- De qualquer modo, acho improvável que ele vá.
- Bem que você gostaria que ele fosse.
Estou deitada no tapete da área de convivência, com a cabeça apoiada em uma almofada e um livro nas mãos. Maya está deitada ao meu lado [a poucos centímetros de mim] conversando com Karina que está jogada em um pufe fofo a seu lado.
- Por que eu iria querer que ele fosse? - Maya ri.
- Ah, Maya, qual é. - Karina revira os olhos. - Você seria uma idiota se não quisesse ficar com ele.
Meus olhos estão fixos em uma palavra qualquer e torço para ninguém notar que estou fingindo ler. Na verdade eu até tentei, mas não consigo me concentrar em absolutamente nada quando Maya está tão próxima de mim assim...
Para todos os efeitos, somos melhores amigas. Pelo menos é o que todas as pessoas pensam. Afinal, ninguém pode saber a verdade sobre nós. Ninguém pode saber as coisas que ela me diz quando estamos sozinhas [os sons que ela faz, a maneira que ela geme quando meus dedos estão dentro dela, como ela implora para não parar enquanto se esfrega em minha boca].
Tento conter um tremor e tenho de respirar fundo antes que perca a cabeça. Karina diz bobagens sobre meninos que Maya deveria beijar o tempo todo, felizmente sou incrivelmente segura e tenho que me segurar para não rir toda vez que ela faz essas insinuações [se ela ao menos soubesse o que realmente deixa Maya excitada].
- Não tenho interesse nele. - Maya responde, posso notar um desconforto em sua voz. Ela vira a cabeça em minha direção. - O que você acha, J?
- Hum? - respondo, fingindo que não estava prestando atenção a conversa.
- Estamos falando sobre a festa de sábado. - Ela explica. - Karina acha que eu deveria ficar com James se ele for.
Ela está me provocando. Sinto um sorriso tentar se espalhar pelo meu rosto, mas o seguro. Desvio os olhos do meu livro para encará-la.
Deus. Seus olhos são a coisa mais linda que já vi na vida. São como se um furacão tivesse passado sobre uma floresta, deixando faixas de árvores e terra revirada em uma confusão total. É uma mistura perfeita de verde musgo e castanho escuro, desenhando formas irregulares [e lindas] em sua íris.
- Acho que ele não faz seu tipo. - Respondo sorrindo levemente sem desviar o olhar.
Ela fecha os olhos por um segundo e se vira de costas para mim para continuar a conversa com Karina. Sim, seus pais não podem nem imaginar sobre nós, então é isso: em público, nossos olhos não podem se encontrar por muito tempo, nem podemos nos tocar por muito tempo [temos a tendência de perder o controle se isso acontece, poderíamos explodir o mundo só com a tensão sexual que se instala entre nós].
- Eu acho que vou tirar uma soneca, me acordem quando começar a aula. - Digo, me virando para o lado de Maya e me aproximando dela.
É apenas uma desculpa extremamente esfarrapada para sentir seu calor mais de perto. Apoio uma mão em sua cintura, sinto seu corpo ficar rígido sob meu toque, ela provavelmente está nervosa pensando que alguém vai notar, mas Karina pegou seu celular e está muito entretida em sua própria bolha enquanto rola o feed do Twitter, e ninguém mais está por perto.
A camiseta de Maya subiu um pouco e faço desenhos no pedaço de pele exposto de sua cintura, posso perceber sua respiração ficar mais pesada. Encosto meu nariz nos seus cabelos castanhos...
Meu Deus. O seu cheiro é o mais fascinante que já senti na vida. É o perfume de um campo de 1000 rosas, junto com o aroma de chocolate. Chocolate branco. Ela odeia chocolate preto, o que é totalmente incompreensível para mim. Aspiro com força querendo que essa fragrância nunca mais saia das minhas narinas.
Ela mexe sua bunda levemente, encostando-a em meu quadril. Aperto sua cintura com tanta força que provavelmente ficará a marca de meus dedos [eu poderia explodir em mil pedaços nesse exato momento].
Me pergunto como as pessoas não veem. Como elas não sentem. É como se toda a atmosfera em nossa volta ficasse pesada, a luz mais brilhante, os sons mais intensos. Não sei como ninguém ouve meu coração batendo contra o meu peito, o sangue pulsando tão forte que seria capaz rasgar as paredes de minhas artérias [sinto uma fúria tão grande dentro de mim. Um ódio de seus pais e principalmente dessa sociedade doente e preconceituosa que não me permite beijá-la aqui e agora].
O sinal toca anunciando o fim do intervalo e estamos tão distraídas com o desejo quase palpável que nos corrói de dentro pra fora, que nos sobressaltamos [o frio de repente me toma, me afastar do seu calor é quase incapacitante, parece que meus pulmões se recusam a respirar sem seu cheiro para dar vida ao meu corpo].
Obrigo-me a levantar e pegar minha mochila, enquanto ela faz o mesmo. Karina se despede e segue para sua aula de Educação Física.
- Tem aula do que agora? - Maya me pergunta.
- Cálculo. Você? - Pergunto de volta [é excruciante olhá-la. Ela é tão linda tão linda tão linda. É simplesmente a coisa mais linda que já vi na vida. Olhar para ela é como respirar pela primeira vez. É como morrer queimando e renascer como uma fênix].
- Química orgânica - Ela responde.
Estamos caminhando pelos corredores, Maya me observa pelo canto do olho [mal consigo conter a vontade de segurar sua mão].
- Mais tarde posso passar na sua casa? - Ela pergunta. - Para terminarmos aquele projeto para a feira.
[Para que você toque cada parte do meu corpo, beije cada poro de minha pele, me arranque os sons mais profundos de prazer, sussurre coisas sujas em meu ouvido e me lamba até eu gritar de êxtase - é o que ela não diz]
- Claro. - Respondo. - aí você pode me contar se James é realmente seu tipo de cara.
Ela me joga um sorriso de canto.
- Ah, J, acho que você sabe qual meu tipo. - Ela morde seu lábio inferior [eu queria estar fazendo isso agora] . - Você me conhece tão bem.
Ela acena para mim e segue para sua aula [eu estou queimando, estou morrendo, delirando, estou partindo, me quebrando e pensando que se o tempo fosse uma pessoa eu a torturaria para que corresse mais rápido apenas para que eu estivesse com ela novamente, e então o mataria para que nunca mais ela precisasse ficar longe de mim novamente].
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Contos de uma adolescente problemática
Short StoryAs vezes meia dúzia de bitucas do cigarro numa poça de água suja falam mais do que um livro com 1000 páginas de puro romantismo irreal. Para uma adolescente que acha que já viveu coisas demais para tão pouco tempo de vida, palavras no papel não si...