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diário de uma garota

Entrada número um
Bom..... A muito tempo atrás meu irmão disse que ter um diário ajuda a lidar com os acontecimentos e sentimentos, então estou tentando por nessas páginas com palavras secas a minha história, minha nova vida.... Melhor começar pelo que me trouxe aqui.

Era um dia calmo, ninguém havia vindo me.... 'incomodar' ainda. Estava lendo calma aos pés da minha falsa mãe. Veja bem, eu e meu irmão deveríamos cuidar e zelar por nossa mãe, mas meu irmão vive ignorando isso, ele da de presente pra qualquer um que se aproxime aquilo que nossa mãe tem de mais precioso, ele praticamente a vende em troca de sorrisos.... então eu escondi nossa mãe em um lugar onde ninguém consegue ir e a substitui com um tanto de maquiagem.... Meu irmão nunca notou a diferença, ou o fato dela ter parado de responder completamente. Perto do anoitecer todos que conhecemos vieram juntos de meu irmão até onde estou com nossa falsa mãe e me acusaram de várias atrocidades.... De ter amaldiçoado nossa mãe, de ter matado as crianças desaparecidas, entre outras coisas.... para mim estava claro que queriam me ver morta então eu fugi, fugi para a floresta para onde minha mãe está, mas todos me perseguiram, armas em punho, ódio nós olhos, sedentos de sangue. Pessoas que nunca interagi na vida se juntaram a caçada. Então em um ato desesperado de tentar sobreviver acabei desencadeando um desastre, meu irmão foi o único sobrevivente mas ele já não é meu irmão a muitos anos... Então o deixei preso, sabendo que em algum momento algum dos amigos dele viria o procurar. Junto da minha mãe deixamos nosso mundo, tudo que conhecemos e tínhamos, fomos em busca de algum lugar onde não pudessem nos machucar. Então fomos atraídos até um enorme castelo em meio a uma floresta densa, cheia de plantas venenosas e armadilhas naturais, onde nem mesmo pássaros se atrevem a entrar.
Minha mãe se escondeu no jardim interno, em uma sala escondida no fundo de uma passagem sem luz.
Eu esplorei toda a propriedade, memorizei a estrutura e os vários andares. No coração do castelo, a sala do trono com um trono solitário.

Entrada 2
Coisas estranhas acontecem nesse lugar, assim que me sentei no trono foi como se toda a floresta e o castelo em si ganhasse vida, se ligando a minha própria alma, pude sentir a solidão e a traição vibrando pelas paredes amaldiçoando o último morador, me sentindo estranhamente simpática ao castelo. Comida simplesmente surgia na cozinha, pronta pra ser feita, os quartos se arrumando sozinhos e toda a poeira do lugar desvaneceu.
O castelo é verdadeiramente enorme, com todos os seus 15 andares, não faço ideia de quantos quartos, sala de jogos, salão de festas, um andar inteiro de sala de estar, salão de jantar, fora o subsolo com suas selas,  sala de tortura e sala de armas. Em todo o castelo as paredes de pedra escura polida com padrões entalhados, vários quadros de paisagens nas paredes e uma luz fraca que vem nenhum lugar e todo lugar ao mesmo tempo. Essa casa é enorme.... espero ter uma vida calma aqui, sem precisar lutar ou fugir... sem mais ninguém pra constantemente 'incomodar'

Entrada 257
Hoje eu fui fora da propriedade, queria fazer uma pequena viajam pra conhecer novos lugares, talvez fazer algum amigo. Jamais imaginei que fosse encontrar algo assim.
Ele está tão traumatizado pelo tempo sozinho e abandono que sua mente teve dificuldade em notar minha presença como algo real. Acabei por trazê-lo para o castelo comigo, ele é tão carente que acabou dormindo me abraçando na sala....

Entrada 260
Ele finalmente se abriu comigo, todos os que conheceu e amou mortos na sua frente pelo seu próprio pai.... depois abandonado no meio do local destruído para morrer. Ninguém deveria passar por esse tipo de trauma e ainda ficar isolado por tanto tempo. Nem consegue dormir sozinho com medo que eu desapareça quando acordar.

Entrada 268
Não consigo negar a mim mesma essa vontade, essa criança abandonada é minha, meu filho, meu primogênito. Me pergunto como minha mãe está agora.... não a vejo saindo do jardim desde que chegamos.

Entrada 302
Eu saí a alguns meses pra viajar, conhecer mais o mundo. Durante minha viajem acabei por encontrar dois garotos estranhos. Um delirando no deserto, conversando com um irmão que não estava lá. Outro na sarjeta, sem nenhuma emoção aparente. Não pude deixar de lembrar do meu primogênito em casa, sozinho e com medo de ser abandonado. Talvez irmãos seja uma boa ideia, ter uma família pra mim mesma, de pessoas com problemas como os meus... abandono, abuso, tortura, traição... não quero deixar esses garotos sozinhos no mundo, mesmo que minha mãe não reaja a mais nenhum estímulo, ainda me fez companhia nas minhas piores horas. Esses meninos não tem ninguém. Meus meninos. He, pelo menos tem espaço em casa pra eles....
...
em casa.... não me lembro da última vez que usei esse termo..... deve fazer mais tempo ainda desde que senti isso, ter um lar....
Torço ser o suficiente pra ajudar meus meninos.