"Amare quod quaeritur bonum est, sed melius quod non quaeritur."(O amor que se procura é bom, mas o que não se procura é melhor)
— William Shakespeare
Ador
Meu corpo parecia ter sido triturado, um olho estava fechado, tinha certeza que quebrei pelo menos três costelas e tinha sérias dúvidas se voltaria a enxergar pelo meu olho direito, amarrei a minha mandíbula com a resto dos panos das minhas vestes assim que a reposicionei. Mas minha maior preocupação era o que o monstro do meu primo faria com Kassandra. Diferente do que todos ao meu redor pensam eu não estava me arriscando nesse golpe suicida, porque queria algum dia ser Imperador.
Eu almejava sim algo que pertencia a Mardok, na verdade alguém. Kassandra. Eu a vi assim que trouxeram as escravas para Assur, pus meus olhos nela muito antes do meu primo demônio, estava espionando os arredores para meu pai e a vi sair da jaula toda suja e machucada, mas seus olhos... Olhos de mar, além de um horizonte que me fizeram aspirar por uma vida que nunca tive. Tão belos e inocentes, vi neles minha redenção, meu pouso.
Passei a segui – la discretamente desde então, bebendo de sua imagem bela, admirando sua graça mesmo com toda a adversidade, mesmo tendo que lidar com o amargor de Mardok. Vê – la era um bálsamo para toda a sujeira que fazia, as mentiras, as intrigas tudo se perdia em um vácuo quando identificava as cores celestiais de seus olhos.
Mardok não a merecia.
Eu sabia que meu primo tinha passado por muito em sua infância, lutado pela sua dignidade e isso o fez ter uma casca tão dura quanto a de um demônio. Mas ele não merecia Kassandra, nem eu a merecia, a pequena para mim era um oásis quase inatingível.
No começo achei que era desejo por isso passei a persegui – la. Mas senti meu coração se estilhaçar quando meu primo a tomou como concubina. Eu a vi correr por entre os corredores do palácio, seminua, suja e humilhada. Eu vigiava tudo disfarçado de servo, eu era conhecido como um camaleão.
Quando a vi chorar destroçada decidi fazer parte das artimanhas de Alaha, meu pai para assim quem sabe resgatá – la dessa vida, eu só conseguiria lutar com meu primo com reforços ou ajuda, Mardok não era só tido como um demônio, ele era a personificação de tal. Mas então, o imperador foi mudando, cedendo a menina. E eu vi a única mulher que desejei, desabrochar para o amor pelo homem que a violentou, eu a vi abrigar a semente desse monstro e a amar... Assim como amava a ele.
Destruído...
Resignei – me a tentar pegar algumas migalhas da sua atenção, a me aproximar sorrateiramente, os homens Uard amavam apenas uma vez e amavam intensamente. As vezes da forma errada como meu pai e o pai do meu primo. Uma vez ouvi minha mãe desabafar quando ainda era viva ela dizia que amar um homem Uard era padecer no inferno sendo castigada por Eresquigal pessoalmente, porque amamos errado. Porque somos um erro dos Deuses.
Eu não queria ser esse tipo de homem para Kassandra. Se um dia ela pudesse me olhar com amor...
Na minha mente eu queria aquela menina tão inocente e jovem feliz, queria que ela vivesse plenamente, queria ofertar a ela a vida simples e descomplicada que eu sabia que ela almejava, infelizmente a minha aproximação trouxe para Kassandra mais ódio e dor. Cai nas artimanhas de um plano que não era o meu, fui tolo deixei minha vontade de ter meu pedaço de paraíso transpor a segurança do que me é mais caro.
E agora eu padecia em uma cela imunda esperando o meu fim, eu só clamava aos Deuses que o demônio poupasse Kassandra e a sua cria, que acreditasse nela, que a perdoasse mesmo não havendo traição alguma. Que a cria dela continuasse viva em seu ventre, mesmo tendo sido concebida pelo imperador, era parte daquele pedaço de oásis que me atrevi a desejar. Então eu queria a criança tanto quanto a ela.
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Da guerra ao Amor
DiversosNo início das guerras, forjado no calor da batalha, sem nenhum tipo de pudor, onde a violência impera e o sangue é mais fácil de ser achado do que água perecerá dois destinos, escolhas surgirão, decisões precipitarão tragédias e onde a vontade de...