Contos de uma adolescente problemática

Naufrágio

Eu sinto muito, amor. Eu te disse no começo que eu sabia separar as coisas e que eu não iria criar expectativas. E eu sei que sou realmente boa em fingir não me importar e fingir que está tudo bem, mas agora não adianta mais fingir alguma coisa.

A verdade é que me apaixonei por ti no segundo em que te vi pela primeira vez. E se você lesse isso brigaria comigo e diria que eu só fui notar tua presença na terceira vez que te vi, mas como eu te disse, eu sou ótima em fingir. Você chegou, e quando você chega é impossível não notar, e eu notei, e alguma coisa me balançou por dentro, como um barco estremecendo a um vento mais brusco. E você sabe o quanto eu odeio barcos, mas acabei me tornando um.

Eu realmente prefiro não escrever sobre coisas que não gosto, mas barcos me parecem uma boa definição para o que tu me fez sentir. Eu entrei em mar aberto, me joguei de cabeça em um completo mistério, onde não fazia ideia do que poderia encontrar. E com o passar das milhas, fui descobrindo um caminho novo cheio de belezas e de monstros marinhos.

Eu aprendi a me arriscar e não tentar prever o que aconteceria a seguir, porque como o mar, tu vivia em surpresas. E me surpreendia a cada dia. Com cada novo pedaço que me permitia conhecer. e eu, como a desbravadora novata de mares, abracei teus mistérios, tuas correntezas, teus monstros e até tuas revoltas.

E eu sempre aceitei tudo o que vinha de você. E eu sei no meu interior que isso é errado, que eu deveria ter me imposto mais, deveria ser mais rebelde, mas a verdade é que eu morria de medo que minha aventura acabasse. Então fui condizente com todas as coisas erradas que você fazia, com todas as vezes que quase naufraguei em teus braços.

Vai demorar um pouco para eu me acostumar com estar ancorado. É estranho pensar que depois de toda a euforia e adrenalina da viagem, eu voltei para o ponto onde estava antes de partir. Em um píer, esperando minha próxima aventura nessa terra. É estranho pensar que nosso tempo acabou e que agora você vai arrebatar outros navios. E é arrasador pensar que eu fui apenas um barco em toda a imensidão do teu mar e que isso nunca seria suficiente pra ti.

Eu sinto muito, meu amor. Sinto muito por meu coração estar tão apertado e dolorido agora que não me faz querer levantar da cama. Sinto muito porque sei que tu nunca quis isso e que tentou ao máximo evitar. Saiba que por mais que eu desejasse continuar desbravando seus segredos, eu fico feliz por saber que você é tão imenso que uma única embarcação seja insuficiente para percorrer sozinha teus mistérios.

Desejo a mais bela das existências para você. Obrigada por me permitir navegar teus mares.

E como o mar, eu te amo.