Capitães de areia

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— Lá já vem esses meninos!- Laura disse revirando os olhos. Boa vida, Professor e Pedro Bala vinham em nossa direção. Pedro me cercou mordendo os lábios e sorrindo.

— E se essa saia levantar?!- Boa vida tentou levantar a saia dela, que recuou e bateu na mão dele.

— Pode te levar em casa?- Pedro disse mexendo na minha trança.,

— Meu pai te mata.- Disse sorrindo e apertando os livros em meu peito.

— Eu morro é feliz.- Ele disse chegando perto do meu rosto.

— E as meninas?- Disse umedecendo os lábios com a língua.

— Professor, boa vida...- Os dois olharam para ele.- Acompanhem as moças.- Pedro começou a andar na direção contrária e fui atrás dele.- Seu pai não vai me matar?!- Ele disse sorrindo

— Então morra feliz.- Ele me deu a mão e sobre alguns olhares curiosos fomos em direção a praia.

— Tem quantos anos?- Ele disse quando chegamos na praia, estava deserta, só havia eu, Pedro e o mar.

— 15 anos.- Ele pegou meus cadernos e livros e colocou na areia da praia.- E você?

— O mesmo que você.- Ele me puxou para ele.- Quer tomar banho no mar?

— De roupa?- Eu estava com as mãos no peito nu de Pedro.

— Se quiser tirar não vou reclamar.- Pedro me beijou, gosto de álcool, cigarro.

— S/N!- Escutei minha mãe e foi o suficiente para que eu e Pedro nós separassemos.

— Deixe sua janela aberta a noite.- Ele disse antes de sair correndo.

Minha me pegou pela orelha e foi me arrastando até em casa.

— Se Laura não conta, você já estava desonrada.- Ela me jogou para dentro de casa.- Não é pra você ficar perto desse menino, imagina seu pai te pega?- Ela disse se virando, então eu sorri e toquei meus lábios devagar, lembrando do beijo de Pedro.

[...]

Me deitei já com a janela aberta. Depois do boa noite da minha mãe a casa ficou em silêncio. Um barulho vindo da janela me assustou, mas quando o causador dele apareceu.

—Achei que não vinha!- Disse sorrindo, Pedro começou a me beijar.

— E perder a chance de ter você?- Ele sorriu cafajeste. Pedro me levou até a cama e me deitou nela, se deitando por cima de mim.- Tem certeza?- Assenti.

[...]

Acordei com os gritos da minha mãe, Pedro dormia ainda, o acordei correndo para que ele saísse pela janela e assim ele fez, não sem antes me dar um beijo. Sai do meu quarto e fui ver o que era.

— Fomos roubados!- Meu coração gelou, o bando de Pedro.

7 meses depois.

— Quem é o pai desse menino?- Meu pai disse e mais uma vez fiquei em silêncio. Havia parado de ir a escola, a barriga estava me atrapalhando.

— É Pedro Bala pai!- Disse e ele deu um tapa em meu rosto.

— Saia de minha casa agora!- Era de noite, olhei aflita para minha mãe que olhava para baixo, meu pai me levantou da cama e me jogou na rua junto de algunas roupas. Bem na hora, Pedro estava passando com Professor e Gato, ele veio até mim e começou a catar minhas roupas comigo.

— Esse sem vergonha!- Meu pai tentou dar um golpe nele, mas com sua capoeira incrível, Pedro Bala derrubou ele.- Canalha!- Meu pai disse no chão.

— Canalha é você!- Ele disse segurando minhas roupas.- Expulsando mulher grávida de casa!- Pedro deu minhas roupas para Professor segurar e me deu a mão, me ajudando a levantar.

— Deixe a menina ficar Gerônimo!- Minha mãe disse suplicando.- Onde esse abestalhado vai levar pra morar?! Na rua?!

— Isso não é problema seu Jandira, não vou sustentar filho de vagabundo e puta!- Sequei algumas lágrimas e Pedro me puxou pela mão, olhei para trás e vi o olhar perdido de minha mãe.

— O que vamos fazer Pedro?- Disse para o rapaz.

— Esse filho é meu?- Assenti.

— Você foi o único que que já...- Parei de falar envergonhada.

— Pedro, vá falar com Querido de Deus!- Professor disse chegando perto da gente. Caminhamos bem até chegar onde os meninos ficavam, Boa Vida já veio logo, acompanhado dos outros meninos.

— Que isso Pedro Bala? Diversão?- Volta seca disse e eu me encolhi atrás de Pedro.

— Quem encostar nela é homem morto!- Ele disse sério.

— Ela tá de bucho!- Sem perna disse.- É seu Bala?- Pedro me olhou e levou seus olhos pra minha barriga e depois para meus olhos de novo.

— É sim.- Disse e por fim me levou a uma espécie de segundo andar.- Pode dormir na minha cama.- Era um sofá em péssimo estado.

— O que vamos fazer Pedro?- Disse depois de me deitar.- Aqui não tem nem teto direito.

— Amanhã eu penso nisso!- Disse enquanto acariciava minha barriga.

— Mãe disse que era menino!- Disse sorrindo e ele logo olhou para meu rosto.- Sabe de algum nome?

— João Bala.- Ele disse olhando para minha barriga.- Visse, teu nome vai ser João Bala, filho de Pedro Bala, líder dos capitães de areia.- Adormeci enquanto Pedro falava com nosso filho. Na manhã seguinte cedo, fomos ver Querido de Deus.

— Arrumou problema e mulher Pedro Bala?- Ele disse rindo.- Quantos meses menina.

— Sete indo pra oito.- Disse já sem respirar direito.

— E é de Pedro Bala mesmo?- Estava irritada.

— Pedro foi o único com quem eu me deitei!- Disse um pouco grossa, pude perceber o sorriso de canto de Pedro.

—Calma menina quero ajudar.- Cruzei os braços e virei para Pedro.- Esse é pra casar em Pedro.

— E eu num sei...- Disse me olhando e sorrindo.

— A criança não pode morar no Trapiche!- Ele disse e pude ver a indignação nos olhos de Pedro.- Tem que construir um teto!

— Mas eu vou, tem dois meses pra construir!- Ele disse.- E quem vai fazer o menino nascer?- Ele disse.

— Ué, Don'Aninha!- Querido de Deus disse sorrindo.

Pedro Bala

— Tá bom de tu largar essa vida de malandro, tá não?- Querido de Deus disse assim que a mulher dele chamou S/n pra entrar.

— E eu vou dar o que de comer pro menino e pra ela?- Disse me sentando na calçada. Era pra ser só mais um roubo, mas tive que me apaixonar. Impossível não de apaixonar, S/n com cabelos castanhos que caíam sobre os ombros e costas como ondas de um mar escuro e misterioso, olhos castanhos, as vezes jabuticabas, mas sempre penetrantes, eles conseguiam ver minha alma  e quando aquela voz angelical me chamava de Pedro, até no seu estado mais brava, eu só queria mais e mais.

— Vire pescador!- Querido de Deus disse e eu neguei.- Pelo menos pra ter dinheiro pra quando o menino nascer.

— Vai ser João Bala.- Disse sorrindo e olhando pra frente.- Imagina, ele correndo isso tudo aqui...Pegando relógio de bolso, brinquedo.- Querido de Deus bagunçou meu cabelo rindo.

— Pro seu menino você tem que desejar o melhor, tem que desejar ele como o dono do relógio de bolso.- Ele disse.

— E ele vai ser otário de deixar alguém roubar ele?- Disse sério e Querido de Deus riu.

— João Bala, filho de Pedro Bala otário?!- Ele gargalhou.- Jamais.

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