VIII - Sophia A. Green

31 7 50
                                    

Desde que me entendo por gente as coisas nunca foram fáceis para mim. Para começar, nunca conheci meus pais biológicos, fui deixada na porta de um desconhecido chamado Rafael Johnson que não muito tempo depois se tornou diretor da escola preparatório de magos. Ainda muito cedo me dei conta que era diferente das outras crianças, minha aparência causava estranheza e até certa repulsa, entendo que o medo é uma forma de autopreservação, mas não quer dizer que não doa. Por muito tempo Rafael foi meu único amigo, ele quem me ensinou a controlar meus instintos e usar minha magia quando aos cinco anos acidentalmente transformei uma das suculentas dele em uma planta carnívora. Ele poderia ter ficado bravo, mas apenas riu achando graça de meu pequeno feito.

Me sentia segura no lugar que aprendi a chamar de lar, mas veio a época de ir para a escola apreender mais da magia, eu era uma das poucas crianças que teve mais instrução, era a mais adiantada da turma o que me tornou um alvo fácil. Fui excluída e agredida psicologicamente, nenhum deles tinha real coragem de fazer alguma coisa mais grave comigo, apesar ser quieta e tímida eu ainda era muito mais forte e mais rápida do que qualquer um deles, poderia facilmente fazer um grande estrago; no entanto nunca quis causar problemas nem para mim ou meu pai, pois qualquer coisa que eu fizesse recairia nas costas dele, claro que é muito mais fácil falar do que fazer.

Lembro bem da primeira vez que perdi o controle, havia acabado de fazer quatorze anos e me sentir cada vez mais estranha em minha pele. Os tremores eram constantes como se alguma coisa tentasse sair de dentro de minhas entranhas. Foi quando um garoto da segunda classe me fez tropeçar no corredor de proposito, tudo aconteceu muito rápido. Os tremores vieram com força e então sumiram, quando levantei percebi que havia garras em minhas mãos, minha audição e visão já aguçadas ficaram mais sensíveis. Só conseguia pensar em retaliação, retribuir toda minha dor reprimida, ataquei o garoto maior e o derrubei como se não fosse nada e o teria o machucado de verdade se não fosse o grito assustado de uma garota que escolheu aquele momento para sair de uma das salas de aula. Era Aurora Valentim, o pavor dela foi o que me trouxe de volta ao controle, naquela época ela já era popular, tudo o que não precisava era entrar na lista negra dela, saí o mais rápido que podia dali e passei o resto daquele dia escondida em meu quarto, daquele dia em diante comecei a evitar ao máximo os lugares com muita gente, passei a buscar abrigo nas estufas, sempre gostei de ficar perto da natureza diminuía minha ansiedade e me deixava calma.

Só não esperava que em um dia despretensioso e estranhamente calmo quando estava nas estufas colhendo e catalogando plantas medicinais Aurora viria falar comigo. Ela ficou ao meu lado parecendo muito confortável, dizia que não tinha medo de mim. Aquela garota bonita foi minha primeira amiga, dividimos segredos e sonhos, não demorou para que eu fizesse outra descoberta sobre mim. Me sentia atraída física e emocionalmente por ela, essa percepção caiu como uma bomba e entrei em desespero temendo que isso afastasse minha única amiga.

Fugi dela como um gato foge do banho, afinal, era melhor afastar do que ser afastada. Tive êxito por pouco tempo, para meu completo terror Aurora sempre foi perspicaz e terrivelmente insistente. Ela me encurralou um dia quando saí para fazer minhas caminhadas matinais e me fez confessar o motivo de estar a evitando. Foi constrangedor, eu mais chorava do que falava, foi uma completa bagunça emocional. Ao contrário do que esperava, ela não ficou enojada ou se afastou... Aurora me beijou, depois disso começamos a namorar. Pouco a pouco a personalidade magnética dela atraiu novas pessoas para a nossa volta e eu ganhei um círculo de amigos. Estava tudo perfeito, mas as pessoas mudam com o tempo e nem sempre é para melhor. A garota gentil que conheci cresceu e mudou suas prioridades, ela queria mais e mais atenção levada pela influência da família em sempre querer ser a melhor.

Eu realmente pensei que tudo ficaria bem depois que terminássemos, não aguentava mais toda aquela baboseira sobre status e poder que rodeava o nosso grupinho, mas é claro que ela não deixaria barato. Se havia uma coisa que Aurora Valentim odiava mais do que ser ignorada, é perder. Na cabeça dela eu pertencia a ela e Aurora faria de tudo para me ter de volta até mesmo quebrar suas promessas. Ela prometeu nunca usar minha condição para me causar dor, mas bastou terminarmos para esquecer de sua palavra de honra.

Série magos - Casters, incontroláveis.Onde histórias criam vida. Descubra agora