N/A: Eu releio, mas não tenho beta. Então podem encontrar eventuais erros. =D
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Hogsmeade | 1977
Ana abriu os olhos com o solavanco do trem. Ainda sentia o gosto salgado do choro que a embalou até dormir. Se espreguiçou e levantou, olhando-se no reflexo da janela. A noite ia escura do lado de fora, permitindo a jovem olhar seu uniforme sóbrio e os cabelos desarrumados.
Jogou as ondas cheias para trás, vestindo um casaco vinho, e deixando os fios escuros caírem até o final das costas. Pegou sua mala e engoliu em seco. O trem estava vazio, poucos bruxos saindo, sem ideia de sua existência.
A luz clara, no corredor do trem, a incomodou. Cerrou os olhos e seguiu seu caminho. Ao sair para a estação de Hogsmeade seu coturno surrado, que sua avó odiou desde o primeiro segundo que viu, a salvou de escorregar no chão molhado. Desde que pisara no Reino Unido houveram muitos dias úmidos e quase nenhum dia de sol.
Enfiou a mão no bolso da saia do uniforme e pegou o bilhete de sua avó. Ela deveria procurar o guarda-caças Rubeus Hagrid. Enquanto olhava em volta, afrouxou a gravata azul escuro. Apesar da chuva, o vento do final de verão a deixava desconfortável.
O apito do trem soou e a fumaça continuava a fechar a visão de todo o local. Obviamente estava longe de Londres, pois o cheiro de mato e natureza eram marcantes, mesmo com a fumaça do trem.
Uma sombra alta se aproximou em meio a fumaça e Ana sentiu os ombros tencionarem. Se perguntou se alguém sabia de sua chegada ao país e enquanto milhares de pensamentos ruins cruzavam sua mente, agarrou sua varinha, pronta para o pior.
Um homem enorme e barbudo, mas com um olhar doce, acenou para ela, mas o coração de Ana estava muito acelerado para que saísse da posição hostil.
ー Menina Thomas! - Sua voz ressoou forte e Ana abaixou a varinha levemente ao som da risada dele. O olhar dela correu rapidamente pelo homem, notando um broche da escola em suas vestes. - Dumbledore, o diretor, me enviou para levá-la até escola.
ーVocê é... - Olhou para o papel e de volta para ele - Rubeus Hagrid?
ーSim! Está atrasada, as aulas começaram faz uma semana! - Ele riu e Ana finalmente relaxou, guardando a varinha. O homem pareceu perceber sua gafe e engoliu em seco - Digo... Nas suas circunstâncias, tudo bem perder alguns dias! Sinto muito. - Ele pareceu genuíno ao prestar os sentimentos.
Ana o encarou longamente, num silêncio constrangedor que fez Hagrid corar. Ela sentiu vontade de sair correndo, de fugir, mas isso era o que ela teria feito antes e nada do que fez antes resultou em algo bom. Sorriu para ele, sabendo que o homem tinha boas intenções.
ー Obrigada por me buscar, senhor Hagrid. Sou Ana Thomas Esposito. - Esticou a mão e o guarda caça aceitou seu cumprimento. Sua mão sumiu quando a dele a tocou e Ana agradeceu quando Hagrid pegou seu malão.
Chegando nas carruagens, a jovem observou os Testrálios que as puxavam. Seu coração apertou ao lembrar do que seu pai dizia sobre eles. Eram gentis e solitários, amavam carne crua e voavam de maneira majestosa.
ー Vai gostar muito de Hogwarts, menina Thomas. Seu pai era muito gentil. Você se parece mais com a sua mãe, mas seu sorriso é como o dele. - Subiram na carruagem e Ana sentiu o coração apertar.
ーConhecia meus pais?
ーBem, eu fui ao casamento do Thomas. Ele era o melhor da Corvinal e amava criaturas mágicas, então fez amizade comigo fácil. Um dos corvinais mais gentis que passou por essa escola. - Ana sorriu de leve, a descrição parecia mesmo a de seu pai . - Na verdade, ele não me deixava em paz e tive que salvá-lo de muitas encrencas na floresta. - Hagrid soltou uma risada forte e Ana sorriu junto, tentando conter as lágrimas.
ー Já sua mãe, bem. Não a conheci profundamente, mas era genuinamente gentil. Ele se mudou para o Brasil e a conheceu! Mulher admirável, única bruxa da família! O casamento deles foi espetacular. Mas deve saber melhor que eu! Como ele não falava uma palavra de brasileiro e ela o salvou de entrar nos becos errados. Thomas estava sempre perdido nos próprios pensamentos e vivia se perdendo de verdade.
Ana conteve o instinto de corrigir o homem, ele estava sendo muito gentil e não queria constrangê-lo. Pelo menos ele não tinha falado que o idioma de seu país era espanhol, como os colegas de sua avó paterna.
ー Ele nunca falou de mim? - Hagrid perguntou curioso. Ana negou e engoliu em seco.
ーEle nunca falou muito dos tempos de escola ou da Inglaterra. Mas acho que me lembro de seu nome algumas vezes. Pensei que era aluno também- Encolheu os ombros e Hagrid assentiu, sorrindo emocionado.
ー Seu pai era um homem bom. - Hagrid mudou de assunto depois do silêncio de Ana e deu dicas para ela sobre a escola. -[...] E não entre no lago a noite. A lula gigante é muito brincalhona. - Riu - Mas tem jeito de esperta, não fará tolices como certos alunos que conheço. Você provavelmente vai para Corvinal, o fruto nunca cai muito longe da árvore, afinal. - E continuou seu agradável monólogo.
Ana queria falar mais, mas não tinha condições mentais para interagir naquele momento. Estava muito esgotada. Seu pai tinha sido da Corvinal, sua mãe estudou na Castelo Bruxo. Não sabia o que esperar para si, tinha sido educada em casa, fazendo escola trouxa e aprendendo magia com seus pais. Viajam muito para que se estabelecesse em um só lugar.
Ao avistar o castelo abriu a boca, sem conseguir conter a surpresa. Era um local enorme e a lembrava de desenhos da Disney. Piscou, pensando em seu pai, imaginando como foram os sete anos dele ali dentro. Suspirou, o peito apertado e o canto dos olhos molhados.
Seu coturno batia sem parar no assoalho da carruagem enquanto imaginava o quanto seria difícil ser o que sua avó tinha lhe pedido. Mas ela precisava, ela devia isso pelo o que causou.
Engoliu em seco. Tinha quase 17 anos, prestes a atingir a maior idade bruxa, não podia mais ceder aos impulsos e fazer coisas idiotas. Ela precisava de uma nova personalidade e ser aplicada. Ficar longe das pessoas parecidas com ela e se espelhar em alunos exemplo. Quando a carruagem parou, Ana se questionou se conseguiria.
ー Bem vinda a Hogwarts, menina Thomas! - Hagrid bradou com um entusiasmo que a contagiou. Ela sorriu para ele enquanto a ajudava a descer da carruagem. Ana não conseguia parar de olhar para o castelo - Isso mesmo, sorria mais assim e fará muitos amigos! Você vai amar.
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Burn with me please
FanfictionQuando Ana chega em Hogwarts, traumatizada com uma tragédia na família, tudo que ela quer é esquecer seus erros e se livrar da culpa. Disposta a fazer tudo que sua rígida avó pede e com medo de entrar em contato com seu eu do passado, ela tenta con...