Cap 3

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Através da água turva da banheira vitoriana, Yibo viu quando o rosto de Vitor, substituindo o do agente Xiao, se inclinou para olhá-lo mais de perto. Com as mãos na cintura, o jovem estava visivelmente enfurecido.

Qualquer pessoa, excetuando Vitor, que encontrasse Yibo agora, pensaria que ele tinha morrido. Ele estava estático embaixo da água, os olhos abertos, e não saíam mais bolhas pelo seu nariz. Yibo não fazia ideia de quanto tempo passara submergido no líquido da banheira. Apreciava fazer isso quando precisava calar a sua mente, o que acontecia com certa frequência. Apesar de que, naquela madrugada em especial, não parecia ter surtido efeito.

- Bom dia, Vitor. - Ele saiu da banheira pronto para enfrentar qualquer coisa que o mais novo achasse que ele merecesse.

- Só se for para você! - retrucou, com a voz um pouco estridente.

Yibo rumou para o chuveiro, ignorando a animosidade declarada e despejou o shampoo com essência concentrada de Sândalo em seus cabelos. Aquele era o único momento de seu dia em que ele se sentia bem. Lembrava um pouco a sua infância, antes de ser tragado para a mansão, na china.

- Na verdade, Yibo, se quer mesmo saber, eu estava tendo uma noite memorável, até que chego em casa querendo descansar e encontro o meu carro todo destruído.- ele perguntou encarando o Yibo, que passava agora condicionador pelos cabelos. - Como poderia ser um bom dia?

- Eu saí no seu carro para uma perseguição - disse calmamente, como se falassem do tempo, fazendo o mais nova soltar um bufar incrédulo e raivoso.

- E o que o seu carro faz na garagem? Artigo de luxo? - Vitor alfinetou.

Yibo colocou o rosto debaixo do jato de água, se abstendo de responder por alguns instantes.

- Eu pensei que seria mais... divertido - decidiu por fim, massageando as longas mechas calmamente.

- Ah, é claro! - Vitor quase gritou, elevando os braços para o céu. - Perseguir alguém com um carro chamativo! Já que você quer adrenalina para a sua vida, Yibo, não comprasse um carro preto e sem graça!

- Vitor, você tem seguro! - Yibo lançou os olhos para ele por um segundo, antes de fechá-los, retirando o produto dos cabelos.

- Não se trata de seguro, porra! Meu carro nunca foi sequer arranhado antes... Se trata de sentimentos,

Yibo fez um som de desdém com os lábios, pegando a toalha branca e saindo do box, parando em frente à pia de granito. Pegou uma escova e começou a pentear os cabelos.

- Yibo... - Vitor chegou atrás dele, no espelho, olhando fixamente para a figura da mais alta, analisando-o verdadeiramente pela primeira vez no dia. - O motor do meu carro já não estava quente, você chegou em casa já tem algum tempo. Sendo assim, por que não dormiu?

- Não sou o único que não dormiu essa noite. - Yibo retrucou, inamistoso. laçando um olhar para a roupa de festa que o mais novo usava, obviamente não queria falar sobre o assunto. - E não estou te perturbando com uma enxurrada de perguntas. O mínimo que você poderia fazer seria retribuir.

Vitor ignorou a fala, tirando o a blusa do corpo e voltando sua atenção para Yibo.

- Eu estava me divertindo. Já você estava tentando se matar. - Yibo revirou os olhos para o exagero de vitor.

Saiu do banheiro, entrando logo após em seu closet para escolher alguma roupa. Pensou se deveria vestir pijamas e vislumbrou o relógio em sua cômoda. Cinco e quarenta e sete. Decidiu pôr uma blusa branca e um short. Olhou sobre os ombros e viu que Vitor estava parado na porta do closet.

-Algo saiu errado?

Yibo perguntou aos céus o que havia feito para merecer um bichinho tão insistente feito Vitor

- Agente Xiao Zhan - Yibo sussurrou, levando uma mão até uma têmpora, massageando o local. - FBI.

- Um homem? - Vitor perguntou, curioso e levemente divertido. Yibo simplesmente o encarou com os olhos frios.

