Conservadorismo

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Choveu durante duas semanas, a previsão marca chuva para mais duas.

O pior do inverno é que não tem lugares para fumar quando se chove, nenhum engenheiro no fim do expediente pensa "Ah, está tudo pronto, só falta uma área coberta para fumantes em dia de chuva".

Por isso as prostitutas, os vagabundo e os playboys acabam se abrigando em lugares como o estacionamento de bicicletas coberto que fica uma rua atrás do centro da cidade. Não sei em qual categoria me encaixo, mas eu vou também.

-Ficaram sabendo que o Buck foi internado? - Comentou uma prostituta de batom escarlate e uma aparência anoréxica.

-Aquele velho bêbado que pedia esmola na rua 14? - Disse um homem de meia idade enquanto enrolava um palheiro.

-É.

-Bom, pelo menos ele tem alguém que se importe o suficiente pra interná-lo.

-Sei lá.

Fumamos em silêncio, enquanto observamos um grupo de crianças de 12 anos com bonés de aba reta e relógios enormes nos pulsos, os quais provavelmente não sabiam olhar as horas, se aproximando com uma única carteira de cigarro que era passada de mão em mão como se fosse um troféu.

Eu não era hipócrita o suficiente para julgar, já que há uns 5 anos atrás eu estava na mesma situação, a diferença era que eu não tinha cúmplices da minha própria rebeldia.

A prostituta e o homem que estavam comigo começaram um assunto sobre o time de futebol da liga principal ter sido desclassificado por seus jogadores estarem usando anabolizantes, pelo visto aqueles dois também não se importavam (ou estavam acostumados) com a juventude de hoje em dia.

Apaguei meu cigarro e acendi outro.

Fiquei olhando o cigarro queimar até que um dos garotos se aproximou de mim.

-Ei. - disse ele e riu pros colegas. - Você é puta?

O encarei.

-Por que? - Perguntei.

-É que meu brother ali quer pagar alguém pra chupar o pau dele.

-Por que você não chupa? - Disse eu soltando uma baforada de fumaça.

-Que isso lek, tá me estranhando? Não chupo pau de ninguém! Eu sou homem! - Cuspiu no chão.

-Eu também. - Falei, e a prostituta e o homem riram.

-Sua piranha! - Disse ele e voltou para o seu grupo.

Fumei o resto do cigarro e joguei a bituca numa poça de água que se formou graças a um buraco no teto metálico da estrutura.

-Vou indo. Tchau Britt, Bil.

-Tchau, menina.

Puxei o capuz sobre a cabeça e fui em direção ao centro.

Era umas 14h e eu não estava nem um pouco afim de voltar para casa e aguentar as piadas machistas do meu padrasto politicamente correto e a obediência cega, surda e muda da minha mãe.

" Bolsonaro 2018 é o caralho", pensei.

Fui até a porta do bar do Tom. Tinha um velho, com cabelo preto até a cintura amarrado num rabo de cavalo, atrás do balcão servindo cerveja para os clientes. Um rock dos anos 80 tocava no fundo do bar.

-E aí Fred, Tommy tá aí? - Perguntei.

-Lá dentro. - Disse ele apontando para a porta que levava para os fundos. - Cuidado. Dia ruim.

Contos de uma adolescente problemática Onde histórias criam vida. Descubra agora