09 · o impiedoso castigo do silêncio

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#SininhoDeOuro

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Acordo, encaro o teto do meu quarto, fecho os olhos e me viro depois de respirar fundo e encarar o celular na mesa ao lado da cama. Minha rotina tem sido a mesma há três meses e a pior parte é que realmente consigo acreditar que, apesar da grande nuvem escura ter sugado tudo dentro de mim, algo poderia valer a pena se ele estivesse aqui.

Não o vejo há um ano, dois meses e três semanas e meia. Estou contando.

Quando alguém que te faz muito bem é arrancado de você tão repentinamente, você passa a encarar o tempo como seu maior inimigo, esperando ganhar de volta aquilo que talvez nem tenha merecido.

Eu não tive Jimin por exatos quatorze meses e um pouco mais de quinhentas e cinco horas.

Sim, estou contando.

Encaro os ponteiros do relógio do segundo em que abro os olhos até que eles se fechem novamente pela noite. Estou pedindo aos céus que os números mudem de lugar, se reorganizem e andem rapidamente, que me levem até ele em um piscar de olhos. Talvez os céus tenham desistido de mim também.

Não sei como ele está, com quem está, ou se está com alguém. Passo meus dias pensando na possibilidade de que ele arriscou plantar outra oliveira sozinho e na extrema bagunça que deve ter feito. Me forço a pensar em coisas como a cara fechada sempre que me via ou os cabelos presos por um elástico castanho que não conseguia segurar os fios mais curtos que, consequentemente, acabavam caindo sobre o rosto bonito.

Tão bonito! Tão meu! Por tão pouco tempo.

Bonito ao ponto de me fazer chorar por serem as poucas imagens que tenho guardadas comigo; Bonito por ser no quê quero pensar, já que me lembrar das vezes em que o vi chorar me machucam tanto que só de imaginar que isso possa estar acontecendo agora consigo sentir meu coração ser esmagado.

O peso da minha mão se arrasta até meu celular, tocando a tela e vendo muitas notificações: Homens poderosos e muito conhecidos em toda a Ásia tentam contato há semanas; Jornalistas curiosos querem uma manchete na primeira folha sobre os recentes acontecimentos na Família Jeon; Oportunidades fora do país batem na minha porta o tempo todo e me oferecem incontáveis chances de agarrar o sucesso que me impulsionou a fugir da minha própria casa ainda tão novo.

Inúmeras pessoas estão atrás do herdeiro das indústrias Jeon, mas nenhuma delas é o emburrado de olhos estreitos que calça meias sobre a grama gelada. Consequentemente, todos são ignorados.

Me arrisco a procurar pelo seu contato e não é difícil de encontrar já que é o único com um emoji de fada. Rio baixo e sinto uma lágrima rolar pelo meu rosto; Meu pequeno Tinker Bell voou para muito longe, ou talvez eu tenha o abandonado na Terra do Nunca — não sei se posso me perdoar por isso.

Encaro o botão de chamada pensando em mil e uma coisas e ao mesmo tempo em nada. Um ou dois toques fazem eu me arrepender, mas ele atende antes que eu possa tomar qualquer atitude:

Alô? — Lá está ela: a voz baixa, calma e meio curiosa que me faz apertar os olhos com força. — Oi? Quem é? Olha se for trote, não tenho tempo pra isso, ok? Vou desli-

— Calma, Sininho. — O interrompo. Sinto que minha voz é baixa e fraca, por isso não sei se me ouviu. — Se explodir de irritação vai espalhar seu pozinho pela vizinhança inteira.

A ligação fica muda por quase um minuto inteiro. Não que ele tenha mutado, pois posso ouvir os miados de Shiro ao fundo e o som de alguns passarinhos distantes. Ele está apenas quieto e, pelo que posso me lembrar dos traços de seu rosto, a boca deve estar entreaberta em surpresa, expondo o dentinho torto da frente que tantas vezes o irritou, mas que amei de todo coração.

FREQUENCIES  ·  jikookOnde histórias criam vida. Descubra agora