Capítulo Final

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Recobro a consciência para o que acredito ser a vida após a morte. Mas ainda estou viva. Cada parte do meu corpo dói e sinto alguém dar tapas leves em meu rosto. Tento dizer algo mas minha voz parece ter desaparecido. Está frio e abro os olhos devagar, encontrando os de Hange no mesmo instante.

–– Ela acordou! –– Ela brada, se afastando do meu rosto! –– Sofia, consegue nos ouvir.

Não consigo a responder, mas assento devagar em resposta. Meus olhos viajam até onde há pouco havia um corpo de metal atravessando o meu peito, entretanto, não o encontro lá. Apenas vejo Levi, terminando de amarrar bandagens ao redor do meu torso, o rosto contorcido em raiva. Entretanto suas feições se suavizam quando ele encontra os meus olhos fixos a ele.

–– Não vamos deixar você morrer aqui. Aguente firme. –– Seu tom de voz é tranquilizador, mas meu corpo começa a desistir aos poucos.

–– Eu... não sei... desculpa. –– É o que consigo dizer antes de ser atingida em cheio por outra crise de tosse, praguejando mentalmente.

–– Não! Sofia... você não vai morrer assim. –– Mike diz e vejo de soslaio Hange concordar com a cabeça enquanto aperta com firmeza uma das minhas mãos entre as suas. Sinto lágrimas grossas se formarem em meus olhos, me lembrando da imagem dos meus companheiros debruçados sobre a minha cama, vigiando de perto meu corpo se recuperar de seus ferimentos.

Abaixo de mim, sinto meu próprio sangue espalhado e morno, pensando comigo mesma se é assim mesmo que irei morrer. Não há tempo para sentir raiva ou frustração, apenas penso que no fim, talvez as coisas estavam destinadas a ser desse jeito. Talvez eu mereça algo como a morte, no fim das contas. Minhas mãos estão cobertas de sangue e há uma trilha de mortes por onde passei, não é como se eu fosse inocente ou digna de piedade. Me lembro dos olhos inundados de raiva do homem que tentou me matar há alguns meses, vingando a morte do próprio pai. Não, penso comigo mesma. Eu não mereço piedade.

–– Levi. –– O chamo baixo, atraindo seus olhos para os meus. –– Acho que você estava certo... esse mundo é uma merda.

–– Ele é mesmo. –– Sinto seus dedos se entrelaçarem aos meus. –– Não me faça ter de encará-lo sem você.

As lágrimas descem pelo meu rosto e sinto meu coração se partir ao ver que também descem pelo dele. Um comichão cresce em minha garganta e abro a boca algumas vezes, finalmente deixando que as palavras saiam por conta própria sem que eu ao menos perceba.

–– Eu amo você. –– Os olhos de Levi se arregalam. Sorrio fraco e me viro para Mike e Hange. –– Vocês...

–– Não se despeça ainda.

Meus olhos se arregalam. Meu pulmão aprece parar de funcionar por um momento. Eu não conheço essa voz. Ela não pertence a Mike, nem a Levi nem a Hange nem a ninguém que eu conheça. Outra sombra cresce sobre mim e percebo que há mais alguém debruçado sobre o meu corpo machucado. Encontro olhos esmeralda e uma expressão séria, lábios finos comprimidos e fios castanhos compridos que caem ao lado de seu rosto.

–– Quem...

–– Você vai viver, Sofia. Ainda não é hora de deixar esse mundo. –– O garoto diz, sem responder minha pergunta. Meus olhos continuam arregalados e pareço ser a única que o vê e escuta. Eu perdi tanto sangue assim? –– Ainda há muito que você precisa saber. Poupe suas forças. Não garanti que você chegasse até aqui para nada. Faça isso pelo seu pai.

Fecho meus olhos com força e os abro novamente, sem ter o menor sinal da figura estranha, encarando meus companheiros tão confusa quanto fraca.

–– Ela está alucinando? –– Escuto Levi perguntar à Hange enquanto segura meu rosto entre suas mãos, me obrigando a olhar para ele. –– Sofia! Aguente mais um pouco.

O Rouxinol - L. AckermanOnde histórias criam vida. Descubra agora