7. O sentimento que nunca existiu

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— Parece que você não vai me deixar em paz, não é mesmo? — Alice se afastou de todos para que pudesse ouvir a mensagem. Após a primeira frase de Helen, ela sabia que aquilo só pioraria dali pra frente, então optou por pausar o áudio e ir até a área da piscina do hotel. Não havia mais ninguém ali, todos já estavam se preparando para ir embora. — Como você espera que eu te perdoe dias depois que nós brigamos você estava do outro lado do mundo? Você é uma egoísta, sempre foi. É fácil fugir quando as coisas não dão certo e é isso que você sempre faz, não é mesmo? — A brasileira pausou novamente o áudio, desta vez para se sentar em uma cadeira de praia e pensar no que tinha acabado de escutar. Ela não podia contradizer a amiga, pois fizera exatamente o que ela disse e não era como se aquela fosse a primeira vez que havia feito. — O que aconteceu ai? Você enjoou do namorado coreano e agora precisa de algum motivo para voltar? Se arrependeu de mais uma das várias decisões precipitadas que você tomou? Você não sente muito pelo que fez comigo, porque isso não é sobre mim. Isso é sobre você e a sua incapacidade de encarar seus problemas. Eu sou a única constante na sua vida. A única coisa que nunca muda, o seu porto seguro. É disso que você sente falta. Por um tempo, eu pensei que você fosse isso pra mim também. Mas eu não vou cometer esse erro novamente.

— Você está errada! — Alice respondeu com a voz melancólica, pressionando o botão de gravar áudio. — Você é a minha melhor amiga, você é a pessoa com quem eu quero estar, independente se a minha vida está desmoronando ou não. Eu sei que fiz besteira, mas estou tentando consertar. Você realmente é a única constante na minha vida, quem eu tive desde o começo e quero levar até o fim. Eu não quero mais mentir pra você. — Respirou fundo. — Droga, eu daria tudo pra ter você aqui comigo, nem que fosse por alguns dias. E não, as coisas não estão indo mal. Eu nunca estive tão bem! — Exclamou.

"Você está mentindo" uma mensagem surgiu na tela. Seca e direta, Helen acompanhava a resposta da amiga em tempo real. Alice rapidamente apertou pequeno telefone da tela para iniciar uma chamada, porém foi rejeitada segundos depois. "Quando você descobrir o que tem de errado na sua vida perfeita do outro lado do mundo eu atenderei o telefone. Por enquanto isso, me deixe cuidar dos meus problemas.", era a resposta que receberia em seguida.

Como Alice poderia responder aquilo? Ela não sabia. A brasileira olhava o celular boquiaberta. O que aquilo significava? Elas haviam feito as pazes? Pelo menos ela finalmente teve uma resposta, então poderia pensar que, apesar da briga, o contato de Helen era algo positivo.

— Ah, sabia que tinha ouvido alguém gritar em português. — Jungkook surgiu por trás dela. — Já faz um tempo, mas acho que ainda consigo identificar alguém falando nessa língua estranha. — Completou sentando-se ao lado dela.

— Coreanos gritam por qualquer coisa. — Ela rebateu tentando esconder seu estado emocional. — O que você está fazendo aqui? — Perguntou lembrando-se que o transporte do grupo normalmente é o primeiro a sair.

— Eu poderia perguntar o mesmo. — Arqueou a sobrancelha.

— A equipe está se arrumando pra sair. Já coloquei minhas coisas no carro. — Levantou-se com a intenção de ir ao encontro de seus colegas de trabalho.

— Todos já foram embora. — Aquela frase fez com que Alice congelasse seu corpo.

Como assim todos já haviam ido embora? Quanto tempo ela passou ali de frente para a piscina? Olhou o relógio no celular, desta vez prestando atenção nas horas e percebendo que tinha passado cerca de vinte minutos ali. Por que ninguém havia vindo chamá-la? Certo, ninguém se importava, concluiu.

— Minha vida perfeita na Coreia. — Disse em português, para si mesma. — Todo mundo me esqueceu aqui, inclusive Taehyung.

— Não sei o que você disse, mas se vai reclamar, pelo menos faça em um idioma que eu entenda. — Jungkook levantou-se e foi ao encontro dela. — Vamos, eu te dou uma carona.

Corações de Papel #2Onde histórias criam vida. Descubra agora