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Hoje faz exatamente 5 dias, 3 horas e alguns minutos desde que minha vida acabou

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Hoje faz exatamente 5 dias, 3 horas e alguns minutos desde que minha vida acabou. Você pode achar um exagero, afinal, eu não morri… Ainda. 
Fazia 5 anos que eu e o Bernardo estávamos juntos, tínhamos um relacionamento conturbado, é claro, mas quem não tem, não é mesmo? Eram altos e baixos, mas tenho certeza de que os altos compensavam os baixos, assim como tinha certeza de que Bernardo era completamente apaixonado por mim. Foi muito impactante, é claro, ver ele aos amassos com minha melhor amiga, NA MINHA CAMA. Uma traição dupla, agora não tenho nem namorado, nem melhor amiga, nem ninguém com quem eu possa conversar sobre o fim da minha vida. 

  Eu nunca fui uma pessoa rodeada de amigos, é claro, e por isso essa traição me machucou ainda mais. Eu sempre fui muito seletiva, e a Alice, era a única que havia sobrado, digamos assim, minha família é distante, minha mãe acha que depositar um dinheiro para eu pagar minhas contas todo mês é o suficiente para ser uma boa mãe, mas o Bernardo sempre me ajudou muito, ele sempre me mostrou que eu não precisava deles, eu não precisava da minha família distante, nem dos amigos falsos, eu tinha nele tudo o que eu precisava, eu tinha nele, o rumo certo para a minha vida, ele era o único que esteve ali, para mim cada dia dos últimos 5 anos, mas agora não está mais.

  É difícil ver a vida parar de fazer sentido assim, de uma hora para outra, até semana passada, eu era cheia de planos e desejos. Um futuro todo planejado ao lado dessa pessoa que quebrou meu coração, e agora, eu só não tenho mais nada para fazer da minha vida, eu estou sozinha, sem rumos e sem objetivos, sem emprego, com uma família que não fala comigo, e uma “amiga” com quem a pessoa que planejei a vida está morando, não tenho trabalho, a faculdade tranquei, fazem duas que eu não como, eu não durmo, eu já não sei fazer nada além de chorar, eu implorei, implorei para ele ficar, mesmo após pegar os dois juntos, eu implorei para que ele não fizesse isso comigo, mas ele não pensou duas vezes. A ideia do que fazer me brotou do nada, como um pequeno pensamento num mar de outros pensamentos. “E se eu morrer” pensei, logo ele se estabeleceu e foi ficando mais forte. Eu já não tinha motivos para rebater esse pensamento, não tinha nada que fizesse essa não ser uma boa ideia. E dentre minhas possibilidades de futuro, acaba sendo fácil decidir o que fazer em seguida.

Saio de casa, já sabendo meu destino, sabendo que não vou mais voltar, não deixo uma carta, afinal, para quem eu deixaria? Nem animal de estimação tenho, pois o Bernardo nunca gostou. Eu realmente não tenho nada me prendendo, ainda assim me permito me despedir de casa e trancar aquela porta uma última vez, antes de ir rumo ao viaduto, onde destruirei por fim essa casca vazia, esse ser que já está despedaçado. Atravesso ruas, sigo caminhos, vou passando por tudo no automático, sem olhar para os lados, sem ver nada de verdade, focando sempre no objetivo, sem medo, sem dúvidas, apenas a certeza de que tomei a melhor decisão que poderia ter tomado. E quando finalmente chego, e paro em frente ao viaduto, eu me permito olhar para o horizonte, olhar para os carros passando em alta velocidade lá embaixo e olhar para o céu, para o sol já morrendo no horizonte, lágrimas descem pelo meu rosto, e por um minuto a coragem me deixa, mas não é hora de chorar, não é hora de ter medo, essa é a hora de aceitar, que eu não farei diferença no mundo, que eu não farei falta, que sou só um floco de areia nessa imensidão. Eu penso, penso em tudo que planejei para minha vida, em todo o futuro que estava nas minhas mãos e eu estou jogando fora, tudo o que eu sempre quis, meus sonhos, planos, que nem todos envolviam o Bernardo, como, por exemplo, a faculdade de psicologia, que tranquei, por que não aguentava mais o Bernardo reclamar que eu não tinha tempo para ele, que a faculdade me ocupava demais, e que eu nem era boa naquilo, lembro dele falando que a melhor coisa que eu podia fazer era deixar aquilo para trás… Bem, no fim, ele tinha razão, que tipo de psicóloga é essa que tenta se matar? Eu realmente seria péssima. Mas agora já não faz diferença, eu aceitei finalmente o meu destino.

  Logo, eu crio uma nova coragem, baseada em todas as minhas certezas. Preciso acabar com tudo, isso acaba aqui. 

E então eu…

— Mellanie?

Olho para o lado e vejo Isabel, uma antiga colega da faculdade, droga. Preciso me livrar dela rápido, ela não pode saber o que está acontecendo ou vai tentar me impedir, e se eu não me livrar rápido dela, posso acabar perdendo a coragem que demorei tentando reunir.

— Oi, Isabel né? Quanto tempo! — Falo, sabendo que ela odeia ser chamada de Isabel.

— Pode me chamar de Bel, pois é, você sumiu, menina, o que você está fazendo?

— Agora? Estou aqui… É… Eu ia… Sabe… — Nesse momento, um suor gelado me desce pela espinha, será que ela percebeu? Sou tão óbvia assim? Bem, talvez seja fácil de ligar os pontos, não fui exatamente discreta, mas ainda assim…

— Não, sua boba, o que você está fazendo da vida? Está trabalhando? Fazendo faculdade? Casou?

— Não, não estou fazendo nada da vida, na verdade. — Nem respondo sobre o casamento, essa é a última coisa em que quero pensar no momento. 

— Você devia voltar para a faculdade. Dava para ver que você seria uma ótima profissional. Não sei por que você parou, mas eu sempre achei que o curso era tão sua cara, e parecia que você gostava tanto, como se tivesse sido feita para isso.

Seguro as lágrimas que ameaçam cair, será? Será que eu tinha mesmo um futuro e só fui cega pela visão distorcida do Bernardo? Será que estou fazendo a escolha certa? Nem noto quando a coragem vai embora, nem percebo que sai conversando com Isabel e já estou quase na frente da faculdade, e só depois de muito tempo percebo que meu peito já não dói tanto quanto antes.

Paro na frente da faculdade com a Isabel, eu me sinto mais leve, mais calma, e nesse momento tenho a certeza de que eu estava errada, que aquela não era a última vez que eu saia pela porta da minha casa, talvez eu mereça uma segunda chance.

— Até mais Bel, foi bom ver você! 

— Até mais, Mel, foi ótimo mesmo! E Mel, não volta para lá não, tá! Estou aqui se precisar de ajuda, se precisar de conversar, sei que não somos tão íntimas, mas às vezes a gente só precisa de uma conversa!
  

— Até mais, Mel, foi ótimo mesmo! E Mel, não volta para lá não, tá! Estou aqui se precisar de ajuda, se precisar de conversar, sei que não somos tão íntimas, mas às vezes a gente só precisa de uma conversa!  

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Meu querido professor [Em Revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora