X - Isabela Flores.

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Não esperava que Sophia fosse contar seu pequeno segredo para Taylor, pelo menos não agora. Seu estado frágil ontem estava visível para qualquer um com um par de olhos funcionais, seria compreensível caso ela escolhesse esperar um pouco, no entanto entendia seus motivos. Qualquer relação sólida é construída sobre confiança e respeito. A reação da loira baixinha com toda certeza foi uma grande surpresa até mesmo para mim, Taylor é fora de qualquer padrão, nunca se sabe como e qual será a atitude dela e com toda certeza é o que mais gosto nela.

Sophia parecia ter tirado um peso colossal das costas, a felicidade dela era clara, irradiando a sua volta. Agora ela tinha onde se apoiar para se livrar das investidas da ex-namorada obcecada. Aurora deu com os burros n'água com sua tentativa pífia de fazer Sophia voltar para ela, nada mais justo do que fazê-la sentir o gostinho do próprio veneno. Peguei na mão de Sophia para afrontar, mostrar que não tenho medo dela e não sairia correndo. Duvidava que Aurora Valentim fosse tirar o time de campo tão fácil, mas agora ela sabe onde está mexendo e se ela quiser entrar em uma guerra, vai ser por sua conta e risco.

Agora precisava limpar minha mente e meu corpo de toda a tensão e concentrar no que viemos fazer aqui hoje. Sentei debaixo do carvalho mantendo as costas apoiada no tronco. Sophia estava bem a minha frente me encarando com aqueles olhos azuis luminosos por de trás das lentes dos óculos de grau.

- Se você tem sentidos aguçados, porque usa óculos? – Minha pergunta não tinha nada a ver com projeção astral, mas era uma dúvida legítima.

- Sou fotossensível, não vejo muito bem durante o dia, luz muito forte faz doer meus olhos. – Por reflexo ela arrumou os óculos no rosto, as pupilas verticais não passavam de finas linhas quase perdidas no mar azul das írises. – Podemos começar?

- Só mais uma pergunta, prometo. – Estava protelando, já pratiquei tanto sem obter nenhum sucesso que começava a duvidar se realmente conseguiria.

- Pergunte, mas será apenas essa. – Ela arqueou uma das sobrancelhas como se tivesse capitado minhas intenções.

- Naquele dia no refeitório, quando você veio se apresentar como nossa tutora, você ouviu os comentários da Taylor?

- Tinha muito barulho aquele dia... – Ela coçou a nuca, isso mais o rubor que ascendeu em suas bochechas eram respostas suficientes. Sufoquei uma risada imaginando como Sophia deve ter ficado acanhada, e ainda assim ela conseguiu parecer perfeitamente composta. –Não conte a ela, não quero constrangê-la.

- Foi o que pensei, não se preocupe. – Pigarreei limpando a garganta e engolindo o riso. – Certo, acho que não tenho mais escolha, vamos começar com isso.

- Lembra do que falei ontem, relaxe, não se force e principalmente lembre-se que estarei aqui cuidando do seu corpo físico. Leve o tempo que precisar, okay?

- Vou tentar. – Seja o que tiver de ser.

Fechei os olhos e tentei diminuir o ritmo da minha respiração até que ficasse regular e não passe de um ruído de fundo quase inaudível. Esvaziar a mente foi o mais complicado, muita coisa rondava ainda, o fato de ter estado sonhando com Sophia mesmo sem a conhecer era o maior ponto de interrogação. Não tinha coragem para entrar no assunto ainda, precisava entender primeiro antes de mais nada. Continuei persistindo lutando contra qualquer pensamento invasor, não sei quanto tempo fiquei assim, a única coisa certa é que sentia não estar tendo progresso algum. Resolvi que era hora de fazer uma pausa, abri os olhos encontrando Sophia deitada com as pernas cruzadas, um dos braços atrás da cabeça enquanto estava concentrada lendo um livro.

- Melhor descansar um pouco. – Falei, mas ela não moveu um músculo parecia não ter me ouvido. – Sophia. – A chamei novamente, mais uma vez sem resposta. – Tá me sacaneando, só pode. – Fiz menção de levantar me dando conta de que não sentia minhas pernas, não como se estivessem dormentes, como se não estivessem ali. Olhei para baixo e quase morri de susto, meu tronco estava todo translúcido, chequei minhas mãos percebendo que estavam da mesma forma. Dei uma olhada em volta dando de cara comigo mesma sentada, de olhos fechados parecendo dormir. Isso só podia significar uma coisa... consegui! Consegui finalmente carajo!

Série magos - Casters, incontroláveis.Onde histórias criam vida. Descubra agora