Eu Acho Que Está Chovendo

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Eu só sinto como se chovesse. Mas não a chuva que conhecemos, onde a água se condensa e depois cai de novo nas nossas cabeças. Eu sinto como se chovesse dentro de mim.
Eu percebo um aglomerado de nuvens escuras que se amontoam em volta do meu coração, pensei que talvez fosse a fumaça de um incêndio, me queimando, me consumindo, me deixando em carne viva. Mas é chuva.
Rajadas violentas de vento frio e água como torrentes de gelo rasgando minha pele, me fazendo estremecer e me encolher, me fazendo sentir falta do calor dos seus dedos acariciando minhas costas.
E eu me pergunto se o inferno é quente e se quem diz isso é porque nunca experimentou o frio. O estremecer tão violento de um corpo que qualquer palavra que se tente sussurrar acabe por dilacerar a língua e faça o sangue escorrer pela garganta e congelar lá.
O frio que te faz desejar queimar.
E me pergunto se a morte é fria como o defunto parece. E me pergunto se estou morrendo.
E tenho muitas perguntas na verdade.
Como por exemplo: como a lua pode parecer tão bonita sendo que vive o inferno de duas formas diferentes todos os seus dias?
De dia faz 214°C e de noite faz -184°C.
E aí me pergunto de novo, se eu passasse pelo céu e o inferno e descobrisse que prefiro descer, isso faria de mim uma pessoa ruim?
Eu experimentei o frio, senhor. Experimentei a chuva que cai do seu céu. E sinceramente sempre preferi a terra que me acolheu e me deu frutos e o fogo que me aqueceu no inverno.
Prefiro o sol que descansa em meu rosto e aquece meus poros. Me faz respirar fundo sem sentir dor e correr pelo campo sem limitações.
Mas ainda aprecio a noite, com o satélite natural que enfrenta o extremo e ainda assim consegue brilhar.
Aprecio a donzela negra que monta o cavalo da escuridão e vem dançar em meu quintal.
Aquela que preenche cada espaço vazio até que todo meu corpo se encha com seu negrume.
E pergunto-me de novo: de onde diabos vem esse frio?
Eu olho em volta e não vejo ninguém, o abraço da noite é meu único consolo enquanto sou arrebanhada pela água que despenca tão forte sobre mim que acho que vai deixar hematomas.
Penso que eu gostaria de um casaco.
E talvez um pouco de felicidade.
Um resquício de sorriso.
Duas doses de amor.
Mas agora eu só tenho o frio.
E eu realmente queria um casaco.

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