21. O acordo

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FLASHBACK

Quando Alice entrou no hospital empurrando Helen em um cadeira de rodas, apenas um pensamento passava em sua cabeça: Eu juro  que vou matar Daniel. Mas aquele não era o momento de colecionar rancores, ver a amiga gritando de dor lhe deixava muito preocupada. O nascimento do bebê de Helen havia sido planejado para acontecer no mês seguinte. Uma cesárea é menos sofrida do que um parto normal, ela dizia sempre. O problema era que sua bolsa havia estourado de repente, e o início das contrações indicava que o bebê nasceria antes do previsto. Quando as duas finalmente foram colocadas em uma sala de espera do hospital, a agonia de Helen parecia ter aumentado.

— Você ligou pra ele? — Perguntou aflita, enquanto segurava sua barriga.

— Sim, ele não atendeu. — Alice respondeu ríspida, causando certa confusão na amiga. — Vou mandar uma mensagem, quando ele ver, ele corre pra cá. Tente deitar um pouco, deve ser difícil aguentar as dores em pé. — Tentou tranquilizar Helen.

— Não! — Gritou, tanto para reclamar da dor, quanto para enfatizar sua frustração. — Eu não consigo fazer isso sem ele, Ali. — A cama permanecia intocada, enquanto a grávida andava de um lado para o outro inquieta.

— Helen, tudo bem, eu vou continuar insistindo. — Alice não se sentia em posição de contrariá-la naquele instante. Por alguns segundos, ela saiu da sala e continuou a ligar para Daniel. Após algumas chamadas não atendidas, o celular dele começou a sinalizar que estava fora de área.

Alice não podia acreditar que ele estava fugindo. Quer dizer, ela não tinha certeza, mas depois de toda a situação envolvendo os três, ela tinha se acostumado a pensar o pior. Em seu rosto a decepção se estampava em meio a uma ponta de alívio. Ela, de forma egoísta, pensava que ter Daniel fora da vida de Helen seria algo bom. Mas, ao mesmo tempo, entendia que naquele instante, ele era a única pessoa que ela queria ver.

Quando a médica chegou para o exame, já haviam se passado duas horas desde que a garota tinha chegado no hospital. Helen não estava nem próxima de ter o bebê, mas suas dores continuavam a se intensificar e a equipe já analisava a opção de induzir o parto. Na hora seguinte, a situação parecia estar duas vezes pior.

— Alice, por favor, peça pra eles fazerem a cesárea. — Implorava.

— Sua mãe já está chegando, ela é a única que pode assinar os documentos. Eu só posso segurar sua mão, amiga. — Explicou.

— E Dan... — Sussurrou o nome dele melancólica, enquanto observava Alice mover o rosto sinalizando que não havia conseguido falar com ele.

Cada minuto parecia demorar uma eternidade para as duas e, quanto mais tempo se passava, mais longe Helen parecia estar do parto que tanto queria. Em certo momento, a médica retornou ao quarto e se deu conta de que não era mais possível fazer o parto normal. Helen, pela primeira vez, respirava aliviada pois finalmente aquela situação estava chegando ao fim. Alice ficou a seu lado durante a anestesia e a cirurgia, mesmo quando sua mãe já havia chegado ao hospital.

Quando Lily nasceu, Helen estava ocupada demais olhando para seu bebê para ter percebido que a figura masculina de Daniel havia passado pelo pequeno retângulo de vidro da porta do quarto. Porém Alice tinha o visto. Assim que pode, ela encontrou uma desculpa para sair do quarto e confrontá-lo.

— Onde diabos você estava? — Ela não queria saber, mas a pergunta tinha o propósito apenas de demonstrar sua raiva. — Ela precisava de você!

— Eu fiquei com medo,ok? — Tentou se explicar. — Eu...

— Medo de que? O bebê não estava saindo de você. — Cruzou os braços, estabelecendo-se em frente a porta.

— Você contou a ela? — Perguntou aflito. — Sobre nós...

Corações de Papel #2Onde histórias criam vida. Descubra agora