Série magos - Casters, incontroláveis.

XVII - Sophia A. Green

Após Isabela sair da cozinha ainda fiquei algum tempo parada no mesmo lugar esperando meu corpo voltar a se comportar da maneira correta. Pelo visto não importa quantas vezes sinta o cheiro dela, sempre serei avassaladoramente afetada. Desde jovem aprendi que meu olfato exerce grande influência sobre mim. Literalmente posso saber se um lugar é seguro apenas farejando o ar, cada estado de espirito emana um odor diferente, pessoas felizes cheiram diferente de pessoas com medo. Ainda há o odor característico que cada ser vivo emana naturalmente, Aurora costumava ter um odor cítrico e atrativo que depois se tornou enjoativo. Já Isabela... é doce ao mesmo tempo que é quente, me traz calma, poderia ficar horas e horas com o nariz enterrado em seus cabelos se isso não fosse completamente bizarro até mesmo para os meus padrões. E tem o cheiro da Taylor, não é como o da Isa, mas também me deixa confortável, se os primeiros raios da manhã tivessem uma fragrância seria o da Taylor, ela é como uma bela caneca de chocolate quente em um dia gelado, quente e feliz.

Sacudi a cabeça afastando aqueles pensamentos aleatórios e saí da cozinha para procurar pelas outras garotas, queria perguntar se elas gostariam de comer alguma coisa, nenhuma de nós teve tempo de fazer uma refeição antes de fugimos. Ao chegar na sala encontrei Isabela dormindo na poltrona reclinável. Taylor continuava dormindo profundamente no sofá coberta por um cobertor, restava então procurar por Aurora. Para meu alivio a garota se refugiou em um dos dois quartos e não respondeu quando chamei, sinceramente não tinha a menor ideia de como lidar com ela, pelo menos não hoje.

Entrei no quarto desocupado colocando as mochilas de Isabela, Taylor e a minha naquele cômodo, peguei uma coberta quentinha no guarda-roupa e então retornei para sala onde cobri Isa que sequer se moveu, ela estava exausta e não era para menos, a magia que ela usou para deve ter consumido muito de suas forças; não tinha sequer ideia como ela conseguiu permanecer por tanto tempo de pé, talvez tenha sido apenas por pura força de vontade. Me peguei sorrindo para as duas garotas adormecidas, era a segunda vez em um intervalo de tempo curto que meus devaneios eram direcionados totalmente a elas, talvez eu devesse ir dormir, o cansaço está me deixando mais abolhada que o habitual. Antes de ir me recolher fiz alguns sanduíches para o caso de alguma delas acordar com fome durante a madrugada.

De roupas trocadas e banho tomado me escondi debaixo das cobertas esperei o sono vir, no entanto quando fechava os olhos só conseguia rever todos os acontecimentos de hoje tentando encontrar algumas respostas, porém tudo não passava de um mar de confusão sem respostas, apenas algumas coisas começaram a fazer algum sentindo.

Há alguns anos quando meu pai contou que criou uma passagem secreta na escola que somente eu seria capaz de abrir não entendi os motivos dele, fiquei mais confusa ainda com esse apartamento encantado com escudos bloqueadores de rastreamento de magia que novamente somente eu posso ter acesso. Agora, depois que tudo aconteceu, sei que todo esse tempo meu pai estava se preparando para minha fuga iminente. Só gostaria de ter tido mais respostas, estou completamente perdida e à deriva, meu consolo é que pelo menos não estou sozinha nessa enrascada. Isabela e Taylor estão tão metidas nessa confusão quanto eu, talvez a surpresa maior foi ter a ajuda de Aurora.

A presença da garota que um dia foi minha melhor amiga e namorada e que me virou as costas me causa dúvidas, não sei o que pensar a respeito dela, talvez essa seja uma daquelas coisas que temos que esperar para ter uma resposta. Foi com esse pensamento que enfim adormeci vencida pela exaustão.

Pela manhã fui a primeira a acordar, ainda me sentindo cansada e dolorida, com toda certeza era efeito de todo o estresse, sabendo que não conseguiria voltar a dormir levantei deixando o quarto arrumado e resolvi fazer o café da manhã. Não foi surpresa encontrar a despensa abastecida, os armários também estavam cheios, geladeira e freezer seguiam o mesmo exemplo. Havia comida ali para passarmos pelo menos um mês sem nos preocupar em sair para fazer compras. Encontrei até trezentos euros guardados dentro de um pote de biscoito vazio na parte de cima da geladeira. Meu pai mais uma vez mostrava que estava preparado para as eventualidades.