Noite Estrelada

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–– Vá embora.

Minha voz dispara do fundo da minha garganta antes que ele possa me responder.

–– Não. –– Levi rebate.

Encaro sua postura, os braços cruzados na frente do corpo e as sobrancelhas erguidas. Me pergunto como ele conseguiu me encontrar enquanto o observo, não conseguindo evitar de remoer suas palavras para mim da última vez em que nos falamos. Entretanto, seu semblante preocupado e os olhares curiosos de quem passa pela rua me fazem reconsiderar.

–– Entra logo. –– Reviro os olhos, dando espaço para Levi entrar e fechando a porta atrás dele. –– Como me achou aqui?

–– Kenny. –– Arregalo os olhos e abro a boca para falar, mas ele me interrompe. –– Você mentiu quando me disse que não o conhecia.

–– Você também não é um livro aberto. –– Respondo em um tom um pouco mais rude do que eu gostaria. –– O que você quer, Levi? Estou ocupada me escondendo da polícia.

–– Estou vendo. –– Ele me encara de cima a baixo e dou um passo para trás, ligeiramente desconcertada.

Levi tira a capa verde pendurada em seus ombros e a repousa sobre o encosto de uma das cadeiras da mesa, apoiando o peso do próprio corpo sobre a mesma em seguida, soltando um longo suspiro enquanto os olhos cinzentos me encaram. Esvazio o balde de água dentro da pia e me viro para ele, com as mãos na cintura, esperando o que quer que seja que ele tem a dizer. Mas nada sai de seus lábios além de silêncio.

–– O que você quer, Levi? Vai ficar aí me olhando?

–– Não! Eu... Fiquei preocupado com você. –– Ele diz, me tirando uma expressão breve de surpresa. –– Você disse que não precisava que eu viesse, mas... Não pude evitar, Sofia.

Recuo diante de suas palavras, lembrando por um instante de como elas se contradizem com o que ele mesmo havia me dito há alguns dias.

–– Você não pareceu se importar antes, Levi. –– Digo baixo, sem me preocupar em transparecer a minha mágoa.

–– Eu sei. Eu disse coisas ruins a você e não teve um momento que eu não me arrependi. Mas a verdade é que eu não suportaria perder você também, Sofia. –– Levi diz, soltando o ar dos pulmões com força em seguida e dando um passo em minha direção. –– Perder você abriria um buraco no meu peito que nunca fecharia.

Sinto meus olhos arderem, mas me recuso a derramar qualquer lágrima. Mordo o lábio inferior contendo o choro quase inevitável e vou de encontro a Levi, envolvendo meus braços ao redor de seu tronco e o apertando forte contra mim. Ele retribui e com um suspiro, uma de suas mãos acaricia o meu cabelo enquanto o garoto pousa sua cabeça em um dos meus ombros. Há um silêncio confortável pairando entre nós e me lembro da última vez em que me senti segura dessa forma.

Havia sido nos braços do meu pai, na última vez em que eu o vi com vida. Estava pronta para me despedir daquela sensação quente e acolhedora, pronta para não a encontrar nunca mais até que me vejo cercada por ela assim como os braços de Levi ao redor do meu corpo. Também tenho medo de o perder, jamais me perdoaria se algo acontecesse a ele. Entretanto, o que podemos fazer? É o fardo que carregaremos para sempre em nossos corações apenas por termos nascido nesse mundo amaldiçoado.

–– Levi. –– Digo baixo e ele se separa de mim por um momento.

Observo os traços de seu rosto com cautela e meus olhos se fixam aos dele, as orbes cinzentas como uma manhã nublada também presas às minhas. Era como olhar direto para uma tempestade. Engulo a seco e fecho os olhos por um momento, tomando suas mãos entre as minhas.

O Rouxinol - L. AckermanOnde histórias criam vida. Descubra agora