Série magos - Casters, incontroláveis.

Epilogo

Tenho estado tão perigosamente perto de alcançar meus objetivos, que me senti magnânima o suficiente para presentear Juan com minha presença em um de seus experimentos clandestinos. Preciso admitir que pensei que essa maluquice dele de roubar magia caster não fosse mesmo a lugar algum e que muito menos usar o ex-diretor da academia de magia como isca fosse funcionar, no entanto aqui estamos. Quem poderia imaginar que a filhinha do Rafael Johnson e suas amigas tivessem tão pouca noção de autopreservação? E ainda trouxeram mais dois junto com elas, este circo todo está me saindo melhor do que a encomenda, talvez devesse ter trago pipoca.

No presente momento estava em uma sala no andar superior assistindo tudo o que se passava no porão através de monitores que captavam a transmissão de câmeras escondidas no pequeno cômodo empoeirado. Essa era outra das esquisitices do mago por trás dos espectros, o homem gostava de gravar enquanto fazia suas vítimas gritarem enquanto roubava a magia delas. É um tanto sádico para mim, no entanto quero ter certeza de estar cortando essas pontas soltas. Os velhos da Ordem estão obcecados por essas três adolescentes e não vão baixar a guarda enquanto o assunto não for encerrado de uma vez por todas.

Esperava que Juan não fizesse besteira logo agora, ele está com a faca e o queijo na mão, não há margem para erros aqui, não admitirei que o faça. Fiz a cadeira giratória girar em seu próprio eixo enquanto o mago guerreiro continuava a tagarelar seu discursinho tolo.

- Você bem que poderia ir direto ao ponto, não é mesmo? – Olhei para o corpo inerte do mesmo mago sentado em uma posição de yoga não muito longe de onde eu estava. Sabia que ele não estava me ouvindo, a consciência dele estava atrelada a um espectro, o corpo aqui não passava de uma casca vazia nesse momento.

Retornei a atenção para o monitor bem a tempo de ver o momento que ele escolheu sua primeira vítima. Os gritos do homem chegaram até mim misturados com estática e outros ruídos. Ah sim, ele tinha razão, definitivamente essa é a melhor parte, sorri contemplando os rostos horrorizados dos outros que procuravam uma maneira de parar o inevitável.

Porém, outra coisa chamou minha atenção e fez meu riso desaparecer na mesma velocidade que iniciou. Uma das garotas estava calma demais, ela estava claramente passando instruções para os outros que a ouviam deixando o pânico que estavam sentindo antes diminuir, logo após ela fechou os olhos não esperando para ouvir o que as outras duas garotas tinham a dizer. Não precisei de muito tempo para deduzir o que aquela pirralha estava tentando fazer, embora não soubesse como aquela criança poderia ter esse tipo de conhecimento.

- Não mesmo filhote, você não vai atrapalhar. – Peguei meu celular na bolsa sobre a mesa e disquei. Dois toques depois fui atendida, não esperei a pessoa do outro lado da linha falar. Não havia tempo para papo furado. – James, mande seus magos guerreiros entrarem, agora! – Não sou idiota, não vim para os confins da Alemanha despreparada, casualidades sempre podem acontecer.

Mais uma vez minha intuição se provou certa, no momento que o barulho da porta da frente sendo aberta pelos meus magos soou pelas paredes da casa, as amarras dos prisioneiros se desfizeram. Encarei o corpo físico de Juan vendo que sofria espasmos ao mesmo tempo que espectro no porão soltou o caster guinchando como se estivesse sentindo uma dor excruciante. O idiota estava tendo dificuldades no plano astral e poderia colocar tudo a perder. Não podia permitir que esses dissidentes fujam, Juan falou demais em seu discursinho.

Pela tela de monitoramento assisti as duas garotas cambalearem até a outra que permanecia inerte, que terno certeza que está conjurando sua forma astral enquanto os dois adultos ajudaram o homem que estava tendo a magia sugada minutos atrás. Todos pararam o que estavam fazendo quando ouviram a chegada dos meus magos guerreiros.

A agitação se fez presente no pequeno espaço do porão até que o ex-diretor e a mulher asiática que apoiava o mago que parecia apenas meio consciente tomaram uma decisão, não antes de enfrentar a resistência das duas garotas mais novas, os dois adultos não demoraram para rechaçar os argumentos das duas, então os cinco saíram do espaço deixando a garota e Juan para trás. Obviamente eles iriam querer ganhar algum tempo, isso não iria acontecer, não no meu turno. Novamente peguei meu celular e fiz uma segunda ligação.

