apenas um sonho

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Eu estava em uma viagem de ônibus com a escola, junto de mim havia pelo menos três classe, todos ansiosos para a famosa noite do terror de um parque de diversões, da minha escola havia mais um ônibus nos seguindo de perto. Fizeram uma disputa amigável ensenamdo uma corrida entre os dois ônibus, várias crianças gritando pelas janelas toda vez que um ultrapassou o outro.
No último trecho de estrada, passamos por uma rodovia, o carro da frente perdeu o controle e capotou, nosso ônibus, meu ônibus, bateu com tudo no carro, subiu ele e foi arremessado para fora da estrada, caindo em um penhasco com uma floresta no fundo.
Tudo ficou em câmera lenta, mina melhor, e única, amiga dormindo pacificamente do meu lado, tentei a agarrar para que não se machucasse tanto.... tudo que consegui foi pegar o colar dela, nosso colar da amizade... o peso dela estourou a corrente.... a assisti sendo atirada até a frente do ônibus, onde o motorista estava.... todos.... todos flutuaram incapazes de se agarrar a algo para amparar ou amenizar a queda. Vi as copas das árvores chegando perto a uma velocidade alarmante.... não consegui conter as lágrimas, vi a vida se esvair dos olhos de várias pessoas que conheci, professores, colegas, conhecidos.... não doeu menos, não impactou menos. Me virei pro fundo, algumas outras poucas crianças ainda flutuando, vindo para a morte certa como eu..... sem poder fazer nada.... senti um impacto, o primeiro, na minha nuca.... perdi a consciência por completo.
Tenho apenas 7 anos..... creio que.... vou sentir falta dos meus pais....

Frio....
Está tão frio....


Nunca senti tanto frio.......

Eu morri.... tenho certeza disso.....
Ainda assim.... como posso sentir frio?





Ouço passos abafados. Calmos, pesados, quase arrastados. Tento abrir os olhos, não consigo focar, está tudo branco.... está tão frio.... tento me encolher mas não tenho forças para me mexer..... Algo.... Alguém me pega, tirando do chão... seu toque é firme e quente. Posso ouvir sua voz, mas parece longue.... abafada.... como se estivesse d'baixo d'água.
- ei ............ve?...... Na........me........to...
Está tudo tão claro.... minhas pálpebras começam a pesar.
- NA..... NÃO!! OLHA PRA MIM! NÃO DORME! PRA MIM OLHA PRA MIM!
Pude ouvir mais claramente, ainda abafado, sua voz parecia urgente. Senti que levantou minha cabeça, não pude ver nada além de branco e alguns borrões pretos.
A voz era grave, me chamando. Me esforcei para não voltar a dormir, olhando pra aqueles borrões pretos.
Seja lá quem for, me pegou no colo, era tão quente..... Meus olhos estão muito pesados.... está cada vez mais difícil ficar acordado.... continuo encarando aqueles borrões pretos, aparecendo e desaparecendo. Pude sentir o colar da amizade na minha mão, apertei meus dedos lembrando de como tudo aconteceu...... não vou mais ver nenhum deles.... nem minha família.... meus olhos arderem e sinto lágrimas saindo, congelando antes de terminar de escorrer. Todo aquele brilho branco se esvair, deixando pra traz uma única mancha branca, o ambiente esquenta e não consigo mais manter a consiencia.

Acordo algum tempo depois.... sinto que estou em algo macio, o ambiente é quente e agradável, posso sentir o cheiro de tomate assado.
Abro meus olhos ainda pesados, meu corpo não querendo se mover, sinto o colar ainda na minha mão, segurando firme com a corrente pendurada minhas lágrimas borbulham novamente, desta vez não congelam no caminho. O lugar ainda embaçado começa a se formar no meu campo de visão. Uma TV desligada bem na minha frente, uma parede verde, chão do madeira, teto alto..... muito alto... No reflexo da TV posso me ver deitado em um sofá..... fico quieto deitado até que as lágrimas secassem.

Não sinto a menor vontade de nada.

Tento me sentar e meu corpo todo reclama, meus braços perdem força me fazendo voltar a deitar, rolo de lado tentando por as pernas pra fora, pra conseguir sentar, assim que sento ouço uma porta abrir, viro a cabeça rápido demais e perco a consiencia com o movimento.
A próxima coisa que noto é a mão de alguém no meu peito, me impedindo de ir ao chão, tento me apoiar nessa mão mas meus braços não tem força suficiente. Me empurrou para uma posição mais ereta, consigo me equilibrar e olho na direção do dono dessa mão.
Foda-se o que está vestindo, é A PORRA DE UM ESQUELETO! não sei como reagir, primeiro sinto medo, me pergunto o que ele quer, se for como nos filmes ele quer me matar só porque sim.... aé..... já morri.... com isso meu medo se vai tão rápido quanto se formou, provavelme vou virar um esqueleto também,com o tempo.
Desvio o olhar, pensando no que vou fazer agora. Quer dizer, o que se faz no pós vida e... onde estou mesmo?
Não tenho uma religião, mina mãe sempre me disse que eu primeiro preciso entender o que isso significa pra depois escolher, então..... onde vim parar mesmo?
- tudo bem criança? Você parece bem confusa.- eu reconheço a voz de antes, então foi você que me trouxe pra cá...
- onde....?- minha garganta dói, minha voz saí estrangulada, me sinto tão mal que não consigo deixar de por a mão na garganta, torcendo pra que a dor pare. Tenho um acesso de tosse tão forte que meu corpo todo treme, tudo que consegui ver foi o sangue que espirrou pra fora enquanto tossia antes do mundo girar e escurecer.

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