"Solus amor meus, progenitus unicus odi! Nimis cito vidi eum, nomen ignorans, et sero cognovi quisnam sit." (Meu único amor, nascido de meu único ódio! Cedo demais o vi, ignorando-lhe o nome, e tarde demais fiquei sabendo quem é)
— William Shakespeare
Kassandra
Eu estava viva!
Eu estava viva, mas não queria estar...
Ouvia os barulhos ao meu redor, mas relutava em abrir meus olhos. Eu não queria encarar a realidade, tinha muito medo de acordar e a minha maior perda, a minha maior dor ser concretizada. Eu não suportaria. A contragosto abri meus olhos, a luz do dia ferindo minhas vistas. Vi ainda meio tonta Ninsina aproximar – se.
— Se...nhora Nin...sina a minha... A minha crian...ça — Falei com dificuldade. Minha voz estava diferente, rouca, sentia minha cabeça latejar e meu corpo todo dolorido. A senhora Ninsina evitava olhar – me nos olhos. Meu coração saltitou errático. Por favor, não. Que o sonho não tenha sido real, minha menina. Minha filha, minha única família.
— Mi...nha cri..ança... — Repeti minha fala. Eu queria que alguém me dissesse que tudo ficaria bem. Que a minha Alba estava segura em meu ventre, mas sentia – me vazia.
— Kassandra... — Vi a senhora engolir em seco — A sua criança infelizmente não está mais contigo. — Ela segurou – me a mão enquanto eu processava suas palavras.
— Não... — Sussurrei.
— Não... Se..nhora... Minha Alba. Diz que ela ainda está aqui... Me diz que ela se encontra ainda dentro de mim. Senhora... — Comecei a sentir muita falta de ar.
— Menina, por favor, se acalme precisa se recuperar ficastes cinco dias desacorda... — Ela falava, mas eu não conseguia ouvir. Tudo que eu conseguia pensa era na minha filha perdida, na minha amada criança... Filha das minhas entranhas, meu mais profundo e verdadeiro amor não existia mais. Eu estava sozinha novamente.
— A minha filha, minha Alba, eu quero a minha criança. A minha criança... Se... nhora. — A olhei ainda com esperança dela dizer – me que minha Alba ainda estava comigo.
— Kassandra... Eu sinto muito. — Não sei de onde tirei forças, mas levantei – me em um rompante apoiando – me na cabeceira da cama. Olhei ao redor desesperada, sem rumo, sem vida, tão morta quanto a minha filha e gritei minha dor. As lágrimas embaçando ainda mais a minha visão.
— NÃO... NÃO... NÃO... MINHA MENINA, EU QUERO A MINHA FILHA. ELA É TUDO QUE TENHO, MINHA ÚNICA FAMÍLIA... MINHA ALBA... MINHA LINDA MENINA... EU QUERO FICAR COM ELA. PRECISO FICAR COM A MINHA FILHA. — Meu corpo frágil desabou no chão junto com Ninsina que chorava comigo.
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Da guerra ao Amor
AléatoireNo início das guerras, forjado no calor da batalha, sem nenhum tipo de pudor, onde a violência impera e o sangue é mais fácil de ser achado do que água perecerá dois destinos, escolhas surgirão, decisões precipitarão tragédias e onde a vontade de...