- Quero que a segunda equipe entre, invadam pelos fundos, mandem um de seus homens para a sala adjacente a sala de estar e destruam toda e qualquer gravação e provas que nos liguem a essa bagunça, um segundo mago deve me esperar na porta do porão. – Não esperei pela confirmação, apenas encerrei a chamada e levantei da cadeira giratória. Pelo canto dos olhos percebi que o corpo do mago que permanecia em projeção astral estremeceu com mais força, pela tela vi o momento em que a garota no porão começou a emitir um brilho dourado, primeiro as mãos, depois o corpo todo e então houve um clarão e ambos caíram no chão. O espectro controlado pela projeção astral desapareceu como se nunca estivesse estado ali. – Ora, isso foi interessante. – Caminhei até o corpo caído de Juan, os membros frouxos pareciam pertencer a uma boneca de pano. Os olhos castanhos do mago estavam abertos fitando o nada, uma expressão de choque gravada no rosto agora pálido. Abaixei para checar o pulso, não foi surpresa não achar um batimento sequer. Ele estava inegavelmente morto. – Por essa eu não esperava. – Mordi o lábio inferior pensando no que deveria fazer agora, isso definitivamente não estava em meus planos.

Aquela garota mostrou ter um diferencial que eu poderia usar ao meu favor de algum jeito, supondo que ela tenha sobrevivido. Oh sim, pessoas sempre podem ser manipuladas, basta puxar a corda certa, encontrar um motivador e pronto eles se tornam maleáveis. Levantei e voltei para a mesa onde estavam os monitores checando o porão, a garota continuava caída.

- Senhora. – O mago guerreiro que solicitei finalmente chegou. – Em que posso ajudar? - O jovem que deduzo ter acabado de se formar na academia fez uma pequena reverência e continuou esperando minhas ordens.

- Não deixe nada comprometedor para trás, se livre do corpo também, não me é mais útil. - Coloquei o sobretudo branco o abotoando até o último botão, calcei as luvas e por último peguei minha bolsa. Marchei para fora do recinto saindo em um corredor longo, podia ouvir o som da batalha se desenrolando em algum lugar do lado de fora. Ainda tenho tempo, não me importo com nenhum daqueles cinco magos, nem mesmo Rafael é digno de minha atenção. Posso encontrar uma maneira para apaziguar a Ordem, não demorará muito para que os tenha em minhas mãos.

Desci um pequeno lance de escadas até chegar a porta do porão onde encontrei o segundo mago guerreiro à minha espera. Outro jovem em treinamento, esses são os melhores, tão facilmente manipuláveis, basta fazer alguns elogios e eles se derretem como filhotinhos depois de um carinho na barriga. O mago abriu a porta para mim e esperou que eu entrasse primeiro. O porão empoeirado estava silencioso e poderia até estar vazio se não fosse pelo corpo perto de uma das paredes.

O ruído produzido pelo solado de minhas botas era o único som ali, abaixei ao lado da garota, afastei os cabelos castanhos que cobriam seu rosto revelando a face jovem mal saída da adolescência, quem diria que essa garotinha neutralizou um dos meus magos mais poderosos e promissores? Juan podia ser um idiota flastrão com alguns parafusos soltos, mas era poderoso e sedento por agradar. Precisaria substituí-lo agora. Como fiz com ele chequei o pulso dela. O pulsar ritmado em sua carótida se encontrou com as pontas de meus dedos.

- Está viva. – Sorri com a pequena janela de oportunidade que se abria. – Pegue-a, vamos levá-la. – Levantei abrindo espaço para o mago pegar a garota e a colocar sob um dos ombros.

Saí daquele lugar decadente pela porta dos fundos, não iria correr o risco desnecessário de encontrar com os dissidentes. Minha presença ali deveria permanecer desconhecida, não vim até aqui apenas para ter tudo o que venho construindo desabar. Um SUV completamente escuro estava à minha espera não muito longe, um mago mais velho que havia ficado de guarda se apressou em abrir a porta traseira para mim. Me acomodei no banco de couro macio. A garota foi colocada deitada no assoalho do carro. Descansei o queixo sobre meu punho e a encarei ignorando o solavanco que o veículo fez ao entrar em movimento. Era uma bela visão, meus inimigos indefesos aos meus pés, ainda assim tinha uma questão a resolver.

- O que irei fazer com você, querida?

------- Fim do segundo ato -------

***

Olá meus amores!!! Como estão?

E aqui terminamos a segunda parte desta empreitada, a vilã mostrou a cara,  agora as coisas vão ficar mesmo sérias, revelações virão, corações serão partidos, amores descobertos, obsessões adquiridas. Gostaria muito de ter vocês comigo, topam? Nos vemos em breve meus amores