Minha cabeça gira em pensamentos confusos e flashes do que me parecia um pé enorme vindo em minha direção. Me sento sobre o chão, levando a mão às têmporas, agradecendo em silêncio enquanto tateio meu próprio corpo, encontrando todos os meus membros e nenhum osso quebrado. Nada além de alguns arranhões. Entretanto, paro com os olhos fixos no entorno para somente então perceber que não estou mais na floresta.
–– Mas que merda é essa agora? –– Murmuro para mim mesma sentindo o medo correr em minhas veias enquanto me levanto, apoiando as mãos na areia fofa abaixo de mim.
–– Sofia.
Me sobressalto e um grito agudo escapa da minha garganta quando uma voz diz atrás de mim. Encolho os ombros e me viro em sua direção no mesmo instante, encontrando uma mulher me encarando com um sorriso gentil. De súbito, entendo o que pode estar acontecendo e praguejo alto, cruzando os braços na frente do corpo.
–– Filho da puta! Não acredito que estou morta!
–– Você não está. –– A mulher me responde e novamente me calo. Ela inclina a cabeça com sutileza e me encara enquanto o cabelo negro e comprido cai em mechas finas sobre seus olhos incrivelmente lilases, emanando um brilho curioso em minha direção.
–– Quem é você? –– Minha voz oscila por um instante.
–– Olhe ao seu redor.
Faço o que ela diz e arregalo os olhos assim que encontro uma imensidão de areia até perder de vista, branca, fazendo desenhos no horizonte com as dunas que se formam mesmo sem que haja vento aqui. O céu noturno se ergue pontilhado por milhares de estrelas, mais do que eu já vi mesmo nas noites mais bonitas. Há entre elas trilhas luminosas que seguem sinuosamente até um mesmo ponto ao longe, onde se encontram vindo de várias direções. Me pego por um momento sem palavras, maravilhada pelo que meus olhos capturam, ainda que me pergunto como posso estar viva em um lugar como esse.
–– Meu nome é Frieda. –– A mulher sorri novamente, atraindo minha atenção para si. Ela usa vestes de boa qualidade e a julgar pelo brilho lustroso de seu cabelo e de sua pele alva, não deve ter a mesma origem que eu. –– Eu a chamei aqui porque precisamos conversar.
–– Eu não conheço você. –– Franzo o cenho.
–– Eu conheci o seu pai há muito tempo, quando eu ainda era uma menina. –– Ela faz uma pausa. –– Marco era um bom homem, sinto muito por não tê-lo visto outra vez antes de sua morte. Mas a questão é outra, Sofia.
Não posso estar mais confusa e Frieda percebe, erguendo as mãos na frente do corpo me impedindo de perguntar sobre que merda ela está falando. Apoio as mãos na cintura e me preparo para o que quer que seja que ela tenha a me dizer.
–– Você encontrou um diário do seu pai recentemente e o levou para Grisha Yeager, não é mesmo?
–– Como você sabe disso? –– A questiono de imediato, recuando um passo.
–– Eu já vou explicar. Mas a questão é que... Ele não pode contar a verdade a você. Ninguém pode saber o que há além das muralhas ainda, Sofia. As pessoas não estão prontas.
Cerro os punhos, sentindo meu sangue ferver. De novo a mesma conversa sobre o que há além das muralhas e a maldita verdade.
–– Quem é você para saber de alguma coisa sobre isso? Até onde eu sei isso só é uma alucinação da minha cabeça! Eu fui acertada por um titã e...
Paro.
O titã. Os olhos púrpura que me observaram por longos momentos antes de partir para o ataque. O golpe certeiro, a aparência estranha. Encaro Frieda e a compreensão que passa por suas feições delicadas deixa tudo mais claro. Há alguma coisa estranha acontecendo.
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O Rouxinol - L. Ackerman
أدب الهواةSofia sempre foi uma soldado exemplar e de habilidades notáveis, sendo uma das melhores armas da Divisão de Reconhecimento contra os titãs. Designada para missões dadas a ela pessoalmente pelo comandante Keith Shadis sob o codinome de Rouxinol, Sofi...