimin.

Me preparo para fazer mais algumas analogias quando sinto Shiro pular no meu colo. A bichana chegou de fininho, sem fazer barulho, se acomodou e agora recebe carinho.

FREQUENCIES  ·  jikookOnde histórias criam vida. Descubra agora