9. O quasímodo de Itaewon

405 50 20
                                    

Ela entrou no veículo de forma graciosa, enquanto seu motorista colocava a mala no carro. A saída do aeroporto de Incheon estava lotada naquela manhã em decorrência da grande quantidade de voos que o aeroporto tinha recebido. Não havia motivos para se apressar, mas para ela, estar em Seul lhe causava uma sensação de pânico e alegria misturadas.

Seus cabelos perfeitamente moldados em ondas caiam sob seus óculos escuros, tampando parte de seu rosto. O batom cereja que pintava seus lábios combinava perfeitamente com o casaco rosa que ela usava sob a blusa branca. Agora, sentada no banco de trás, ela mexia em seu celular distraída, até que a voz de seu motorista a interrompeu.

— O que trás a senhorita a cidade? — O motorista tentava iniciar uma conversa. 

Ela observou o olhar sedutor daquele homem pelo retrovisor central do carro. A forma como ele molhava os lábios antes de falar fazia sua pele arrepiar. E não era como se ela não tivesse reparado como ele ficava bonito naquele uniforme. Ela engoliu seco tentando se recompor e neste instante ela percebeu um detalhe: os cabelos loiros dele escapando pelo quepe azul sob sua cabeça. Com essa informação, rapidamente ela fez uma busca no google por fotos de Park Jimin.

— Eu estou procurando por este homem. — Ela se aproximou do banco do motorista e estendeu o celular para que ele visse a foto. — Você por acaso sabe onde posso encontrá-lo? — Perguntou com um sorriso satisfatório no rosto.

— ALGUMAS SEMANAS ANTES —

No dia seguinte, Alice foi convocada para um trabalho de última hora. Aparentemente, um surto de gripe havia se espalhado entre os funcionários da empresa e ela era uma das poucas maquiadoras que não tinha sido infectada.  Por sorte ou talvez um capricho do destino, ela estaria encarregada de maquiar algumas das garotas do grupo feminino para um vídeo promocional. Ao chegar no prédio da Hybe, animada, ela logo se certificou de arrumar seus materiais e ir para a sala onde encontraria suas clientes. Aquela era uma oportunidade única e ela faria de tudo para que seu trabalho fosse impecável. Ela não deixaria o sol escaldante daquela tarde particularmente quente derreter nem um pingo da maquiagem que ela faria, nem que sua vida dependesse disso.

Alice retirava os produtos de sua maleta e depositava-os em uma enorme penteadeira. Aquele lugar era diferente do que ela estava acostumada a trabalhar. Para os meninos, o espelho de luzes não era tão longo e as cadeiras não eram tão confortáveis. Era compreensível, afinal não havia muito o que fazer com seus rostos. Porém, o mesmo não poderia ser dito sobre as meninas. Os maquiadores precisavam fazer um trabalho sutil e impecável, afinal o rosto coreano não suportava maquiagem pesada tão bem como o rosto de uma mulher ocidental. Além disso, era necessário que o produto final fosse o mais natural possível, mesmo que a garota tivesse três quilos de base e pó em seu rosto. Sozinha, Alice se assustou quando uma voz conhecida interrompeu seus pensamentos.

— Soube que alguém levou sua bunda para dançar por Itaewon ontem a noite. — Jimin surgia inesperadamente na sala. — Taehyung está fuuuuuuuurioso. — Enfatizou lembrando-se  do encontro que tivera poucos minutos antes com o amigo, no qual ele reclamou sobre a namorada.

Alice havia perdido a noção das horas na noite anterior. Quando chegou em casa, encontrou o namorado já dormindo. A conversa tinha sido adiada e provavelmente precisaria ser mais longa, já que ela tinha chegado mais tarde que o previsto. Na manhã seguinte, quando a brasileira acordou, seu parceiro já tinha saído para a empresa. Sem avisá-la, como normalmente fazia, ele havia deixado-a desfrutar de um sono mais longo. Alice não sabia se ele estava torturando-a ou sendo cordial, a dor de cabeça da ressaca não lhe deixava pensar direito.

A ligação solicitando seus serviços aconteceu por volta da hora do almoço. Até aquele momento, o coreano não havia respondido nenhuma de suas mensagens, mas ela não se sentia tão incomodada com este fato, afinal, nada comprometedor tinha acontecido. Alice tinha certeza que o encontraria no prédio da empresa, nem que fosse depois dela terminar seu serviço.

Corações de Papel #2Onde histórias criam vida. Descubra agora