- Ele é o culpado pelo estado do seu carro. - O sorriso discreto de Vitor sumiu. - E quase... Quase me enganou.

E me fez sentir certas coisas... Yibo completou em pensamento, logo balançando a cabeça para banir aquilo.

- Cara, eu queria que você entendesse que não tem que ser perfeito o tempo todo.

Yibo lhe lançou um sorriso de desdém. Amargo e desacreditado. Ele tinha sim, e Vitor também sabia disso, apenas não gostava, e muito menos concordava com o fato.

O mais novo suspirou, mudando o peso do corpo de lado, sentindo que a atmosfera ali havia mudado.

- Eu ainda estou bravo com você - Vitor recomeçou a falar, dando um sorriso contido. Conhecia Yibo por tempo demais para saber que aquela era a hora de mudar de assunto. - E você pode começar seu pedido de desculpas me emprestando o seu chuveiro. Não sei por que diabos a água quente não está funcionando no meu apartamento.

Yibo balançou a cabeça afirmativamente, saindo do closet e se deparando com uma pequena mala que pertencia a Vitor

-Não precisa se preocupar em separar uma roupa - Vitor gritou do banheiro. - Eu já trouxe as minhas coisas.

♤♤♤

Enquanto estacionava ao lado do passeio do apartamento de Vitor, às seis e vinte da manhã, um sentimento estranho tomou conta de Xiao. De repente ele teve medo de descer de sua moto e confrontar o seu não tão mais desconhecido agressor. Não medo propriamente dele, porque por mais incoerente que parecesse, e até mesmo fosse, ele não chegava a temê-lo.

O que verdadeiramente perturbava Xiao era a possibilidade do Yibo já ter se esquecido dele. Quantos ele já teria rendido do mesmo modo? Detestaria ter que esclarecer para o homem que tirou o seu sono, que ele era o cara de ontem, que Yibo deixara algemado a um contêiner, no porto.

Decidindo deixar de besteira, ele caminhou para o 220 B, o apartamento que descobrira ser dele. Subiu dois degraus de escada e tocou a campainha.

Alguns segundos depois, Xiao quase se sentiu queimado pelo castanho que ele sabia que o observava por trás do olho mágico. Pôde jurar que a mão dele já se encontrava na maçaneta, decidindo se abriria ou não a porta.

Ele lançou um olhar que desafiava o homem pelo olho mágico e, como se aquele gesto fosse a senha de entrada, a porta se abriu. Xiao engasgou quando sentiu a essência dele o acertando em cheio, muito mais forte do que na noite anterior. Percebeu que os cabelos estavam um pouco úmidos. Os olhos profundos traziam olheiras que profanavam a pele imaculada, mas que fizeram Xiao sorrir. Ele também teve problemas para dormir.

Analisando o corpo do Yibo rapidamente, o homem teve que utilizar todo o seu autocontrole para não demorar mais que o necessário nas pernas desnudas dele. Não queria lhe dar o gostinho de saber o quanto a sua presença o afetava.

- Agente Xiao Zhan. - Ele congelou quando ouviu a voz do homem à sua frente. Era aveludada, modulada e sensual. As palavras e o hálito doce ricochetearam em seu rosto, trazendo um calafrio por toda a espinha.

Ele passou a noite inteira pensando em como aquela voz seria e, ver aquele homem pronunciando o seu nome daquela forma, levemente grave e comedida, fez com que todos os pelos do seu corpo arrepiassem. Xiao passou uma mão pelos cabelos, buscando seu autocontrole. Que porra de homem era aquele?

- Em que posso servi-lo?

Xiao percebeu que as palavras foram utilizadas por ele propositalmente para brincar com a imaginação dele. Era quase como um convite. Aquele homen sabia do poder que possuía e não titubeava em usá-lo. No entanto, ele iria ensina o Yibo que, naquele jogo, ambos poderiam jogar. Xiao sorriu de lado, levemente, antes de respondê-lo.

- Em muitas coisas, Yibo - disse o nome dele do mesmo modo que havia feito anteriormente. Degustando cada mísera sílaba em sua língua. - Muitas coisas...

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