54ª Expedição para Fora das Muralhas - I

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A manhã chegou rápido e com ela a atmosfera tensa que cai como uma redoma sobre o quartel de Shiganshina. Não há muitas pessoas nos corredores e a maioria de nós já se encontra no pátio, montando seus cavalos e os equipando com todos os suprimentos necessários. Karasu resmunga, relinchando inquieto enquanto eu prendo uma bolsa de linho à sua sela. Resmungo de volta, afagando a crina lustrosa do animal a fim de acalmá-lo.

–– Karasu está agitado. Você estragou o meu cavalo, Levi! –– Reclamo na direção do mesmo, que revira os olhos para mim.

–– Eu não estraguei ele, Sofia. –– O baixinho se vira para a própria montaria. –– Vocês dois só são muito temperamentais.

Reviro os olhos e volto a minha atenção para Karasu, que parece ter se acalmado com o toque sutil sobre sua pelagem escura. Entretanto, gostaria de dizer o mesmo sobre mim mesma. Há rostos preocupados por toda parte e sinto que alguns deles jamais voltarei a ver. Mãos unidas em orações, olhares suplicantes para o céu... Engulo a seco, tentando ignorar a atmosfera em meu entorno e focar nos preparativos.

Devo confiar em Erwin e em sua nova formação, afinal. O observo de longe, falando algo com Hange e Moblit enquanto Mike e Levi estão ao meu lado, terminando de checar os próprios equipamentos. Respiro fundo, acalmando os nervos e convencendo a mim mesma de que somos, de fato, um esquadrão de elite e que podemos proteger aos outros e a nós mesmos. A voz de Erwin me tira dos meus pensamentos e anuncia que é hora de ir, ou seja: hora do esquadrão se separar.

Troco um olhar apreensivo com os outros dois e não demora até que sou envolvida em um abraço apertado por Mike.

–– Se acontecer alguma coisa, não hesite. Volte até mim. –– Digo baixo e ele ri.

–– Você não é a única que pode bancar a maluca suicida de vez em quando. –– Mike revira os olhos e ri novamente diante da minha expressão nem um pouco contente. Ele se inclina e deixa um beijo suave no topo da minha cabeça. –– Não se preocupe, nós vamos ficar bem.

Não é preciso dizer mais nada quando ele me abraça outra vez e se afasta, desaparecendo entre a multidão enquanto puxa seu cavalo pelas rédeas. Meus olhos viajam até os de Levi e os encontram fixos aos meus, a preocupação nítida nas orbes acinzentadas enquanto ele puxa o ar para dentro dos seus pulmões com força. Sinto um nó se formar em minha garganta quando ele envolve sua mão na minha, a segurando com firmeza.

–– Não morra. E não faça nada estúpido.

Sorrio.

–– Não se preocupe comigo, Levi.

–– Estou falando sério, Sofia. –– Ele me interrompe, sua voz oscilando por um momento. –– Lá fora é...

Engulo a seco e interrompo a fala de Levi colando meus lábios aos dele de uma vez só, o pegando desprevenido. Entretanto, o garoto não recua e suas mãos se juntam, envolvendo meu rosto em um afago sutil enquanto ele respira pesado contra a minha boca. Nos separamos e o encaro por um momento, admirando suas feições enquanto Levi ainda tem os olhos fechados.

–– Vamos voltar para casa juntos. Não se preocupe, Levi.

Me afasto e me viro para Karasu, mas sou impedida por uma mão que me segura com firmeza.

–– Sofia. –– Levi me chama e me viro para ele, esperando que ele fale. Ele pisca algumas vezes, parecendo atônito, tão atônito do que quando acordou nessa manhã e me encontrou abraçada ao seu torso desnudo. –– As coisas mais importantes, não...

–– Não vou esquecer. –– Completo sua frase para ele e sorrio, segurando as rédeas de Karasu com força. –– Nos vemos lá fora, Levi. Cuide da Quatro-Olhos.

O Rouxinol - L. AckermanOnde histórias criam vida. Descubra agora